Eu sei onde você está - Claire Kendal

>>  segunda-feira, 28 de maio de 2018

KENDAL, Claire. Eu sei onde você está. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2017. 304p. Título original: The book of you.

“- Você é mesmo uma puta. Não é a mulher que pensei que fosse.
- Tem razão. Não sou. Você não me conhece nem um pouco. Apenas me deixa em paz. É tudo que quero de você.
Eu me afasto e, dessa vez, você não me segue.
Eles dizem que você não deve se equivocar. Dizem que você deve tentar ser direta e firme. Dizem que você nunca deve amenizar o golpe. Dizem que um ‘Não!’ não precisa de complemento. Dizem para você usá-lo de maneira enfática. Dizem que você nunca deve justificar um não.” p.77

Eu adoro suspense e também esses novos thrillers psicológicos que emplacaram no mercado pós Garota exemplar. Eu sei onde você está é o livro de estreia da Claire Kendall. Ele tem a premissa parecida com alguns outros livros do estilo, e eu acabei não lendo quando lançou. Um dos motivos do meu receio, foi que o livro não tem uma média alta de nota nas redes sociais literárias... mas, minha curiosidade acabou falando mais alto.  Hoje conto para vocês o que achei da leitura.

Clarissa. Clarissa é uma mulher solteira, mora sozinha depois de se separar do namorado com quem vivia. Henry e ela fizeram muitos tratamentos para que ela conseguisse engravidar, no final, isso só acabou com o relacionamento dos dois. Ela trabalha como secretaria na mesma universidade que Henry trabalhava. Antes de tudo, quando ele ainda era casado. Agora vivia sozinha, amedrontava, com a certeza de ser uma vítima, mas de um crime ainda não cometido... pelo menos não aos olhos da polícia.

Rafe está em todos os lugares. Ele persegue Clarissa, a atormenta, tira seu sono e sua independência. Ela procurou se informar, pesquisou, pegou todos os panfletos relacionados e tem certeza: Ela tem um perseguidor. E para se livrar dele, Clarissa precisa fazer uma denúncia consistente. Então, metodicamente, segue todos os passos. Tenta não falar com ele, anota tudo o que acontece em um caderno: dias, horários, interações, todas as perseguições. Clarissa guarda todos os presentes indesejados e os bilhetes, ora românticos ora ameaçadores. Arquiva psicoses. Documenta neuroses. Anota. Anota. Surta. Se recupera, continua a sua missão.

Se ela vai surtar, se ele vai passar para um nível mais violento. Só o tempo irá dizer. E ela corre contra ele. Foge. Se esconde. Vive praticamente reclusa. Se arrisca a ir no supermercado e ouve perto  de seu ouvido: Clarissa.

Antes eles eram apenas colegas de trabalho, Rafe é professor na universidade onde ela estrabalh como secretária. Infelizmente, teve um começo. Uma única noite. Em que Clarissa dormiu com Rafe após comparecer ao lançamento de seu livro. Ela sabia que seria um erro, mas foi. Nem imaginou o quanto iria se arrepender. Ela bebeu demais, ou talvez ele tenha colocado algo em sua bebida. Só se lembra de acordar no outro dia: sangrando, machucada, esfolada. Ele dormindo em sua cama, como se fosse bem vindo, como se ela fosse sua namorada.

Ela não tem ninguém, Henry não gostava de suas amigas, com o tempo, foi se afastando de todo mundo. Seus pais moram em outra cidade, ela não quer preocupa-los, então finge que está tudo bem. Sua única esperança é conseguir escapar dele por um pequeno período. Sete semanas em que ela será jurada em um tribunal e ficará afastada da universidade.  Ela tem uma missão, reunir provas e torcer para que seja suficiente.

Clarissa.

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Eu amo thrillers psicológicos, como vocês podem conferir clicando aí no link. Leio vários livros com essa premissa e sou fã desse suspense mais intimista. Normalmente temos pontos em comum. Narradoras não confiáveis, algo sinistro que pode ou não estar acontecendo de verdade, medo, paranoia. Normalmente eles vem junto com algum problema psicológico, mas nem sempre. Acreditar ou não na protagonista, que quase sempre é a única narradora, é um dos grandes dilemas dessas histórias.  

Eu sei onde você está não é um dos queridinhos dos leitores desse gênero, com média de apenas 3.7 no Skoob e 3.6 no Goodreads. E, parando para comparar, realmente temos inúmeros thrillers melhores. Só falando desse mesmo estilo (de assédio sexual e violência contra a mulher) temos No escuro, Antes de dormir, Deixei você ir etc. Esse três são realmente bem melhores.

Mas isso tira o mérito e torna essa uma leitura ruim? NÃO! O livro é bem escrito, eu fiquei angustiada até o final. A forma como Rafe repete o nome “Clarissa” milhares de vezes durante o livro é agoniante.  Eu temi por ela, queria vomitar em algumas cenas, morri de ódio dele. Narrado como um diário em alguns momentos, o leitor acompanha cada interação entre os dois, e sente na pele, o sentimento de solidão dela. Clarissa se sente perdida e sozinha, com razão. É muito difícil se comprovar assédio sexual, provar que não foi tudo consensual. Que não era tudo da cabeça dela. E a forma como a protagonista tenta seguir fielmente as dicas de como lidar com um perseguidor. Eu adorei essa parte. Clarissa foi fria, determinada. A atitude dela que pareceu uma mulher fraca no início, me surpreendeu. 

O problema? O enredo é praticamente só isso. Cada dia do julgamento, as testemunhas (o caso sendo julgado é de uma moça que foi estuprada e tem algumas semelhanças com a situação dela), as interações com Rafe e só. Tem um pseudo romance bem mal elaborado e é isso. Do meio para a frente, a história se arrastou. A atitude de Clarissa foi extremamente passiva. A paciência dela em construir um caso aos poucos foi inteligente, mas tira toda a emoção que esperamos de um thriller.

Além disso, o final também não me conquistou. Resolveu-se tudo muito rápido e com uma grande forçada de barra. E estava indo tão bem! Teve uma parte em que eu estava empolgada com o desfecho.

Para terminar, não posso deixar de ressaltar que para um livro de estreia, a autora mandou muito bem. Eu com certeza leria seu próximo livro para acompanhar a evolução.

Quem leu me conte o que achou. Se esse livro é ou não para você, a resenha está aí para ajudar. Não está entre os melhores do gênero, mas também não foi uma leitura ruim. J

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