Se a rua Beale falasse - James Baldwin
>> quarta-feira, 17 de abril de 2019
BALDWIN,
James. Se a rua Beale falasse. São
Paulo: Companhia das Letras, 2019. Título original: If Beale street could talk.
Adaptado
para o cinema em 2018, com direito ao Oscar de atriz coadjuvante para Regina
King pela atuação como Sharon, Se a Rua Beale falasse chegou às livrarias em
2019, lançado pela Companhia das Letras. O livro trata de um tema que já
deveria, há muito, ter sido superado: o racismo. E não só pela adaptação, mas
também pelo tema trazido, eu já quis ler logo para saber mais sobre a história.
Já tinha lido antes o livro O quarto de Giovanni, do
mesmo autor, e, àquela época, terminei a leitura achando que precisava ler
outra obra do autor para tirar a prova. Então agora, com a leitura já concluída, deixo com vocês as minhas humildes impressões.
Clementine,
mais conhecida pelos familiares e amigos como Tish, é uma menina negra de 19
anos que é apaixonada por Alonzo Hunt, conhecido por todos como Fonny, de 21
anos. Eles se conhecem desde a infância, mas não se gostavam desde sempre. De
início, eles não se batiam. Depois de uma discussão feia, tornaram-se amigos e,
posteriormente, namorados. Perdidamente apaixonados, o sonho dos dois era se
casar o mais rápido possível e construir uma vida juntos. Mas o sonho foi
interrompido quando Fonny foi preso, acusado de estuprar uma mulher. Grávida,
Tish precisa, a todo custo, conseguir provar a inocência de seu grande amor
para que possam, enfim, realizar o sonho de terem uma família.
~~~~~~
Expectativas
nas alturas para a leitura deste livro, narrado apenas por Tish e com apenas
duzentas e poucas páginas. Iniciei a leitura me perguntando o que eu
encontraria até o final da história.
A
narrativa feita por Tish alterna entre o presente e o passado, e até mesmo os
acontecimentos com outros membros da família, bem como com Fonny, são narrados
sob o ponto de vista de Tish.
Não
foi difícil me afeiçoar à família dela e ficar em agonia pela ansiedade da
personagem pelo que poderia acontecer com Fonny. O racismo é latente e nocivo
em todo o mundo, mas é dos Estados Unidos que vem a maioria das histórias que
conheço sobre o assunto. Vemos tantos livros e filmes sobre isso que não há
como não se sentir solidária e, ao mesmo tempo, revoltada com a situação. Não é
difícil pensar, também, que essa situação ainda hoje esteja tão evidente nas
relações humanas.
Quando
a família de Tish (veja bem, não a família do próprio Fonny) decide investigar
o que realmente aconteceu para tentar livrar Fonny das acusações, fiquei
torcendo para que descobrissem logo quem foi, como foi; queria que a pessoa
fosse presa e comecei a imaginar mil e uma coisas e teorias sobre que poderia
acontecer, o que me deixou inquieta, por
causa do tamanho do livro.
E
eis que, quanto mais a história se desenrolava, mais fui sendo acometida pela
certeza de que as coisas não aconteceriam da forma como esperava, o que, neste
caso específico, acabou não sendo uma grande decepção.
Isso
porque entendi – e é bom deixar claro pra que você compreenda desde já – que o
objetivo do livro não é resolver o mistério do estupro. A finalidade da
história é abordar os problemas sociais: a injustiça, a pobreza, o racismo em si, sobretudo
na década de 70 (quando o livro foi originalmente publicado). Aborda as
consequências das escolhas que as pessoas fazem diante do dilema de se calar,
deixar passar ou enfrentar as situações. Talvez por isso, para mim, a história
não tenha sido decepcionante, embora tenha sido levemente frustrante.
Dentro
da própria família de Fonny há um racismo evidente, o desprezo por outra raça,
o descaso por alguém que deveria ser amado e apoiado numa situação difícil. Há
muitos personagens ruins, mesquinhos. Prepare-se para se ressentir deles.
De
outro lado, contudo, há aqueles a quem nos apegamos, para quem torcemos. A mãe
de Tish é um ser humano maravilhoso e luta com unhas e dentes para salvar a
honra, a liberdade e até mesmo a vida de seu genro. Não importa se ele não
tenha nascido dela, ele é da família e é um cara bom, merece ser feliz. Estou
curiosa para ver a interpretação de Regina King na adaptação para o cinema,
apesar de já prever que deve ter sido brilhante, já que a atuação lhe rendeu
uma estatueta do Oscar 2019 como atriz coadjuvante! O final, como eu disse, me
deixou pensativa, mas não decepcionada, como eu disse antes.
A
capa da nova edição lançada pela Companhia das letras é linda! Além da capa
original, tem uma jacket com a capa
do filme. Tem como não amar?
Assistam ao trailer!
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