Carta à rainha louca - Maria Valéria Rezende
>> quarta-feira, 29 de maio de 2019
REZENDE,
Maria Valéria. Carta à rainha
louca. Rio de Janeiro: Editora Alfaguara, 2019. 143 p.
Minha
primeira experiência com livros de Maria Valéria Rezende foi com Outros cantos,
resenhado aqui no blog e que você pode ler aqui. Foi uma experiência incrível e
inesquecível, tanto que entrou para o Top 10 de 2018. Assim, foi com grande
expectativa que escolhi Carta à rainha louca para ler e fiquei ainda mais
empolgada depois que vi a capa do livro, que é de encher os olhos. Agora conto
para vocês se atendeu ou não às minhas expectativas.
Isabel
das Santas Virgens está presa no convento de Recolhimento da Conceição em
Pernambuco e não sabe mais a quem recorrer para contar toda a violência e
mazela que tem vivido, tanto ela quanto outras mulheres, escravizados, pobres.
De
repente, ela, que sabe ler e escrever, contrariamente à maioria das pessoas da
época do Brasil colônia, tem uma ideia: escreveria à Rainha Maria I, também
conhecida como “rainha louca”, afinal ninguém melhor do que uma mulher da
nobreza e também tida como louca, assim como Isabel, para entender todas as
coisas terríveis pelas quais ela estava passando.
Ela
então passa a contar, na carta, muito de sua infância, de seus infortúnios de
amor e na vida, bem como a infância de sua melhor amiga e Senhora, Blandina, e,
sobretudo, o que passou e o que fizeram os homens da Coroa a uma mulher que
ousou quebrar as regras.
Ai,
gente. Que livro! A capa é muito linda, como vocês podem ver na imagem acima.
A
narração da protagonista, em forma de carta, é feita com um vocabulário próprio
da época em que se passa a história (1789-1792), e desde o início da leitura
minha memória foi remetida ao vocabulário dos livros clássicos que já li. Essa estética
do texto foi fundamental para ajudar a entrar mais na história.
Mas
é bom alertar que, apesar de ser um livro relativamente pequeno (143 páginas),
a linguagem da narrativa torna a leitura um pouco mais lenta, pelo menos até
que você se acostume com o texto. Depois tudo flui. Pelo menos comigo foi
assim.
Para
quem gosta de História, o cenário e o contexto – o Brasil da época da colonização
– foram muito bem construídos ao longo do livro e vê-se que a autora fez uma pesquisa
muito bem feita, para mostrar, por exemplo, a forma como a Coroa portuguesa
conduzia a cobrança de impostos sobre o ouro, a condenação daqueles que
desobedeciam às ordens da Coroa, bem como para dar vida a alguns personagens,
como Diogo Lourenço de Távora, filho bastardo de uma família ilustre que
realmente existiu na época. Esse foi outro ponto positivo para a história, pois
sempre fui apaixonada por História do Brasil na escola, e ter contato novamente
com a história de nosso imenso país foi, no mínimo, bem nostálgico.
Fiquei
muito angustiada e ao mesmo tempo maravilhada com a história de vida de uma
mulher que ainda em 1789 já era muito à frente de seu tempo. Claro que, desde o
início dos tempos, sempre houve mulheres que se sobressaíram e acabaram fazendo
parte da História do Brasil e do mundo, mas acompanhar o que Isabel passou foi
uma grande experiência.
Isabel
é uma mulher que pensa, que escreve, que tem verdadeira paixão pelos livros,
que tem ideias, pensamentos “subversivos” para sua época, que se rendeu às
ilusões do amor, ainda que naquela época as mulheres fossem dadas apenas como
parte de um negócio entre famílias com um interesse comum, não havendo,
sobretudo, o poder de escolha para a mulher. Por ter tais pensamentos e
atitudes é que Isabel é tida por louca, delirante, e é por isso que se vê
enclausurada em um convento, lugar que não servia apenas para freiras, mas para
mulheres cuja honra os maridos queriam resguardar enquanto viajavam, para
meninas cujos pais julgavam estar desonradas e que, portanto, não tinham mais
utilidade. Ou para mulheres à frente de seu tempo, como Isabel.
Fiquei
revoltada com a forma como as mulheres eram tratadas na época setecentista e o
quanto evoluímos até os dias atuais. Ao mesmo tempo, fiquei muito impressionada
com o fato de que a crítica trazida pela autora se mostra tão atual, mesmo que por
meio de uma história que se passa em uma época tão distante no passado.
O
final da história, pelo menos no meu entendimento, fica aberto a
interpretações. Infelizmente, não posso dizer que interpretação dei (posso dar
spoiler demais), mas o legal desse tipo de final é justamente poder usar a
imaginação, certo?
Com
minhas expectativas 100% atendidas, posso dizer que indico o livro,
principalmente para amantes da boa e velha literatura nacional.
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