Um amor perdido - Alyson Richman

>>  quarta-feira, 23 de maio de 2018

RICHMAN, Alyson. Um amor perdido. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2018. 336p. Título original: The lost wife. 

Todo mundo já conhece meu apreço por livros que falam sobre a Segunda Guerra Mundial. O que ninguém sabe é que não escolhi Um amor perdido por essa razão, já que eu, na minha eterna lerdeza, não observei a frase logo na capa que falava sobre a guerra. Após a descoberta do tema, a curiosidade foi quase instantânea. Só restava saber se eu me apaixonaria pela história da mesma forma que por tantas outras semelhantes, ou se seria exatamente isso: mais uma história sobre guerra. Vamos descobrir?

Josef Kohn é idoso, viúvo, pai de dois filhos: Rebekkah e Jakob. Ele era casado com Amalia, que sofreu um derrame com trinta e poucos anos de idade e foi levada para o céu. Rebekkah se casou anos depois e teve um filho, Jason. O irmão Jakob sofre de autismo, enfrenta limitações e mora com o pai ainda aos 50 anos. O que ninguém da família sabe é que, na verdade, Josef teve um grande amor em sua vida, Lenka Maizel, em uma época em que a guerra ainda não havia começado, mas já assombrava a vida de todos os judeus.

Lenka é apaixonada por arte e é uma exímia pintora. Conheceu Josef por meio da irmã mais nova dele, Veruska, que era estudante de artes na mesma faculdade que Lenka. Elas se tornaram melhores amigas. O casal Josef e Lenka se casou, mas eles foram obrigados a se separar por amor às suas famílias. Então, enquanto Josef e sua família fugiam para os Estados Unidos, a de Lenka era levada para um campo de concentração modelo em Terezín.

Um campo criado para que o mundo acreditasse que os judeus eram bem tratados, tendo um ofício e comida decente. Mas a realidade não era bem assim. Pouco tempo depois de ter sido levada para Terezín, Lenka recebeu a triste notícia de que um navio que estava a caminho dos Estados Unidos havia sido abatido e que o sobrenome da família de Josef estava entre os mortos. A tristeza que a acometeu só não foi pior do que os terrores que sofria por ser judia.

Sessenta anos depois, Josef está se arrumando para comparecer ao jantar de ensaio de casamento do neto, Jason. Ele se dá conta de que mal conhece a noiva e sua família. Durante o jantar, então, Jason apresenta ao avô os parentes de sua noiva Eleanor. Ao conhecer a avó dela, Josef tem certeza de que a conhece de algum lugar. Ele jamais esqueceria aqueles olhos, os olhos do amor de sua vida. 

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É difícil resumir essa história sem correr o risco de cair em algum spoiler, mas acho que consegui. O que você precisa saber é que esse grande encontro mencionado acima acontece logo no primeiro capítulo, que é narrado pelo Josef. 

A partir de então, a narrativa se alterna entre ele e Lenka. Em alguns capítulos, ela narra o passado mais distante, vindo desde sua infância. Em outros ela menciona um passado não tão distante, antes da guerra e, por fim, o passado em que esteve na guerra. Alguns capítulos narrados por Josef também remetem ao passado antes da guerra, mas na maior parte do tempo ele está narrando o presente, que nesse livro se passa no ano 2000. 

Acompanhar a narrativa de Lenka sobre a época da guerra me trouxe tanto o sentimento de já ter ouvido aquilo várias e várias vezes quanto os sentimentos que sempre me acometem quando leio livros sobre a Segunda Guerra: ódio, nojo, pena, compaixão. Afinal, é um tema muito pesado que não tem como não sentir nada. 

Apesar do sentimento de mais do mesmo, eu gostei muito de Lenka e sua família. Os pais bem liberais, à frente de seu tempo. Contudo, depois que são levados para o campo de concentração, eles passam a ser muito pouco mencionados, assim como Marta, a irmã mais nova. Lenka os menciona poucas vezes, mas não deixamos de conhecer o desfecho deles na história.

Também me apaixonei pelo Josef desde o primeiro capítulo. Não julguei a escolha deles de se separarem, afinal, família é família. Ainda que se pense "se fosse eu iria com ele(a)", é uma situação que, penso eu, ninguém gostaria de ter de escolher. 

A família de Josef é um pouco menos liberal, principalmente o pai em relação a Josef. O pai quer que o filho siga seus passos e tenha uma profissão (com isso entendam: faça medicina e seja um obstetra como seu pai). Veruska não sofre tanta pressão da família e, na cabeça dela, Josef é o único filho que importa, de modo que ela faz o que bem quer e ninguém sequer nota. 

Alguns personagens secundários me causaram pena, como Amalia, esposa de Josef, e Hans, o garotinho a quem Lenka se apega quase que imediatamente quando chega a Terezín. Apesar de terem tido desfechos totalmente diferentes, eu fiquei com muita pena tanto da falta de esperança com o futuro para uma criança, quanto pela grande solidão de uma mulher, ainda que seja casada e rodeada de filhos. 

E agora vem o grand finale que me deixou de queixo caído e com uma grande frustração para o currículo de leitora. Como eu disse, Josef reencontra Lenka após 60 anos, logo no primeiro capítulo. Não me julguem se eu fiquei o livro inteiro esperando para ver como prosseguiu esse reencontro, essa conversa. Eu só conseguia pensar: "Será que ela lembrou dele?" "Será que ela ainda o ama?" "Será que era ela mesmo?" "Não seria um sonho?". 

Você deve estar se perguntando se eu descobri a resposta para pelo menos uma das perguntas acima, certo? A minha resposta é: sim, caro leitor. Eu descobri a resposta, mas não foi, nem de longe, o que eu esperava. Ainda enquanto escrevo esta resenha folheio novamente o final do livro para ver se não pulei alguma página. Quem dera fosse isso. 

Alguém pode dizer que o foco do livro era falar de um amor que foi perdido. Eu compreendo, mas não vejo sentido em fazer o leitor esperar o livro inteiro para dar seguimento em uma conversa tão aguardada e ela ser dar da forma que foi. 

Infelizmente eu prefiro não contar para você que está curioso para saber o que eu quis dizer com os prágrafos acima. Eu prefiro que você leia e me conte o que achou, sorry.

Apesar desse final, esse livro merece demais ser lido. A história toda em si, como os personagens e o tema, precisa ser lida. Super indicado para quem gosta de livros sobre a Segunda Guerra Mundial e sobre amores interrompidos. Leiam!


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