A mulher na janela - A. J. Finn
>> quarta-feira, 18 de abril de 2018
FINN,
A. J. A mulher na janela. São Paulo:
Editora Arqueiro, 2018. 352p. Título original: The woman in the window.
“Um dos meus
pacientes mais precoces costumava iniciar suas sessões dizendo “Sei que é
estranho, mas...” E em seguida relatava fatos e experiências que de estranhos
não tinham nada. Pois é assim que me sinto agora. É estranho, muito estranho,
mas tudo aquilo que até agora há pouco me parecia urgentíssimo (ou que desde
quinta-feira me parecia urgentíssimo), de uma hora para outra perdeu toda a
importância. Jane. Ethan. Aquela mulher. Até mesmo Alastair.
Estou rodando
com meu tanque na reserva, apenas como o valor da gasolina. Ou com o vapor do
vinho, diria Ed, o piadista de sempre.
Amanhã falo
com eles também. Com Ed e Livvy.” p.227
Sempre
me sinto repetitiva por aqui ao começar uma resenha com “vocês sabem que eu
adoro suspense”,
mas inevitavelmente, sinto que preciso explicar meu amor pelo gênero, que eu
leio todos os livros possíveis sobre o assunto e que adoro as surpresas
envolvidas. Adoro matar as charadas, e depois de tantos livros, o autor ganha
muitos pontos comigo quando não consigo acertar os desdobramentos. Será que
isso aconteceu hoje? Confiram o que achei da estreia do americano A. J. Finn com A mulher na janela.
Anna Fox é uma mulher sozinha e
solitária. Separada do marido Ed e também
da única filha Olívia, ela passa os
dias tentando sobreviver à solidão, ao marasmo e a sua doença. Anna é uma
psicóloga infantil, por anos cuidou de pacientes com todos os tipos de problema,
até que após um trauma, ela agora também é uma paciente. Anna não sai de casa
há mais de onze meses, desenvolveu agorafobia. Ela não consegue nem ir até o jardim de
sua casa enorme. Alugou o sótão para um inquilino que ajuda com pequenas
tarefas como jogar o lixo fora, pegar correspondência e tudo o mais que envolva
o mundo exterior. Faz suas compras todas pela internet.
Com
tanto tempo livre, muito vinho, muitos medicamentos e pouca coisa para fazer - ela só tem as consultas com o seu psiquiatra e as sessões de fisioterapia-, Anna passa os dias jogando xadrez online, conversando com estranhos na Internet e
espionando os vizinhos...
E
é assim que ela fica “conhecendo” a família que acabou de se mudar para sua
rua. Os Russels – pai, mãe e filho adolescente. Ela fica obcecada com a rotina
da família aparentemente perfeita, até que em uma noite, bisbilhotando através
de sua câmera, ela presencia uma cena aterrorizante.
Mas
será que o que ela viu é digno de crédito? Uma mulher solitária, bêbada e a
base de medicamentos seria confiável? Todo o seu mundo é colocado em cheque.
Fantasia ou realidade? Alucinação? Nem mesmo Anna sabe ao certo.
~~~~~~~~~~
Já
vou começar chutando o pau da barraca! É muita audácia de qualquer sinopse
comparar alguém com Hitchcock, ignorem
isso, até porque não tem NADA EM COMUM (a não ser alguém numa janela e uma
câmera dã) e sigam em frente. Deve ser por causa de Uma janela indiscreta, referência óbvia e inadequada. Se querem
comparar, vamos falar de A
garota no trem, esse sim, me lembrou tanto que chegou a incomodar...
As
semelhanças entre os livros são enormes! Protagonista bêbada e desacreditada,
que viu algo em quem ninguém acredita, algo que sequer existe e que no final,
nem ela sabe se viu mesmo. Uma viu através do trem, outra através da janela. As duas são solitárias e não fazem nada da vida. Uma sofria pelo abandono do ex, ah, a outra também. Inicialmente é tudo muito
parecido. Mas temos diferenças importantes, que para mim, salvaram esse livro
(não sou lá fã de A garota no trem).
O
primeiro é que Anna é bem menos chata! O segundo é que o descontrole emocional dela
foi compreensível (eu matei logo no início qual era o trauma). A Rachel de A garota no trem levou um pé na bunda,
eu passei o livro todo pensando: supere, siga em frente, acorda pra cuspir sua
chata rs. Anna não, Anna tinha motivos reais para um sofrimento e um trauma
assim. A bebida foi consequência. O terceiro, é que Anna é uma protagonista
inteligente, e consequentemente, isso torna interessante acompanhar seus
devaneios. Mesmo eu que odeio personagens alcoólatras, não consegui ter birra
dela. Claro que irritou, bastante, mas dava para compreender rs. Foi
interessante ver uma psicóloga, que sabia explicar racionalmente todos os
problemas que estavam acontecendo, sabia que não podia misturar remédios com
bebidas, fazia isso mesmo assim. Que sabia como teria que ser seu tratamento,
mas fazia tudo ao contrário. Outra coisa
interessante é que Anna tenta ajudar outras pessoas
que sofrem da mesma fobia, através de um grupo online. Poderia ter sido mais desenvolvido essas conversas,
mas gostei bastante.
ATENÇÃO:
pule isso se odiar qualquer tipo de spoiler e vá para o próximo parágrafo.
Anna é complexa e no final me fez questionar algo que ainda não consegui
responder. O que faz alguém seguir em frente e ainda ter vontade de viver? No
final, em uma cena onde ela luta como uma leoa para viver, eu pensava. Mas por
quê? Porque ela não parou e pensou “huhu vou morrer, beleza”. Ela era uma
mulher sozinha, que não saia de casa, que não tinha ninguém e que abandonou a
profissão. O que fazia Anna seguir em frente? Qual a motivação para querer
sobreviver? Ela não tinha esperança, não tinha objetivos... Apenas instinto? Ainda
não tenho respostas, embora a própria personagem questione isso no livro e tente
responder. Quem leu e quiser compartilhar sua opinião sobre isso, vou ficar muito contente.
Voltando
a trama (oi você que pulou um parágrafo, resista, continue sem olhar), o
suspense tinha três pontos importantes. 1) O mistério em torno da vida da
protagonista e o que a fez ficar daquele jeito e o porquê do divórcio. 2) Se realmente tinha
acontecido algo com os vizinhos e o que foi. 3) Se o 2 fosse verdade, quem foi?
O 1 estava na cara, tanta a parte do que tinha acontecido, quanto a parte do
porque do divórcio, coisa de escritor iniciante mesmo (porque ele conseguiria
fazer isso sem o leitor desconfiar logo de cara). Até achei que gostaria bem
menos do livro por causa disso. O 2 eu desvendei logo, mas não sou inexperiente
no gênero cof, cof. O 3 me surpreendeu! O 3 se alguém falar que matou a charada
eu truco na hora rsrs. O 3 me fez subir a avaliação final do livro e terminar
chocada! O final em si foi exageradamente cinematográfico, mas eu comprei a
história. Eu quero muito ver isso no cinema!! O filme
vai rolar e só espero que eles não mudem nadinha! Talvez eles consigam
deixar o item 1 menos óbvio, seria legal rsrs.
O
foco é Anna do início ao fim, mas eu gostei dos outros personagens, eles não
foram suficientemente desenvolvidos, mas isso fez sentido com a ideia central
da trama.
Para
quem curte suspense esse livro vale a leitura. E a leitura flui bem, apesar do
cenário limitado, quando eu vi, já tinha devorado meio livro. A narrativa
prende, o leitor se envolve. E agora
quem já leu me diz, o que vocês acertaram? Esse vale a compra, leiam!
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