Menina boa Menina má - Ali Land
>> segunda-feira, 15 de outubro de 2018
LAND,
Ali. Menina boa menina má. Rio de
Janeiro: Editora Record, 2018. 376p. Título original: Good me bad me.
“Você costumava dizer a mesma coisa quando a gente voltava de carro
da escola nas tardes de sexta. Algo divertido. Uma vez eu pensei em me jogar do
carro em movimento, mas de alguma forma você pressentiu. Travou as portas.
Grande erro Annie, você disse. Achei que você seria menos dona de mim depois
que eu a entregasse, mas às vezes tenho a sensação de que é ainda mais. Uma
coisa inocente como um passeio de escola vira uma viagem ao meu passado com
você. Correntes invisíveis. Vibram quando ando.” p.148
Vocês
não tem ideia do quanto a capa desse livro ficou maravilhosa! Nenhuma imagem da
capa consegue mostrar, mas letras douradas em alto relevo, essa imagem borrada
com sangue e sombras, linda! Com essa capa e descrito como um thriller
psicológico de sucesso, entrou na hora na minha lista de leituras. Confiram o
que achei de Menina boa menina má,
livro de estreia da Ali Land.
Milly, nascida Annie, tem 15
anos. Ela foi criada por uma mãe psicopata, abusada constantemente desde muita
nova. O que sofreu, provavelmente moldou quem ela é hoje. Por dentro ela sempre quis
saber, se é má, se pode ser boa. Se a mãe destruiu algo dentro dela muito cedo,
ou se ela pode mudar.
Tudo
muda, quando Annie denuncia sua mãe na policia. Por todos os crimes, pelo
assassinato de 9 crianças inocentes. A mãe é presa e aguarda julgamento. Annie, agora Milly, ganha um novo nome, uma nova casa, uma
família adotiva provisória. Ela esconde o passado, esconde seus pensamentos
mais sombrios. Como a saudade da mãe, as vezes em que não consegue ser boa.
Milly
começa em uma nova escola. Está morando com Mike, o psicólogo e especialista em traumas que ajuda com seu
tratamento e a preparação para o julgamento; sua esposa, Saskia; e sua filha Phoebe,
que tem a mesma idade de Milly. Phoebe odeia Milly desde o primeiro dia, na
escola, ela vira alvo da turma das meninas populares. Além disso, ela precisará
enfrentar a mãe no tribunal, contar detalhes dos seus crimes e aguentar o que a
mãe preparou para ela, com seus advogados de defesa.
Milly
tem uma luta interna constante. A capacidade de escolher ser boa, contra o
instinto de ser má, afinal, ela foi criada para isso.
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Não
morri de amores por ele, mas a leitura foge do lugar comum. Acho que grande
parte do problema foi a narrativa diferenciada. Pode ser um ponto positivo para
alguns leitores, para o meu gosto pessoal, não fluiu bem. A narração é uma
mistura dos pensamentos tumultuados de Milly com uma recontagem mais
tradicional de eventos com tags de diálogo para nos orientar nas conversas.
Ficou meio confuso, mas ao mesmo tempo, seus pensamentos desequilibrados e
conflituosos tornam a protagonista mais interessante. Em várias partes da narrativa, parece que ela
está conversando com a mãe, ou escrevendo para ela, bem sinistro.
Outra
ponto que foi significante para mim, foi a descrição do livro em todas as
frases na capa e contra-capa, como um thriller psicológico surpreendente. E na verdade, o livro não tem
grandes reviravoltas, nem um suspense forte. Tudo é muito fácil de deduzir. Eu
esperei pelo suspense, e não encontrei. Os desdobramentos são todos esperados.
O que aconteceu com o garotinho, estava na cara do leitor. O final, eu esperava
desde o meio do livro que aquilo fosse acontecer. E ele terminou bem aberto,
com muitas coisas mal explicadas.
Agora
falando sobre os pontos positivos da obra. É um livro forte, uma narrativa
pesada e impactante. Você acompanha de perto o que se tornou a mente de uma
menina de apenas de 15 anos, que teve a infância destruída por uma mãe
psicopata. Milly tem uma noção deturpada do que é ser boa, do amor, das
emoções. Você vê claramente a dificuldade dela de reconhecer as emoções apenas
olhando para uma pessoa. Por um lado temos Milly, uma vítima, ou um fruto do
seu meio? Uma criança que precisa de ajuda ou uma futura psicopata? O leitor
enxerga claramente Milly como vítima. Eu torci para que desse tudo certo, mas
sinceramente, o livro todo já saquei a merda que vinha pela frente rsrsrs. De outro lado temos Phoebe, a antagonista da
personagem.
Achei
interessante, pesquisando sobre o livro na Internet, que muitos leitores
enxergaram Phoebe como a vilã da história. Ela fez realmente bullying com a
Milly o tempo todo, e agiu como uma escrota boa parte do livro. Mas se o leitor
enxerga Milly como uma vítima, tem pena dela (mesmo observando ela matar um
pombo com a maior tranquilidade – para acabar com o sofrimento dele), também deveria
enxergar Phoebe com a mesma compaixão. A menina também tem 15 anos, tem uma mãe
depressiva que vive bêbada e drogada. Um pai psicólogo que enxerga o problema
de diversas crianças e tentas ajuda-las, menos os da filha dele. A menina praticamente grita por atenção. Phoebe,
é tão perturbada quanto Milly, as duas crianças se tornaram fruto do meio, as
duas tiveram a mente moldada pela forma com que foram criadas. Mike, o pai,
estava mais interessado em estudar Milly para o livro que pretendia escrever sobre ela,
do que realmente tratar a menina. E a própria filha então, estava ótima, não
precisava de atenção.Tinha tudo o que o dinheiro pode comprar.
Outro
ponto interessante é o fato da Milly ter denunciado a mãe para a polícia, mas
ainda amá-la profundamente e sentir falta dela. A mulher é uma psicopata
sinistra, mas é o único “amor” que ela conheceu. A construção da protagonista é
muito interessante, embora os outros personagens tenham ficado muito rasos,
devido a escolha da narrativa. Por outro lado, já gostei da forma como a autora
abordou a violência que Milly e as outras crianças que ela matou, sofreram. Ela
não precisou explicitar os abusos, nem descrever cenas macabras para convencer
o leitor da psicopatia da criminosa. Já é tudo muito perturbador, não precisa
do leitor ficar lendo descrições de crimes e abusos contra crianças. Funcionou
bem assim, achei bem fino da parte dela rs.
Bom,
concluindo porque já falei demais... É uma história interessante, com
personagens complexos e perturbados e como um drama me agrada. Senti falta do
quesito suspense, de mais ação e algumas surpresas. A parte “thriller” eu achei
fraca. Mas como primeiro trabalho da autora realmente surpreende, é bem
escrito, é forte. Espero coisas excelentes dela no futuro. Quem leu, me conte o
que achou.
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