O clube dos jardineiros de fumaça - Carol Bensimon
>> quarta-feira, 16 de janeiro de 2019
BENSIMON,
Carol. O clube dos jardineiros de
fumaça. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. 364 p.
Depois
que comecei a resenhar aqui no VL, um bom requisito para que um livro me chame
a atenção é estar concorrendo ou ter concorrido a um prêmio literário. Não quer
dizer que antes não me chamasse atenção, mas agora serve como um bom requisito
de escolha, e geralmente não erro na escolha. O que me motivou a escolher O
Clube dos jardineiros foi saber que a autora já havia sido finalista do prêmio
Jabuti por uma outra história que escreveu. Será que dessa vez me arrependi?
Arthur
é um brasileiro, de Porto Alegre, professor de História, que um dia, vendo sua
mãe definhar cada dia mais por causa de um câncer, decidiu plantar maconha no
terraço de casa, com a ajuda de seu pai, que é médico.
Após
o falecimento de sua mãe, a quem a maconha como uso medicinal não conseguiu
salvar, e após Arthur ser denunciado pelo plantio e a polícia invadir sua casa,
fazendo com que tanto ele quanto o pai perdessem o emprego e virassem notícia
de capa de jornal, Arthur resolve recomeçar a vida no Triângulo das Esmeraldas,
região da Califórnia formada por coníferas milenares, estradas sinuosas e
falésias. O Triângulo das Esmeraldas é conhecido como o maior polo de produção
de maconha dos Estados Unidos.
Após
chegar ao Condado de Medocino, Arthur aos poucos passa a fazer parte da vida de
outras pessoas do local, como de Sylvia, a dona da casa onde Arthur aluga um
quarto; de Dusk, o suposto vendedor de Tomatillos; de Tamara, a indecisa moça
que trabalha em um estabelecimento local e que já passou por uma experiência de
poliamor. E, assim, podemos acompanhar Arthur em suas empreitadas e
experiências de amizade, amor, reflexão e até mesmo um pouco de amadurecimento.
O
livro nos traz um misto de história e ficção. Em determinados capítulos
espalhados ao longo do livro, há narrativa de histórias de personagens reais
que tiveram participação importante na luta pela descriminalização do uso da
maconha nos Estados Unidos. Em algumas passagens do livro em que Arthur
relembra alguns casos que aconteceram principalmente no Brasil, eu cheguei a
procurar na internet e encontrei exatamente o que ele conta na história.
A
história é narrada em terceira pessoa, alternando entre o presente, com Arthur
vivendo em na Califórnia, e o passado, que apresenta ao leitor o que aconteceu
para que o protagonista fosse parar em outro país.
Senti
muita empatia por Arthur e Sylvia. Acompanhar a vida, os anseios, os
acontecimentos da vida dos dois foi o ponto positivo do livro para mim. Por
Tamara, eu senti empatia por um tempo, depois acabei ficando um pouco cansada
da indecisão dela.
Dani,
o filho de Sylvia, foi o personagem que menos apareceu, mas o que mais me
irritou –
chato, egoísta, frouxo.
Infelizmente,
não houve na história um grande acontecimento para que eu pudesse ficar roendo
unhas me descabelando pelo que poderia acontecer com os personagens. Afinal, já
li livros envolvendo tráfico de drogas, plantio e afins, e nunca um livro com
esse tema foi tão tranquilo quanto O Clube dos Jardineiros de Fumaça, o que foi
bem decepcionante.
Apesar
de adorar quando há fatos históricos misturados à ficção trazida pelo autor,
esse livro não cumpriu a expectativa que eu nutri ao longo dele. No início
pensei que Arthur tinha ido para a Califórnia para se tornar um cultivador e
que ia se tornar meio que alguém influente no negócio, no mínimo, ou que ia ter
que lutar também por seu espaço e coisas do tipo. Não é isso que o livro
apresenta, apesar de eu ter achado que era o que ele prometia.
Além
disso, por não ter um grande ápice, acho que o livro poderia ter sido um pouco
mais enxuto. Algumas divagações de Arthur se mostraram repetitivas e poderiam
ter sido excluídas.
O
final acompanhou a forma linear do restante do livro e não foi nada UAU!.
Apenas concretizou a minha suspeita de que o que eu esperava realmente não iria
acontecer.
O
livro não é ruim. Para conhecer o contexto histórico da luta pela
descriminalização da maconha, ele é muito interessante. Os personagens também
são interessantes e é interessante acompanhar os motivos para fazerem o que
fazem, para agirem como agem. Em alguns casos, é mais um pretexto do que uma
razão, mas mesmo assim. Contudo se mostram menos interessantes em relação ao
que eu pensava que seriam. Em resumo, muito potencial e pouco tiro, porrada e
bomba.
Quem
gosta de livros que mesclam história e ficção, leiam!
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Avaliação
(1 a 5):