Reinações de Narizinho - Monteiro Lobato
>> sexta-feira, 29 de março de 2019
LOBATO,
Monteiro. Reinações de Narizinho.
São Paulo: Editora Companhia das Letrinhas, 2019. 248p. (Sítio do Picapau
Amarelo, v.1).
“- Por que
ele fugiu? – indagou a menina.
- Não sei –
respondeu Dona Carochinha -, mas tenho notado que muitos dos personagens das
minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro
delas. Querem novidade. Falam em correr mundo a fim de se meterem em novas
aventuras. Aladino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa está enferrujando.
A Bela Adormecida tem vontade e espetar o dedo noutra roca para dormir outros
cem anos. O Gato de Botas brigou com o Marquês de Carabás e quer ir para os
Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de Neve vive falando em tingir os
cabelos de preto e botar ruge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um
trabalhão para contê-los. Mas o pior é que ameaçam fugir, e o Pequeno Polegar
já deu o exemplo.
Narizinho
gostou tanto daquela revolta que chegou a bater palmas de alegria, na esperança
de ainda encontrar pelo seu caminho algum daqueles queridos personagens.” p. 15
Monteiro
Lobato foi um dos primeiros autores de quem me lembro. Eu criança, frequentava
a biblioteca do SESC perto da minha casa, e um a um, fui pegando emprestada
toda a coleção. Eram livros enormes, de capa dura, e foi ali, com aqueles
livros, lá pelos 10 anos de idade, que eu decidi que iria ler “todos os livros
do mundo!” e com determinação, comecei do começo, das prateleiras mais baixas
daquela biblioteca. Li toda a coleção do Monteiro Lobato, umas duas vezes, li
todos os livros infantis e infanto-juvenis que tinham lá, passei para livros mais adultos, li
clássicos e fantasias, e nunca mais parei de ler. É com lágrimas nos olhos que
relembro essa história, e é com esse mesmo encantamento que peguei para reler
um dos meus livros favoritos da infância, Reinações
de Narizinho.
O
Sítio do Picapau Amarelo é o lar de Dona
Benta, Tia Anastácia e de Narizinho, de 7 anos, a neta de Dona
Benta. Também é onde mora Emília,
uma boneca de pano desajeitada, e era muda a coitada. Mas nesse pequeno sítio, no interior, é onde
acontecem das mais inacreditáveis aventuras!
Tudo
começou quando Narizinho resolveu ir até o ribeirão, e de lá, acabou indo parar
no Reino das Águas Claras. Ela conheceu todo o tipo de bicho interessante, um
peixe que era um rei, uma aranha que fazia os mais belos vestidos e um célebre
doutor, o Dr. Caramujo. Foi ele que deu a pílula de fazer falar para Emília, e
desde então ela se tornou uma boneca falante. E nunca mais parou de falar.
Dona
Benta e Tia Anastácia ficaram de olhos arregalados para a tal boneca falante.
Logo chega ao sítio o outro neto de Dona Benta, Pedrinho. Juntos eles vão se divertir e viver inúmeras aventuras. Eles
conhecerão reis, príncipes, princesas e todos os personagens fantásticos que
resolverem fazer uma visitinha ao sítio. Lá também vive Rabicó, o porquinho de estimação de Narizinho, que vive escapando de
virar jantar. E o famoso Visconde de
Sabugosa, uma espiga de milho que foi feita como uma brincadeira, mas
acabou sendo esquecida em uma estante, e acordou muito inteligente e sábio,
depois de devorar uma enciclopédia.
O
Sítio do Pipapau Amarelo não é um lugar nada comum, é aqui em que todas as
histórias se tornam reais!
~~~~~~
Que
eu sou apaixonada por essa história vocês já perceberam, não é? Monteiro Lobato
para mim tem gosto de infância, de fantasia, do início do meu grande amor pela
leitura. Foi com ele que tudo começou e para mim é puro encantamento. Receber
essa edição maravilhosa, de capa dura e com lindas ilustrações foi uma alegria
para os olhos! Amei rever toda aquela turminha e me encantar novamente com as
histórias. Engraçado que na época tudo aquilo era muito real para mim e muito “normal”.
Uma boneca falante, uma espiga de milho que vira gente, o meu eu criança só
queria morar em um sítio igual. Hoje, relendo, tive uma visão totalmente
diferente de tudo isso, mas é impossível não mergulhar naquelas aventuras.
Monteiro
Lobato é um autor muito criticado atualmente. Acusado de racismo, machismo,
dentre outros. Obviamente, nenhuma das expressões e pensamentos usados pelo
autor em sua obra, são aceitáveis hoje em dia. Porém, seus livros foram escritos
poucos anos após a abolição da escravatura (Reinações de Narizinho foi lançado
em 1931) onde esses termos eram utilizados de forma comum entre as pessoas. O
fato de Narizinho e Emília crescerem para serem boas donas de casa e arrumar um
marido, é outro exemplo. Isso fazia
parte da cultura da época, embora durante os livros, possamos perceber que as
duas são repletas de outros sonhos e ambições.
Na sinopse da editora, eles explicam:
“Esta
nova edição de luxo, organizada por Marisa Lajolo, vem acompanhada por um texto
introdutório que explica o contexto cultural da época de publicação do livro e
debate as questões polêmicas relacionadas à obra de Monteiro Lobato. Traz
também notas de rodapé em formato de diálogo entre as personagens, que explicam
o vocabulário e os costumes do Brasil da década de 1920, além de ilustrações
que reinterpretam a turma do Sítio.”
Achei
fantásticas essas legendas e explicações, elas mostram cada expressão em
destaque e explicam como isso era falado na época, porque acontecia e porque
não é mais assim. Um dos trechos mais
polêmicos desse volume, nos diz assim:
“-Respeitável público,
tenho a honra de apresentar vovó, Dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso
cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. Também apresento a
princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença.
Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre
um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela
virará uma linda princesa loura.” p. 195
Um
trecho como esse é inconcebível nos dias de hoje (bem escroto na verdade rs), mas infelizmente, a
escravidão fez parte da nossa história e da nossa cultura. Para uma criança que
está lendo? Tia Anastácia é tão amada quanto qualquer outro personagem, afinal,
a maldade está nos olhos de quem vê. Ela era sim empregada no sítio, mas sempre
foi parte da família, companheira de Dona Benta e amada pelas crianças. Acho
triste ver hoje em dia, histórias ricas de antigamente sendo condenadas por
tais motivos. Monteiro Lobato é só um entre muitos casos.
Espero que a Editora continue lançando a coleção nessa edição linda *.*! Enfim,
essa é uma obra rica e bela, uma leitura repleta de fantasia, de diversão e de
amor. Indico para todos que querem relembrar a infância, e claro, para as
crianças de hoje. Leiam!!
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Coleção
Sítio do Picapau Amarelo:
- Reinações de Narizinho
- Viagem ao céu
- Caçadas de Pedrinho
- História do Mundo para as Crianças
- Emília no País da Gramática
- Aritmética da Emília
- Geografia de Dona Benta
- História das Invenções
- Dom Quixote das crianças
- Memórias da Emília
- Serões de Dona Benta
- O Poço do Visconde
- Histórias de Tia Nastácia
- O Picapau Amarelo
- O Minotauro
- A Reforma da Natureza
- A Chave do Tamanho
- Os doze trabalhos de Hércules (dois volumes)
- Histórias Diversas
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