Nix – Nathan Hill
>> sexta-feira, 29 de junho de 2018
HILL, Nathan. Nix. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2018. 669p. Título original: The Nix.
Novamente, quando estou diante de um livro que
muito me impactou e muito me impressionou, me encontro em dificuldades de
escrever a resenha. Foi assim com o livro da semana passada, Lincoln no Limbo e foi assim com As Primeiras Quinze Vidas de Harry August. Nix, esse romance
avassalador de estreia do autor Nathan Hill me deixou uma bagunça: deprimida,
alegre, raivosa, indiferente, curiosa, confusa e outros status mais (que
certamente não estariam presentes na rede social IFeel, que sinceramente não sei se existe ou se foi uma brilhante
invenção do autor em um momento da história). E tenho certeza que vai deixar
diversos outros leitores da mesma forma, satisfeitos com a leitura. Por isso,
tentarei convencê-los a dar uma chance a esta obra incrivelmente bem escrita e
um tanto quanto viciante.
(Quando digo que estou diante de um livro
especial, é literalmente. O livro está na minha frente enquanto digito essas
palavras, com sua capa poderosa e significativa me lembrando dos diversos
caminhos principais e secundários que foram traçados até o resultado final.
Eis a Prova.)
Nix, este fantástico
lançamento da Editora Intrínseca, traz a história de Samuel Anderson, um
professor de literatura, uma vez tido como um dos mais promissores escritores
de sua geração, mas que agora não consegue escrever o livro e gasta seu tempo
livre (horas e horas) em video games, mais especificamente Elf Scape (que novamente não sei se existe ou se foi brilhantemente
sarcasticamente criado pelo autor, para evitar possíveis problemas autorais com
jogos semelhantes).
Sam não é apenas um professor qualquer, que
repreende alunos por trabalhos plagiados e os introduz a Hamlet. Ele, como
todos nós, tem uma história. E nossa história, nosso passado, é o que reflete
nosso presente. E assim o autor constrói a história, alternando narrativas
entre o presente, o passado próximo (que seria a infância-pré adolescência de
Sam) e o passado distante (que seria a adolescência/juventude da mãe de Sam,
Faye).
É essencial mencionar a mãe de Sam por um
simples detalhe: ela o abandonou e ao seu pai quando o menino tinha onze anos de
idade. Ele nunca mais a viu, até que um vídeo viral de uma ativista louca
jogando pedras em um candidato à presidência dos Estados Unidos de Extrema
Direita chega em suas mãos. Ali está a sua mãe, num reencontro inesperado e um
tanto quanto amargurado, precisando de sua ajuda. Para piorar, sua editora o
ameaça com um processo milionário, a não ser que ele entregue um livro
desconstruindo a imagem de sua mãe, contando todos os podres e mostrando como
aquela ativista realmente é uma louca.
E é aqui que o autor, Nathan Hill, mostra um
talento nato como contador de histórias: ele divide o livro em partes e
capítulos, mesclando os tempos que mencionei anteriormente: presente, passado
próximo e passado distante, com diversos narradores em todos esses tempos. E na
medida que a história é contada, que passamos a timidez de Faye, começamos a
entender um pouco mais de sua natureza e suas razões, e ela se torna tão
protagonista no livro quanto Samuel.
O grande triunfo da obra é a trama tecida com os
seus personagens coadjuvantes; que se completam sem necessariamente se
conhecerem, se encontrar, ou sequer fazer parte do mesmo aspecto temporal. Eles
também narram capítulos e suas histórias também são mostradas, na condição mais
nua, crua e pura que podemos ter: o pensamento humano, em sua velocidade,
sagacidade e ferocidade.
Não posso adentrar mais no enredo sem estragar a
história para quem ainda não leu (foco no AINDA, pois vocês certamente DEVEM),
mas o que me chocou é como tudo tem uma razão. Todos os personagens foram
meticulosamente pensados e trabalhados, mesmo aqueles reconhecidos por sua
futilidade (estou falando de você, Laura). Aqui temos colegas de videogame,
amigos de infância, primeiros amores, estudantes que representam a resistência
no mundo moderno tipicamente millenial, e adultos receosos, divorciados, e
frustados.
Ao mesmo tempo temos a geração de 1968, a de
Faye e seu herói, Alan Ginzburg, responsável por abalar as estruturas do mundo
e, nos Estados Unidos, com resistência especial em Chicago.
É nessa miscelânia de gerações, narrações e
histórias que vamos entendendo quem é Sam, quem é Faye, e como as pessoas são
complexas e lotadas de camadas. E me encantou a simplicidade que o autor as
expôs.
Este livro seria uma nota 5 estrelas fácil, até
chegar ao final, às resoluções de alguns pequenos nós não atados. Alguns eu
entendi perfeitamente: a simplicidade foi o caminho de todo o livro, e não
poderia ser diferente. Em outros casos, achei complicado demais, com artimanhas
que se mostraram desnecessárias diante de uma obra até então pura. Por isso,
resolvi tirar 1 estrela.
Em suma, recomendo o livro com veemência, e peço
que todos leiem antes de virar série, estrelada por Meryl Streep e produzida
por J. J. Abrahms.
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