Geekerela - Ashley Poston
>> quarta-feira, 14 de março de 2018
POSTON. Ashley. Geekerela. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017. 384 p. Título
original: Geekerella.
Nunca fui uma garota de “contos de
fadas”. Ao contrário da maioria das meninas, não curto muito as princesas da
Disney e aquele negócio todo de príncipe encantado e blá blá blá. Mas conheço
todas elas. Contraditoriamente, sou a primeira a me oferecer para assistir e
ler livros que façam releituras de contos de fadas. Já li novas versões de A bela e a Fera, Bela adormecida, mas as que mais me atraem e me fazem querer ler
são as releituras de Cinderela. Antes
de Geekerela, o livro de que mais
gostei, dos que remetem a essa história, foi Cinder e Ella. E, apesar de já saber como esse conto de fadas
terminará, não consegui resistir e tive que ler Geekerela.
Danielle, ou Elle, como é chamada pelas
pessoas próximas, é uma adolescente de 17 anos que vive em Charleston, nos
Estados Unidos, com a madrasta Catherine (ou “pessimadastra”, como Elle a
chama) e as gêmeas, Chloe e Calliope, filhas de outro casamento de
Catherine. Ela é órfã de pai e de mãe e é a típica gata borralheira. É
maltratada pela madrasta e pelas “irmãs postiças”, e obrigada a trabalhar na
casa como uma empregada (sem remuneração, claro), apesar de ter herdado o
imóvel quando os pais morreram. Tem seu horário controlado, com toque de
recolher e tudo, e não pode fazer nada sem autorização da madrasta.
Os pais de Elle eram fãs de ficção
científica e outras coisas nerds, em especial uma série de TV dos anos 80, no
estilo de Star Trek, chamada Starfield. O pai de Elle era tão fã que, junto com
algumas pessoas também fãs, fundou a ExcelsiCon, uma convenção para fãs de
sci-fi e, principalmente, de Starfield. Elle, com o tempo, se tornou fã da
série e assistia com o pai às reprises que eram exibidas, e o acompanhava nas
convenções.
A mãe de Elle morreu quando ela era
muito pequena, de modo que ela não tem muitas lembranças da figura materna. Já
o pai faleceu quando ela tinha 14 anos e, desde então, a vida de Elle virou um
inferno, já que fica submetida às perversidades da madrasta e das irmãs
postiças.
Para ganhar um dinheiro para sobreviver
e, quem sabe um dia, sair de casa, Elle trabalha em um food truck de comida
vegana chamado Abóbora mágica. O carro já está velho, mas chama a atenção por
onde passa por causa de sua cor chamativa e pela colega de trabalho de Elle,
Hera, que tem o cabelo verde curto e um monte de piercings no rosto. Nas horas
vagas, Elle escreve em seu blog, chamado Artilharia rebelde, que criou para
manter contato com outros fãs de Starfield.
Um belo dia, ela recebe a ótima notícia
de que Starfield vai ganhar um remake em forma de filme, ao mesmo tempo em que
descobre que nada mais nada menos que Darien Freeman, o ídolo teen do momento,
e de quem Elle tem verdadeiro pavor, vai estrelar o filme. Ela fica sabendo
também que haverá uma convenção na ExcelsiCon (aquela fundada pelo seu pai e à
qual ela não comparece desde o falecimento dele). Nessa convenção haverá um
concurso de cosplay cujo prêmio maior será participar de um baile de máscaras
com Darien Freeman e ganhar ingressos para a première do filme em Los Angeles.
Ela decide que vai participar do concurso para honrar o amor de seus pais pela
série e porque quer demais assistir ao filme na première. Ela só não contava
com o que ia ter que passar para chegar lá. Se chegasse.
Não imaginava, ainda, que ia encontrar,
nas mensagens enviadas por um misterioso contato, força para lutar contra sua
madrasta e suas odiosas irmãs falsas, e finalmente seguir seus sonhos.
De outro lado temos Darien Freeman, o
famoso ídolo teen que vai estrelar o remake de Starfield. Os motivos que o
fizeram aceitar o papel vão muito além do dinheiro e da fama. É que, apesar de
não falar muito sobre o assunto, Darien é fã da série desde que se entende por
gente e sabe cada detalhe, cada fala, cada um dos 54 episódios. Na verdade, o
Darien que ele aparenta para as pessoas, para os fãs, nada mais é do que um
personagem, que serve para esconder quem ele realmente é: um cara normal, fã de
Fanta laranja, inseguro e que não gosta do que faz. Ou até gosta, mas não da
forma como seu empresário (que também é seu pai) conduz sua carreira. Ele se
sente sufocado e, às vezes, queria desistir de tudo e ser alguém normal, mas
seu pai não mede forças para que seu maior investimento (Darien) lhe dê mais e
mais lucro.
Um belo dia, por acaso, ele começa a se
comunicar via mensagem com uma misteriosa moça que também é fã de Starfield, a
única pessoa que faz Darien se sentir como ele mesmo e querer ainda mais outras
coisas da vida que não envolvam fãs malucas, dinheiro e outras loucuras. Mas,
se ele vai ter coragem de revelar a essa garota quem ele é, aí é outra
história.
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Começando pelo início, acho de bom tom
explicar o título. Muita gente, ao lê-lo pela primeira vez, franziu o cenho e
olhou pra mim com uma cara tipo: “Como assim?”. Então explico: Geekerela vem da
junção das palavras GEEK + CINDERELA. Tenho certeza de que um pouco do motivo
você já entendeu lendo o imenso resumo que fiz ali em cima. O restante deixo
para a história contada ao longo das 384 páginas revelar.
Seguindo, o livro é narrado em primeira
pessoa, alternadamente, por Elle e Darien. Elle é o tipo de personagem sofrida
que me agrada, porque não exagera nem fica se fazendo de forte sem ser ou de
vítima. Darien me ganhou no primeiro capítulo narrado por ele, quando percebi
que não era o garanhão que a TV pregava e, principalmente, quando ele mostra
toda a sua insegurança e “normalidade” que nenhum fã seria capaz de conhecer.
Tive muita raiva de Catherine, a
madastra, e de Chloe, uma das gêmeas. Mãe e filha são tão parecidas que não sei
dizer quem eu queria mais esfregar a cara no muro de chapisco. Hera, a colega
de trabalho de Elle, é tão, mas tão, mas tão legal, que eu queria tê-la como
amiga também. O pai de Darien, Mark, também é um babaca; não me admiraria se
ele conhecesse Catherine, os dois se apaixonassem e se casassem e tivessem
“monstrenguinhos”. Formariam uma dupla bem cruel.
Há outros personagens que são legais,
mas com uma participação menos importante, logo, vou deixar para que vocês os
conheçam ao longo da leitura.
Em relação à história e ao enredo,
apesar de já sabermos como tudo vai correr por se tratar de uma releitura de
Cinderela, não tem como não se envolver com a releitura que é construída em
cima desse conto de fadas.
Ao longo da história me lembrei muito
de Cinder e Ella, sobretudo na questão de ter uma fã de uma história específica
e um cara misterioso que conversa com ela por mensagem; mas, mesmo assim, as
histórias conseguem ser bem diferentes ainda que tão semelhantes.
É um livro muito fácil de ler. A autora
escreve de forma fluida, então fui lendo e lendo e, quando vi, já estava no
final. As tiradas são engraçadas, o sofrimento da personagem e a saudade que
ela sente dos pais são quase palpáveis. Senti um misto de sentimentos que só
não sentiria se eu fosse uma Catherine ou um nox (um monstro de Starfield).
A forma com que a autora apresenta
Starfield me deixou tão interessada que cheguei a pesquisar no google pra ter
certeza de que a série não existia.
Concluí a leitura com um sorriso no
rosto, o coração quentinho e uma vontade imensa de voltar para a primeira
página e ler de novo.
Só posso dizer, então, que todos
precisam ler esse livro. Nem que seja para desobstruir o cérebro de outra
leitura mais pesada. Se você é fã de histórias como Star Trek e Star Wars, vai
querer; se é fã de contos de fadas e suas releituras, deve ler; se não gosta de
nada disso, leia assim mesmo, porque você corre um sério risco de gostar. E
riscos assim são sempre bons correr! E, como diz o “ditado”: “Apontar para as
estrelas. Mirar. Disparar!”.
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