Asiáticos Podres de Ricos – Kevin Kwan
>> sexta-feira, 4 de maio de 2018
KWAN,
Kevin. Asiáticos Podres de Ricos.
Rio de Janeiro: Editora Record, 2018. 490p.(Podres de ricos, v.1). Título Original: Crazy Rich Asians.
Sinopse: Quando Rachel Chu chega à Cingapura com o namorado, o charmoso Nicholas
Young, para acompanhá-lo ao casamento de seu melhor amigo, imaginava passar
dias tranquilos com uma simpática família, longos passeios de carro explorando
a ilha e bastante tempo ao lado do homem com quem um dia talvez fosse se casar.
Só que Nick não mencionou alguns detalhes... Como o fato de sua família ter
muito, muito dinheiro, que ela iria viajar mais em jatinhos particulares do que
de carro e que caminhar de mãos dadas com um dos solteiros mais ricos da Ásia
era como ter um alvo nas costas. Em pouco tempo, Rachel se vê transportada para
um episódio de Gossip Girl, só que na Ásia e com pessoas podres de ricas, que
não vão poupar a simples professora universitária das fofocas e intrigas. Isso
sem falar na mãe de Nick, uma mulher com opiniões bem fortes sobre com quem seu
filho deve – ou não – se casar. Um passeio pelos cenários mais exclusivos do
Extremo Oriente – das luxuosas coberturas de Xangai às ilhas particulares do
mar da China Meridional –, Asiáticos podres de ricos é uma visão do jet set
oriental por dentro. Com seu olhar satírico, suas cenas memoráveis e seus vários
momentos hiperultrafashion, Kevin Kwan traça um retrato engraçadíssimo do
conflito entre os novos-ricos e as famílias tradicionais em seu romance de
estreia, que já fez milhares de leitores chorarem de tanto rir no mundo todo.
Apenas
tomei conhecimento deste livro, um best seller internacional, quando navegava
pelo meu site de fofocas favoritos cerca de 2 anos atrás, e vi a notícia da
produção do filme, com um elenco composto por atores asiáticos – alguns já
bastante conhecidos do público. Em meio a críticas de whitewhashing (o “embranquecimento”) da indústria do
entretenimento, o anúncio do filme foi visto como um passo na direção certa, e
teve ótima repercussão. E será lançado em ótimo momento, visto que Hollywood
não se cansou de questionar a gritante diferença de oportunidade entre etnias.
Isto é algo que não está longe de nós, e um exemplo disso são as críticas
direcionadas à Globo pela falta de atores negros em papéis de destaque,
especialmente em papeis ou situações que essa ausência não pode ser justificada
por questões de “identidade criativa”. Na verdade, essa é a grande desculpa, e
que ainda bem cada vez mais vem perdendo força e embasamento.
Não
se deixem enganar pela capa laranja, os óculos escuros, as joias preciosas e o
título engraçado e agressivo: Asiáticos
Podres de Ricos é um grande exemplo de como há preconceito na área
cultural, incluindo a literatura. Eu mesmo raramente leio livros com
personagens fora dessa cultura do “embranquecimento”, e é algo que estou
tentando corrigir. Se o assunto é “Chick Lit”, ou aquela literatura recheada de
culpa, mas completamente deliciosa... Somos todos culpados, mas ao mesmo tempo
vítimas de uma indústria que simplesmente não dá o mesmo espaço a culturas e
etnias fora deste “lugar comum”. E após ler este livro eu afirmo com todas as
letras: se nesse mundo existir outros autores com metade do talento demonstrado
pelo autor Kevin Kwan neste livro, estamos perdendo obras incríveis!
Asiáticos Podres de Ricos conta a história de Rachel
Chu, uma CNA (Chinesa Nascida na América) que viaja para Cingapura para
conhecer a família de seu charmoso namorado e colega de trabalho na Universidade
de Nova York, Nicholas Young. Chegando lá, ela descobre que seu simplório e
querido companheiro de 2 anos é, na verdade, o herdeiro da maior fortuna de
toda a Ásia, com dinheiro bastante para ser considerado uma verdadeira realeza.
Eu não consigo descrever direito o tamanho da riqueza da família por que não
tem como: imagina gastar 6 milhões em uma loja quando está entediado do mesmo
jeito que a gente gasta 1 real. Imagina morar no palácio de Versalhes em
completo funcionamento, incluindo os serviçais e as damas de companhia,
especialmente criados e treinados para atender VOCÊ e SUA FAMÍLIA. Imagine
poder pedir favores pessoais para o Rei de Brunei, e ter poder de decisão nas
diretrizes econômicas da China. Sim, Nick é rico DESSE jeito.
Só
essa parte da história já seria suficiente para agradar e fazer um livro, mas o
autor não se deu por satisfeito e foi além: além do choque de culturas e da
surpresa de descobrir as origens do namorado, Rachel também tem que enfrentar
um bando de abutres, na forma de mulheres da sociedade, que vivem em eterna
competição entre si e cismaram que Rachel é uma aproveitadora. Também existem
as filhas das socialites, que enxergam Nick como o melhor partido de toda a
ilha, e não medem esforços para fazer Rachel ficar desconfortável e desistir do
namorado.
Esses
dois pontos já dariam um livro muito bom e incrivelmente engraçado, brincando
com estereótipos e criando novos, sambando na cara dos ignorantes e nos dando
cenas hilárias, que muito me lembraram o estilo de Sophie Kinsella. Mas o autor
conseguiu ir além: trocando o narrador de capítulo em capítulo, ele permitiu
que a história seja maior que Rachel, envolva a enorme, complicada e sensível
família de Nick e mostre todos os problemas e desafios que estão por trás das
aparências em ambientes familiares, independentemente de quantos trilhões de
dinheiros estão nas contas bancárias.
Com
isso, o autor criou personagens marcantes e incrivelmente acessíveis, mesmo
sendo de um mundo completamente distinto da nossa realidade. Da prima
fashionista Astrid (uma espécie de Serena Van der Woodsen asiática) até a avó
líder do Clã, passamos por personagens como o sagaz e engraçado primo Oliver, o
sombrio amigo Colin, a avoada porém ambiciosa Araminta. Porém, quem rouba as
cenas são as mães: Rachel tem uma tipicamente protetora, porém “americanizada”,
enquanto a de Nick tem completo pavor em pensar que seu filho pode se associar
com uma pessoa sem nome, sem dinheiro e sem origem. Elas roubam a cena e roubam
a história, e são coadjuvantes protagonistas.
Fechando
as últimas partes, percebi que fazia muito tempo que não me divertia e indicava
um livro com tanto fervor (e certeza de acertar na indicação, diga-se de
passagem). O humor é o que mais marcou e na minha opinião é o que mais
prevalece no livro, mas também temos ótimas doses de romance (aquele romance
gostoso, mais simples porém apaixonante), mistério (tive que me segurar para
não olhar nas páginas futuras a resolução de algumas situações), thriller e
muita história e conhecimentos gerais sobre a cultura chinesa, especialmente
aquela de Cingapura.
E
quer saber, adorei aprender desse jeito.
Tirei
uma estrela simplesmente por que eu queria mais páginas, mais história, mais
relatos. O gostinho de “quero mais” foi demais para mim!
E
agora, fiquem com o trailer da adaptação cinematográfica, que aparentemente se
chamará “Podres de Ricos”. Já percebi algumas mudanças em relação ao enredo do
livro, mas o Nick ta gato e com sotaque britânico, então não vou reclamar
muito!
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