Os meninos de Nápoles - Roberto Saviano
>> quarta-feira, 10 de abril de 2019
SAVIANO,
Roberto. Os meninos de Nápoles. São
Paulo: Editora Companhia das Letras, 2019. 408p. (Conquistando a cidade, v.1). Título original: La paranza
dei bambini.
Adoro
livros tanto sobre gangues, quanto sobre máfia, tráfico de drogas. Confesso
que, quando envolve crianças/adolescentes, rola aquele aperto no peito, mas a
minha curiosidade foi tão maior que não pude resistir ao livro Os meninos de
Nápoles.
Nicolas
é um garoto de 15 anos que sonha em se tornar alguém importante no meio das
gangues/máfia italiana. Ele e seus amigos, todos bem jovens (um, inclusive, tem
10 anos), comuns, nem ricos demais, nem pobres demais, e com apelidos
inofensivos – Marajá, Peixe frouxo, Biscoitinho, Drone, Briato, Dumbo –, não
têm perspectiva de grande futuro, não têm medo da lei e decidem fazer o que for
preciso para alcançarem seu espaço e ganhar muito dinheiro e, sobretudo, ter
poder.
Para
tanto, eles decidem formar, oficialmente, uma “paranza”, uma gangue juvenil, liderada,
claro, por Nicolas. Aprendem a atirar, começam a se exercitar para se
fortalecer, fazem algumas alianças aqui, alguns inimigos acolá e, quando menos
esperam, estão no meio de algo grande e vão perceber que quanto mais alcançam a
vida que querem, mais vão sendo envolvidos por uma realidade cada vez mais violenta
e brutal e, só talvez, irreversível.
Narrado em terceira pessoa o foco evidente da história é Nicolas, apesar de contar a história da gangue
juvenil como um todo, . O leitor é levado a acompanhar a necessidade que ele tem de comandar, de ter poder que levou ao surgimento da “paranza” até o momento em que, ao
menos aparentemente, a gangue começa a se tornar efetivamente real.
De
início, fiquei dividida entre a sensação de que eles estavam brincando de “polícia
e ladrão”, e que tudo deveria ser uma grande viagem da cabeça de Nicolas, e a
sensação de que tudo era muito real e ia acabar muito mal. Mas fui levada ao
erro e enganada várias e várias vezes ao longo da leitura.
A
história é narrada com um linguajar peculiar, um dialeto específico que me
lembrou a leitura de Laranja mecânica, com seu dialeto Nadsat. Contudo, algumas
vezes achei que mais parecia um linguajar rural do que de uma gangue urbana, o
que me incomodou um pouquinho.
Já
do ponto de vista de estruturação da narrativa, fiquei com muito medo do que
poderia acontecer com os meninos e me peguei suspirando de alivio quando eles
se livravam de alguma enrascada (e quanta enrascada!).
De
todos da gangue, o que mais me apeguei foi o Biscoitinho. Talvez por ser o mais
novo e porque eu tinha a esperança de que ele poderia ser “salvo” de alguma
forma. Queria que ele tivesse uma infância feliz, normal. Mas em um lugar em que
a máfia tudo domina, poucas coisas e pessoas podem ser salvas.
Fiquei
muito impressionada sobre como os garotos são influenciados pelos conteúdos que
consomem, como filmes sobre mafiosos (inclusive, várias referências a filmes conhecidos e até a adaptação do livro Os bons companheiros para o cinema), jogos de videogame, e como eles os usam
para inspirar seus atos na vida real. O mais assustador é que essa influência
está cada vez mais presente também em nossa realidade.
Não
consegui evitar que minha imaginação viajasse por Nápoles e viesse aquela
vontade de conhecer a Itália.
Um
ponto negativo é que, depois de tanto apego, de acontecimentos que me deixaram
com o coração na mão, o livro se desenrolou de tal forma que no final eu já
estava anestesiada e, no ápice da história em si, eu não me comovi, não me
emocionei.
O
final deixa uma evidente brecha para continuação, mas isso não é de admirar, já
que consta no título que esta é a parte 1 da história. Então, apesar do ponto
negativo dito acima, já aguardo pela continuação.
Um
detalhe que me chamou atenção, e que eu não sabia, pois não conhecia o trabalho
do autor, é que ele próprio já foi ameaçado pela máfia italiana e, como
resposta, contou tudo o que sabia em seu livro Gomorra, que eu, certamente,
vou querer ler.
- Os meninos de Nápoles (La paranza dei bambini)
- Bacio feroce (ainda não lançado no Brasil)
Avaliação (1 a 5):