Pequenos incêndios por toda parte - Celeste Ng
>> sexta-feira, 15 de junho de 2018
NG, Celeste. Pequenos incêndios por toda parte. Rio de Janeiro:
Editora Intrínseca, 2018. 416p. Título original: Little fires everywhere.
“Todo mundo em Shaker Heights só falava de um assunto naquele verão:
como Isabelle, a última filha da família Richardson, havia perdido a cabeça e
ateado fogo à casa. O boato durante toda a primavera girara em torno da pequena
Mirabelle McCullough – ou, dependendo do lado em que a pessoa estava, May Ling
Chow -, e agora, enfim, surgia algo novo e sensacional para se debater.” p.9
Quem leu Tudo
o que nunca contei já conhece o estilo diferente, questionador e
inquietante da americana Celeste Ng. Seus enredos aparentemente são simples,
mas o conteúdo é muito mais abrangente do que imaginamos no início. Para quem quer
sair do lugar comum, conheçam seu novo livro no Brasil: Pequenos incêndios por toda parte.
Shaker Heights é uma pequena cidade de Ohio,
uma comunidade fechada e autossuficiente, onde americanos ricos vivem há gerações.
A cidade é extremamente organizada e todos da comunidade respeitam suas regras.
Desde as cores que podem ou não pintar suas casas, até sobre que tipo de
morador é aceito em determinado bairro.
A família Richardson é um dos pilares dessa
comunidade. Pai, mãe, quatro filhos lindos, educados e inteligentes. Elena Richardson adora seguir regras.
Jornalista local, ela guia sua família de forma ordenada, e acredita estar
fazendo uma boa ação com a locação de um pequeno imóvel que possui nas
redondezas. Ela tenta escolher o inquilino ideal para o local, alguém
necessitado, mas boas pessoas. Alguém que pode se beneficiar dos valores da
cidade.
Mia Warren e sua filha adolescente Pearl são as novas moradoras do imóvel. Logo os quatro filhos do
casal, se encantam com elas. Cada um por um motivo, mas Pearl passa a
frequentar diariamente a casa dos Richardson. Aos 14 anos, Isabelle, é a ovelha negra da família, a caçula é incompreendida e
vê em Mia algo que nunca teve de sua mãe. Moody
tem 15 anos, mesma idade de Pearl, e eles logo viram amigos inseparáveis. Lexie, 16 anos, tem pouco interesse
pela vida alheia, mas acaba se interessando pela vizinha tímida. Trip, 17 anos, é o mais velho dos filhos, bonito e popular,
Pearl logo se encanta por ele. Mia é uma
alma livre, suas opiniões e ações, ameaçam desestruturar a comunidade. Ela
também tem um passado misterioso, algo que pode por em risco sua relação com a
filha.
Velhos amigos da família Richardson, adotaram
uma criança sino-americana. Tudo ia bem, até que a mãe biológica resolve pedir
a guarda da criança. Começa então uma batalha que divide a cidade. Mia e Elena,
estão em lados opostos. A partir daí, tudo muda.
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É até difícil escrever uma sinopse para os
livros da autora, o inicio, é só um pano de fundo. Os personagens vão sendo
desmembrados, a história vai se construindo aos poucos, através da narrativa de
cada um. O incêndio do início é na verdade o final, a consequência de tudo o
que aconteceu. Seus livros tem profundidade, abordam temas específicos e
colocam o leitor para pensar. O resultado disso é, mais uma vez, um livro
único, diferente e delicioso de se ler.
Não temos mocinhos e vilões, temos pessoas normais, personagens fortes e ao mesmo tempo, muito humanos. É uma leitura mais
lenta, mas que passa longe de ser entediante, aos poucos, um cenário novo se
forma aos olhos do leitor. A autora mais uma vez aborda o preconceito, mas fala
também do poder dos segredos e de como uma mentira “simples”, pode mudar tudo.
Valores são questionados, posição social e status, o próprio conceito da
família é posto em cheque.
Em Tudo
o que nunca contei, tínhamos um suspense maior como centro da história.
Aqui nossa curiosidade vai sendo aguçada aos poucos. Porque Isabelle fez o que
fez? Qual o segredo de Mia? Quem é o pai de Pearl e porque elas vivem se
mudando? O que Elena vai descobrir? Quem vai ficar com a criança? Essa e outras
perguntas vão sendo respondidas ao longo da história.
A autora é uma eximia contadora de histórias.
Sua narrativa me lembra daqueles casos de família, que alguém começa a contar
aos poucos. Você conhece o enredo meio que de trás para frente, e aos poucos,
vai entendendo como tudo aconteceu. É simples, mas ao mesmo tempo, muito
inovador. É um livro com muitos
personagens jovens, mas é um romance adulto.
Eu espero ter logo outros livros da autora na
estante, fiquei fã do estilo dela e adorei a leitura. Quem leu me conte o que
achou, mais do que indicado! Leiam!
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Avaliação (1 a 5):