A Criança no Tempo – Ian McEwan
>> sexta-feira, 14 de setembro de 2018
MCEWAN, Ian. A Criança no Tempo. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 282p. Título original: The Child in Time.
Denso. Dramático. Triste. Distópico (o gênero
definitivamente está me perseguindo). Incrivelmente bem escrito: esse é A
Criança no Tempo, obra do premiado autor Ian McEwan (que eu conheço por Reparação,
outro livro que pode ser descrito com as características que usei acima).
O livro conta a história de Stephen Lewis, que um
dia leva a filha Kate consigo ao supermercado, e passa pelo maior pesadelo que
um pai pode passar: em um piscar de olhos, a menina é sequestrada sem deixar
vestígios. Após aflitivos momentos de busca, a esperança desvanece, e ele tem
que ir para casa e contar o impossível à esposa Julie, uma talentosa artista: a
filha deles não está mais lá.
A partir deste momento, o livro passa a focar no
relacionamento do casal e também em suas individualidades, em como este trágico
acontecimento afetou a vida de cada um e a dinâmica como marido e mulher.
Stephen é um renomado escritor de livros infantis
(mesmo que por acidente), e o acontecimento acaba fazendo com que se aproxime
dos amigos Charles e Thelma, que o acolhem calorosamente. Ele então acompanha
Charles em sua carreira passando de editor de sucesso para político estrela,
para então figura pública esquecida. Com Thelma já tem uma relação mais próxima
e intimista, e essa dinâmica com o casal acaba nos mostrando que os livros que
ele escrevia, as histórias que ele contava, provavelmente tem origens em
traumas de infância.
Julie, uma música talentosa, por sua vez escolhe a
escuridão: ela literalmente busca um refúgio, um lugar onde possa ficar sozinha
e se afastar de tudo e todos que lembrem sua filha, entrando em um buraco que
fica cada vez mais difícil de sair. O leitor, inclusive, consegue ver a direção
que ela toma, e a sensação de impotência é uma das mais agonizantes que tive ao
ler.
Com o passar dos anos, a esperança de encontrar
Kate já não existe, mas o momento é revivido tantas vezes, a aflição é tão
real, que muitas vezes Stephen age como se tivesse acontecido ontem: procura
pela filha, mesmo diante da indiferença da polícia, mais preocupada com uma
sociedade com mendigos licenciados, conflitos políticos transformados em brigas
que podem levar à guerra... Neste cenário, o que é uma criança desaparecida em
um supermercado horas, dias, semanas, meses, anos atrás?
O que me chamou a atenção neste livro foi a
capacidade do autor em rapidamente estabelecer conexões com o leitor, e delas
gerar emoções verdadeiras, sem apelação, pelo que as coisas são em seu estado
mais puro. É um dom muito raro, que poucas vezes vi. Sim, o livro é muito
dramático e muito denso, mas é um estilo que agrada muitas pessoas. Se você for
uma dessas, certamente gostará desta obra.
Os direitos do livro foram vendidos e ele virará
filme ainda este ano, estrelado por Benedict Cumberbatch e Kelly Macdonald.
Caso você não queria ler o livro, fortemente sugiro que assista o filme, com o
trailer abaixo:
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