Inspeção - Josh Malerman
>> quarta-feira, 25 de setembro de 2019
MALERMAN,
Josh. Inspeção. Rio
de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 416p. Título original: Inspection.
Leio os livros
de Josh Malerman desde que Caixa
de pássaros foi lançado no Brasil. De lá para cá, li tudo o que foi lançado
do autor, embora eu não tenha gostado nada do primeiro livro. Na maior parte
das vezes, fiquei um pouco decepcionada com finais um tanto abertos a
interpretações. Contudo, gostei um pouco mais de Uma
casa no fundo de um lago. Por causa disso, meu pensamento quando selecionei
Inspeção para ler foi que, se meu
gosto pelos livros do autor veio crescendo, possivelmente esse livro seria ainda
melhor para mim. Quem sabe um favorito? Será? Vamos descobrir.
J é uma das 26
crianças que vivem em uma Torre escondida no meio de uma floresta, cercada de
pinheiros. Esse grupo de crianças é denominado “Os meninos do Alfabeto”, já que
cada um foi designado apenas por uma letra como nome. J nunca foi além daqueles
pinheiros. Nunca conheceu ninguém além de seus companheiros da Parentalidade,
como é chamado o comando por trás do internato do qual faz parte.
A intenção do
P.A.I, aquele que está no comando do internato, é formar jovens rapazes bons em
arte, atletismo e ciência, e, para que isso aconteça, para que forme garotos
excepcionais, eles não podem ter “distrações”.
O P.A.I sempre
se achou no controle de tudo e que seus “filhos” sempre seriam dedicados e
obedientes.
À medida que
vai crescendo, contudo, J (e alguns de seus amigos) começa a pensar, a
questionar, a se perguntar se a Torre e os pinheiros são mesmo as únicas coisas
que existem, e se não há algo mais, além. Não há para quem perguntar, não há
para onde ir, e quanto mais J pensa que está passando dos limites, mais acha
que tem algo sendo escondido dele e de seus “irmãos”, e quanto mais pensa
nisso, mais curioso fica. A curiosidade, infelizmente, pode ser uma coisa
perigosa.
Enquanto isso,
a cinco quilômetros da Torre onde J mora, K, uma menina que vive também em uma
torre e que também não pode ir além dos limites que cercam o lugar, está se
fazendo as mesmas perguntas que J, e começa a enfrentar as mesmas dúvidas,
dilemas, questionamentos. Mas o que está acontecendo com essas crianças? Assim
como J, K está ficando cada vez mais curiosa e essa curiosidade pode acabar não
lhe fazendo nada bem.
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De cara, percebi
duas coisas nesta nova obra de Josh Malerman: a mudança de público-alvo e a
ausência daquele ponto obscuro, daquele ser que está ali assombrando o livro, o
leitor, os personagens, e que você não entende ou interpreta como quer. Não. Em
Inspeção, a escrita é mais leve, já que é direcionada a um público mais jovem.
Não que os jovens não possam ou não consigam ler os livros anteriores do autor,
mas é que este é mais juvenil, tanto por isso que o protagonista e os demais
personagens, em sua maioria, são jovens.
Além disso, as
intenções do P.A.I estão claras ao longo de todo o livro, repetidas vezes, não
havendo, ao menos desta vez, espaço para interpretações do que poderia estar
por trás de tudo.
Mas não se
engane. À medida que a história avança, a leveza da juventude vai sendo posta
de lado para dar lugar à crueldade de pessoas que querem a todo custo manter
suas “intenções” à frente e acima de tudo e de todos.
Eu me apeguei
aos meninos, sobretudo a J. Torcia por ele a cada página, para que ele passasse
em todas as inspeções. Para que nunca fosse castigado, para que nunca fosse
para o Canto (não, não é o cantinho do pensamento, antes fosse!). Alguns
meninos são muito bonzinhos, mas alguns pouco simpáticos, estes sim eu pensava
que precisavam ficar um bom tempo no cantinho do pensamento (aquele que existe
na vida real; o do livro eu não desejaria para ninguém), para ver se aprendiam.
Consegui
imaginar J, a Torre e o P.A.I com tanta clareza, que era quase palpável, fiquei
colada no livro e desesperada para saber o que ia acontecer.
Quando K, a
menina, aparece na história, então! Fui tomada por uma agonia e desespero para
descobrir logo como tudo ia se resolver! Ela é um amor de menina, muito embora
eu tenha me identificado mais com Q. A menina B era uma covarde total, mas até
eu achar isso, eu gostava dela também, rs.
Acho válido
mencionar que os meninos e as meninas não aparentam a idade emocional que têm.
Esperava que eles, com 11 anos de idade, agissem como tal (sobretudo por serem
crianças sem qualquer contato com o mundo fora da torre e do jardim, mal tinham
contato entre si!). Contudo, eles agiam como se tivessem muito mais do que
isso.
Em determinado
ponto, quando o livro foi se encaminhando para o final, fui ficando agoniada
por outro motivo. O livro já estava nas 40 páginas finais e nada de tudo se
resolver. Tudo se resolve, na verdade, apenas nas últimas 9 páginas, e de uma
forma que até agora não me decidi se fui ou não convencida, mas, ainda assim, gostei
da história como um todo e do final, já que dessa vez, finalmente, não me senti
no escuro nem fui desafiada a interpretar como quisesse.
A última
página deixa uma certa insinuação de continuação, mas aí já é um tipo de coisa
que eu gosto, rs.
Para mim, a
interpretação mais plausível da história (não que você tenha que dar uma
interpretação ao que acontece) é a de imaginar pais superprotetores que
acreditam ser melhor isolar o filho de tudo e não deixá-lo sair pra ver o
mundo, ter contato com outras pessoas, com medo do que pode ser perigoso fora
de casa, ou do que pode distraí-lo de seu propósito, dos estudos, e estão
sempre vigiando, proibindo. Contudo, esses pais se esquecem que os filhos uma
hora crescem e começam a questionar aquilo que lhes é ensinado como verdade
absoluta, como correto, e toda essa superproteção pode acabar se voltando
contra os próprios pais.
Indico o livro
para quem gosta de distopias, de Josh Malerman, de premissas diferentes.
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Avaliação (1 a
5): 3.5