Homo tempus: O que sobrou do futuro? - F.E. Jacob
>> quarta-feira, 15 de maio de 2019
JACOB, F.E. Homo tempus: O que sobrou do futuro?. Editora SRomero Publisher, 2018.
277 p.
Imagine você, em um belo dia,
andando de bicicleta pela rua. Por um segundo, você se distrai, se desequilibra
e, ao invés de levar um tombo terrível e se esborrachar no chão, cai em um
buraco negro e vai parar em um futuro muito distante em que ainda existam
nossos irmãozinhos Homo neanderthalensis.
Imaginou? E se você fosse parar em um passado ainda mais distante, vivendo
entre eles? Imaginou também? Pois é mais ou menos esse o cenário com que nos
deparamos ao ler Homo tempus, um livro que, além de distópico e de ficção
científica, é nacional. Vamos saber mais a respeito?
Wallace é um rapaz comum que
trabalha na Biblioteca Nacional e Universitária de Estrasburgo (não, a história
não se passa no Brasil, infelizmente, apesar de o livro ser nacional). Não
curte muito o trabalho que faz e vive pulando de um emprego para outro. Não consegue
entender como as pessoas gostam tanto de ler livros antigos, mesmo com tanta informação disponível na internet.
Uma noite, ao encerrar seu
trabalho diário na biblioteca, a caminho de casa em seu costumeiro meio de
transporte, uma bicicleta, Wallace se distrai por um momento, se desequilibra
da bicicleta, dá de cara com uma luz muito forte e, quando pensa que vai ser
atropelado ou vai tomar um belo tombo, puft, cai em um buraco negro e vai parar
em um futuro muito distante, mas que, para sua surpresa, tem como habitantes
não só Homo sapiens, mas também seus
irmãos neandertais.
A Estrasburgo que ele conhecia
não existe mais. A dependência da tecnologia se tornou tão absurda, que a falta
dela, em poucos minutos, provocou um caos no mundo todo. Tudo está ainda mais
violento e a luta pela sobrevivência está mais difícil.
De repente, Wallace tem a
oportunidade de tentar entender o que aconteceu com a sociedade e, ao mesmo
tempo (e apesar dos avisos), tentar corrigir os erros que ele próprio cometeu. A
ajuda que ele vai conseguir no caminho vai ser não só surpreendente, como vai
mudar a visão que ele tem da vida de um modo geral.
Narrado em terceira pessoa, o
livro, que me lembrou bem o estilo de A
máquina do tempo, história pautada em estudos feitos pelo autor, que
declara ter lido tudo sobre sociedades antigas, economia, física, ciência
política, psicologia, biologia e diversas outras áreas do conhecimento humano.
Na história, acompanhamos o
protagonista Wallace, que se torna um verdadeiro viajante do tempo, sendo
levado a três épocas diferentes: um futuro muito distante, um passado mais
distante ainda e, em seguida, um futuro não tão distante assim, sempre encontrando
em seu caminho tanto Homo sapiens quanto Homo neanderthalensis (a razão de ainda
existir essa espécie humana, já extinta, em um futuro tão longíquo eu deixo
para você mesmo descobrir ao longo da leitura). Essa diferenciação de espécies
humanas é fundamental para o desenrolar da história, sobretudo para demonstrar
o quanto, no fim das contas, não somos tão diferentes assim dos primeiros
humanos.
Em todas as épocas em que a
história se passa, vemos um protagonista que acerta pouco, erra muito, se
precipita ao tomar decisões, bem como corrige muitos de seus erros, o que vai
construindo sua trajetória ao longo do livro.
Há muitos outros personagens
bem e mal-intencionados que tanto ajudam quanto prejudicam Wallace ao longo de sua jornada.
Tive um carinho especial por Rorn, que foi o personagem secundário que mais me cativou.
Nem o protagonista chegou tão longe.
Um ponto negativo da história é
que ela peca na superficialidade das situações de perigo que Wallace passa. Ao
mesmo tempo que pensei que iria ficar agoniada, que ia sofrer com o que estava
prestes a acontecer, a situação já era resolvida e a história seguia em frente.
Além disso, as formas como as situações se resolviam foram pouco convincentes,
ainda que em alguns casos tenha sido apresentada pelo autor uma explicação
aparentemente plausível para a resolução.
Apesar disso, a premissa é
ótima e fiquei presa ao texto na maior parte do tempo (com exceção das partes
mencionadas acima). O autor consegue fazer o leitor imaginar com clareza a
época dos neandertais e a forma precária e ao mesmo tempo livre como eles
viviam. Para mim foi impressionante e também inspirador.
É bom dizer que na história o Homo sapiens, ou homem moderno, com sua
forma “evoluída” não é melhor que seu par, Homo
neanderthalensis, pois vai ocupando e explorando cada vez mais lugares e destruindo-os
com cada vez mais força, velocidade e, claro, violência. O avanço tecnológico
que tanto nos ajuda e ao mesmo tempo nos prejudica leva o mundo todo a uma
dependência e, porque não, a um colapso, assim como o descrito no livro. Não
estamos, de forma alguma, longe de viver a realidade ficcional narrada na
história.
O desfecho é muito bacana e
astuto, me peguei sorrindo ao terminar a leitura. O livro, como um todo, nos
coloca para pensar sobre que $#@*& estamos fazendo com o planeta.
A capa deixou um pouco a
desejar, mas não se deixe enganar. Neste caso específico, não compre o livro
pela capa, vá pelo conteúdo mesmo.
Sobre o título, você deve estar
se perguntando: “Mas por que Homo tempus?” Eu explico. Se já conhecemos a
espécie Homo neanderthalensis e somos
da espécie Homo sapiens, o que dizer
de uma espécie que viaja no tempo e no espaço, conhecendo outras eras? Podemos
chamá-la de Homo tempus. Interessante
o jogo de palavras que o autor fez no título!
Indico para os amantes de
literatura nacional e, principalmente, os amantes de ficção científica,
distopia e paleontologia.
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