Querido mundo - Bana Alabed
>> quarta-feira, 26 de setembro de 2018
ALABED,
Bana. Querido mundo – A história de
guerra de uma menina síria e sua busca pela paz. Rio
de Janeiro: Editora Best Seller, 2018. 160p. Título original: Dear World: A syrian
girl´s story of war and plea for peace.
Para
quem estava acostumada a ler sobre a II Guerra, que hoje em dia é apenas uma
lembrança ruim e um conteúdo dos livros de história mundial, desta vez me
arrisquei a ler sobre uma guerra que ainda assombra a população e que, apesar
de também já fazer parte dos mesmos livros de história, o faz de uma forma
recente, e cujo contexto buscamos ainda assimilar, entender, e cujas imagens
ainda estão frescas na memória. A guerra na Síria.
Em
Aleppo, na Síria, a mãe de Bana teve muita dificuldade para engravidar, de modo
que, quando Bana veio ao mundo, mais do que tudo, sua mãe queria que ela fosse
feliz, que tivesse tudo aquilo que a mãe e o pai sempre tiveram. Que tivesse
uma boa educação, pudesse curtir a cidade que, apesar de antiga, era linda.
E
a vida de Bana foi linda e tranquila, mas não por muito tempo. Em 2011, quando
ela era ainda muito novinha, Aleppo, assim como o restante do país, começou a
ser atacada pelo Exército do governo (chamado por ela no livro de O regime), em
resposta aos protestos populares contra o governante Bashar al-Assad, que
ficaram conhecidos como Primavera Árabe. Do outro lado estava o Exército livre,
lutando pela queda do governante e pela transformação do país em uma
democracia.
No
meio disso tudo, estavam os cidadãos civis, que se viram no meio de uma guerra
que não entendiam, da qual não compartilhavam e cujos acontecimentos mudaram
para sempre o modo de as pessoas, e, sobretudo, Bana, verem o mundo.
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Uma
biografia difícil de ler. É assim que defino, em tão poucas palavras quanto o
número de páginas que compõem o livro, a minha impressão geral sobre a
história.
Narrado
pela Bana e, de tempos em tempos, por sua mãe, com a visão dela sobre o que a
filha conta, fui jogada em meio a duas vidas pautadas pelo medo, a angustia de
não saber quando e onde cairia a próxima bomba, quem ou quantas pessoas iriam
morrer.
É
assustador ver uma menininha de seis anos saber o som que cada bomba produz
antes de atingir o alvo, de modo que dava para ela saber a extensão do estrago
que causaria a bomba apenas pelo som que ela tinha.
Mais
assustador ainda ver a menininha ajudando a tirar escombros do prédio vizinho
onde pessoas haviam acabado de serem soterradas. Ajudando a socorrer pessoas e
vendo, inclusive, a melhor amiga ser morta pela guerra.
A
menina tendo que ser forte para ajudar a mãe com seus irmãozinhos, sendo que um
deles nasceu durante a guerra.
Não
há beleza alguma nessa história, considerando que ninguém, quem dirá uma
criança, merece passar por isso. Trata-se de um grande ensinamento sobre como
uma criança resistiu à guerra até o momento em que, junto com outros
refugiados, foi levada para a Turquia.
Fiquei
muito agoniada, angustiada, sofrendo junto com Bana o medo de que ela perdesse
alguém. E quantas pessoas perderam alguém! Com medo de que ela se machucasse,
assim como tantos se machucaram, perderam membros do corpo, a visão, a audição.
Não
consigo imaginar como deve ter sido, para as pessoas que estiveram em meio ao
conflito, passar pelo que passaram. Fome, frio, sede, dor, medo. Para nós que
acompanhamos apenas pela televisão esses conflitos já é difícil de ver, imagina
para quem esteve lá no meio do fogo cruzado? Do bombardeio? Imagina para as
crianças que tiveram que deixar a infância de lado para sobreviver à guerra?
Indico
para aqueles que gostam de livros sobre guerras em geral e para quem não tem
medo de histórias fortes.
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