Variações enigma - André Aciman

>>  quarta-feira, 12 de setembro de 2018


ACIMAN, André. Variações enigma. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2018. 320 p. Título original: Enigma variations.


Meu primeiro contato com a escrita de Aciman foi com Me chame pelo seu nome, e não poderia ter começado melhor. Livro sensacional, com adaptação para o cinema igualmente grandiosa. Logo, não foi apenas com grande interesse que recebi Variações enigma para a leitura, mas também com grande receio/expectativa. Vou dividir hoje com vocês minhas impressões sobre essa nova história.

Paolo conheceu o primeiro amor de sua vida aos 12 anos. Era o marceneiro da casa de sua família, ao sul da Itália. Ele se apaixonou, hesitou e, quando quase se declarou, levou um “chega pra lá”. Cresceu com esse “fora” na cabeça, dando-lhe vários significados, até que descobriu um grande segredo. Ao invés de se enfurecer com o amor não correspondido, foi condescendente e seguiu a vida. Contudo, esse primeiro amor acabou transformando Paolo em quem ele se tornou na vida adulta, principalmente em relação à forma com que se relacionou com outras pessoas. Homens, mulheres, mais novos, mais velhos. Hesitou diversas vezes, especulou, se equivocou feio ao pensar que estava sendo traído, se declarou, traiu, desistiu de alguém, escreveu e-mails para dizer o que não tinha coragem de dizer pessoalmente, partiu para outra e, dentro de toda essa confusão de sentimentos, no fim das contas, o amor acabou, como sempre, vencendo.

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Todo mundo que acompanha minhas resenhas sabe que não leio sinopses, de modo que a história, apesar de todos os sinais que o título e capa costumam trazer, sempre me pega de surpresa.

E com essa história não foi diferente, apesar de que nem sempre a surpresa significou algo positivo. Pelo resuminho acima e, deixando de lado o meu hábito de comentar sobre a narrativa, a surpresa veio no sentido de que o livro nos traz cinco histórias amorosas envolvendo Paolo.

Apesar do choque da mudança brusca de assunto, da primeira para a segunda parte da história, e assim sucessivamente, me acostumei com a ideia do livro, que é basicamente desvendar os diversos enigmas do ser humano em relação às variações do amor.

Paolo pra mim pode ser definido em uma palavra: hesitante. Em todos os relacionamentos contados na história, vi um Paolo cheio de ideias mirabolantes sobre a pessoa em quem está interessado, uma construção do “ideal” que, obviamente, não existe na vida real, pois cada pessoa é única, é o que é, e não o que imaginamos ou idealizamos.

Não há como não se identificar com os momentos em que o protagonista imagina um diálogo com seu “crush” e consegue montar praticamente uma vida inteira ao lado da pessoa apenas com os pensamentos. Quem nunca?

Mesmo com a identidade de sentimentos entre mim e ele em tais momentos, não senti tanta empatia assim por Paolo. Talvez ele tenha sido um protagonista tão enigmático quem nem eu, como leitora, tenha conseguido ultrapassar a cortina de mistério que o envolvia e me sentir tocada por seus conflitos, equívocos, suas atitudes equivocadas.

Ao longo da história, a sensação que tive é que, quanto mais velho e mais maduro (pelo menos na idade) Paolo foi ficando, ele se tornou ainda mais hesitante e mais confuso em relação ao amor, ao invés de mais hábil. Acredito que tenha sido um pouco difícil para o personagem, ao longo de sua vida, entender as variações do amor em cada uma das pessoas que encontrou ao longo do seu caminho.

Por se tratar de cinco histórias, cada uma com seu respectivo começo, meio e fim – e ainda que, de certa forma, tenha havido uma relação entre elas à medida que Paolo vai se moldando com base nas experiências amorosas que vive (ou, talvez, tudo que ele se tornou quando adulto tenha sido construído apenas no primeiro amor, o que explicaria tanta hesitação) –  fui levada a imaginar que a história não teria um desfecho propriamente dito. Ledo engano, caros amigos leitores. Fiquem de olho e não caiam nessa.

Infelizmente, não curti essa história nem a metade do gostei de Me chame pelo seu nome, apesar de, por outro lado, não achar uma história ruim. Talvez, Paolo seja só um apaixonado incompreendido, mas o fato é que esta resenhista que vos fala segue hasteando a bandeira do Elio. 

Não vejo a hora de ler outra história do autor. Meu receio é que seja mais um daqueles autores que escrevem uma grande história que a gente ama tanto e que depois não consegue gostar de mais nada que a pessoa escreve. Não gosto muito quando isso acontece e espero que não seja o caso, do fundo do coração.

De qualquer modo, é uma história boa e merece ser lida! Venham conhecer Paolo e as variações do amor e desvendar os enigmas do ser humano!

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