Você nasceu para isso - Michelle Sacks
>> quarta-feira, 20 de março de 2019
SACKS,
Michelle. Você nasceu para isso. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2019. 272p. Título original: Youweremade for this.
Uma
capa com letra chamativa e páginas externamente coloridas de vermelho. Foi o
que bastou para o livro chamar minha atenção. Eu li a sinopse?
Talvez! E, fisgada pela curiosidade,
tive que ler para saber o que acontece e para o que será que alguém havia
nascido. Agora, divido com vocês um pouquinho da história e da minha
experiência com Você nasceu para isso.
Merry
e Sam são casados e têm um filhinho recém-nascido, Conor. Eles se mudaram
repentinamente para a Suécia, após Sam descobrir que havia herdado a casa da
esposa de seu pai. Merry não poderia estar mais feliz! Desde que se mudaram,
parecem estar vivendo um conto de fadas! Merry cozinha, cuida do jardim, do
filho, faz compras na cidade próxima à reserva onde vive. Visto de fora, eles parecem
a família perfeita.
Frank
é a melhor amiga de infância de Merry e, um belo dia, decide visitá-los. Merry
quer que Frank tenha a melhor impressão possível da casa e da vida que ela vive
ali naquele pequeno paraíso, e faz o impossível para isso.
Porém,
quando Frank chega, esse paraíso, essa perfeição toda dura pouco. Há algo de
muito errado na casa, na família, no casamento de Merry e Sam. Ao longo dos
dias, os podres vão sendo revelados e ninguém sairá impune, ninguém MESMO.
Vamos
começar, como de costume, pela narrativa? Os narradores são três personagens
diferentes: Merry, Sam e, quando chega à casa do casal, Frank passa também a
narrar. Os capítulos são intitulados pelo nome de quem está narrando. Os
diálogos são descritos também pelo narrador, sob o ponto de vista dele.
Passando
aos personagens, de cara já não curti o casal Sam e Merry. Há uma bruma de
falsidade, de cinismo encobrindo os dois, uma vida a dois sendo amparada por um
filho recém-nascido e uma fuga para outro país. Algo podia não estar certo. Sam
é o típico homem machista que acha que é o bonitão, e tem amantes quando e onde
bem entende. Trata Merry como uma empregada, uma prisioneira, e o pior de tudo:
de forma velada. Merry, por sua vez, é cínica, fingida, invejosa, péssima mãe,
principalmente péssima mãe.
Merry
está certa quando ela diz, bem no início, que seriam odiados por serem a
família perfeita. Eu fiquei só esperando o lado podre de cada um aparecer. E
não demorou muito.
Frank,
pelo contrário, quando chega à casa de Merry e Sam, se apresenta para mim como
um ser humano de bom coração. Tudo que Merry diz dela ao longo da história é
por puro despeito, inveja.
Mas,
com o passar do tempo, acabei percebendo o quanto a relação das duas era
doentia, destrutiva. Merry já dá indícios disso antes que Frank passe a,
efetivamente, fazer parte da história. Quando ela chega, tudo isso só passa a
se confirmar ainda mais.
O
casal Elsa e Karl e a pequena Freja se mostram bons vizinhos, embora, a partir
de determinado momento, eu tenha começado a achar que até eles tinham algo de errado.
Agora,
se você busca pureza, alegria sincera, sentimentos puros e verdadeiros, há o
pequenino Conor. Dava vontade de pegá-lo no colo, roubar para mim, antes que
algo de ruim acontecesse com ele.
E
quando as coisas começam a acontecer neste livro, caros leitores e leitoras,
elas não param, desencadeando uma série de reações em mim ao longo da leitura.
Apesar
de ter identificado umas falhas no enredo, eu fiquei tão presa na leitura que
não conseguia largar. Foram 272 páginas de intensos sentimentos e
acontecimentos.
De
repente, movida pelo ódio que determinada situação me provocou, tive que me
segurar para não arremessar o livro na área de estacionamento do prédio. Ao
invés disso, larguei o livro por umas duas horas, enquanto eu reorganizava meus
livros na estante pela milésima vez e ouvia rock para descontar a raiva.
Quando
retomei a leitura, mais calma, tudo fluiu até o final numa neblina de ódio,
tristeza e – porque não? – frustração. (Aquele livro que só de escrever
a resenha já traz de volta os sentimentos que você teve ao longo da leitura).
Quis,
por várias vezes, dar uns tapas em Frank, Sam e até mesmo em Merry pela atitude
omissa em determinados momentos. Tive vontade de gritar: VAMOS, PONHA ISSO PARA
FORA! FALA LOGO!
O
final em si me deixou bem intrigada e ao mesmo tempo incomodada com o desfecho
dos personagens. É tanta podridão, sujeira, que é difícil saber quem é o pior. O
desfecho foi um pouco impopular, digamos assim. Fica difícil dizer muito sobre a história sem
o risco de dar spoiler. Então só me restrinjo a dizer que ainda não me decidi
se realmente gostei do final.
Com
tudo isso, fiquei pensando no que a autora quis dizer com Você nasceu para
isso. Sam sempre dizia isso para Merry depois que eles se mudaram para a
Suécia, toda vez que via como ela era uma exímia dona de casa e mãe. Mas, para
o leitor, possivelmente o significado seja outro. Eu não sei se Merry nasceu
para ser uma atriz da vida real, para ter o relacionamento perigoso e
destrutivo de amizade que tinha com Frank, ou para ter o desfecho que teve.
Fato
é que, independentemente disso, a capa com o título bem amarelo e grande se
apresenta mais como um lembrete do que um simples título. Falando em capa, as
páginas com as beiradas vermelhas são um caso à parte e têm uma simbologia no
contexto do livro também. Podem ser tanto a representação da casa de Sam e
Merry, na Suécia, que tinha uma cor vermelho-fosca, quanto também significar o
ódio, a inveja, sangue.
Enfim,
são devaneios desta leitora que só quem lê entende.
Assim,
passo para vocês a bola de lerem essa história e me dizerem o que acharam.
Indico para pessoas que têm o coração forte e não têm a tendência de destruir
livros nos momentos de raiva. Como a contracapa já avisa: Se, além desses
avisos que dei, “você acha que seu marido nunca traiu; se acredita que sua
esposa nunca mentiu e se sua melhor amiga é a pessoa em quem mais confia no
mundo: NÃO LEIA ESTE LIVRO!”
Avaliação
(1 a 5): 3,5