Um Cavalheiro em Moscou – Amor Towles

>>  sexta-feira, 6 de abril de 2018


TOWLES, Amor. Um cavalheiro em Moscou. Rio de Janeiro, Editora Intrínseca,  2018. 464p. Título original: A gentleman in Moscou.


Sinopse: Nobre acusado de escrever uma poesia contra os ideais da Revolução Russa, Aleksandr Ilitch Rostov, "O Conde", é condenado por um tribunal bolchevique à prisão domiciliar no sótão do hotel Metropol, lugar associado ao luxo e sofisticação da antiga aristocracia de Moscou. Mesmo após as transformações políticas que alteraram para sempre a Rússia no início do século XX, o hotel conseguiu se manter como o destino predileto de estrelas de cinema, aristocratas, militares, diplomatas, bons-vivants e jornalistas, além de ser um importante palco de disputas que marcariam a história mundial. Mudanças, contudo, não paravam de entrar pelo saguão do hotel, criando um desequilíbrio cada vez maior entre os velhos costumes e o mundo exterior. Graças à personalidade cativante e otimista do Conde, aliada à gentileza típica de suas origens, ele soube lidar com a sua nova condição. Diante do risco crescente de se tornar um monumento ao passado até ser definitivamente esquecido, o Conde passa a integrar a equipe do hotel e a aprofundar laços com aqueles que vivem ao seu redor.

Eu não sou daquelas que compra livro pela capa. Já fui muito enganada por esse sistema, então sempre consulto minhas amigas fominhas de livros, ou os aplicativos que vieram para salvar nossas vidas, Skoob e Goodreads, antes de marcar um livro como desejado e iniciar a leitura. Um Cavalheiro em Moscou, lançamento da Intrínseca, me chamou atenção não pela sinopse, capa ou histórico do autor (desconhecido por mim até então). O que me atraiu foi sua excelente avaliação nos dois aplicativos, mesmo com diversas resenhas publicadas. O aproveitamento foi espetacular, e não tinha como fugir: minha curiosidade estava no mínimo aguçada.

O livro conta a história de Aleksandr Ilitch Rostov (e aqui cabe um parênteses para dizer o quanto eu acho sexy nomes russos), um nobre intelectual que mora no Hotel Metropol, no coração de uma Moscou (e Rússia) marcada pelas discrepâncias sociais pré-revolução, e centro dos acontecimentos após o movimento revolucionário. Acusado de anos antes ter escrito um poema que incitava a agitação política, ele encara seu julgamento com ironia e incertezas, sendo condenado a prisão no seu hotel amado. Logo, de hóspede ilustre, passa a ser morador do sótão, tendo que se desfazer de bens pessoais e familiares e questionar seus valores, preceitos e preconceitos da classe trabalhadora.

De Conde a garçom, Rostov nos guia em uma jornada de descobrimento e avaliação, cujos significados e profundidade depende do leitor. Isso muito me agrada em livros, quando nosso íntimo, nosso momento de vida dá um significado ao texto que lemos. Eu, por exemplo, estou em um momento chave de mudanças na minha vida, e levei muito dessa situação na minha interpretação. A mudança de posições, de estilo de vida, muito me tocou, e me fez refletir após encerrada a última frase.

Outro ponto positivo foi a surpresa da narrativa, especialmente no plano de fundo em que a história se passa. Estamos acostumados a ler sobre a Rússia gelada, seu inverno tenebroso, ou então suas impiedosas guerras. Aqui, em 1922 (uma década que cada vez mais me conquista e fascina), deparamos com um hotel aconchegante, quente, respeitoso. Foi diferente, incomum e uma jogada de mestre do autor. Ora, se vamos tratar de mudança de concepções e quebra de preconceitos, por que não começar com o próprio local onde se passa a história, ou o que é ainda melhor, todo o estilo literário em que tais histórias são contadas?

O que o autor conseguiu foi transformar o hotel, ao longo da história, em seu personagem principal. Rostov faz então parte da narrativa do grande protagonista. Assim como a literatura russa clássica, que tanto amo e admiro, traz a “Mãe Rússia” como personagem vivo e presente na narrativa, Towles faz o mesmo com o Metropol, um lugar quase fantástico, e muito incrível.

A Rússia e sua situação fora das portas do hotel é contada quase num sistema de telefone sem fio, por amigos e conhecidos de Rostov, que praticamente tem que montar um quebra cabeça cujo cenário ele não conhece. É um trabalho quase impossível, um tanto surrealista e muito inovador. E triste, de partir o coração. Mas o hotel está lá, é sua casa, e ele próprio é capaz de impedir ações desesperadas de um homem que quer levar sua honra até o fim. Simplesmente por que a honra do hotel é maior... coisas de protagonistas.

Por tudo isso, a leitura me agradou bastante, apesar de não fluir tão naturalmente. A história é bem desenhada, mas falta um pouco mais em sua construção: passagens são mais dinâmicas que outras, alguns personagens precisam de mais (e outros de menos), mas minha impressão final é mais positiva do que negativa.

Indico a leitura especialmente para quem gosta de um livro com temas históricos que não sejam descritivos e fujam do óbvio. Esse é o público alvo, e acertará em cheio!

Avaliação: 

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