Belas adormecidas - Stephen King e Owen King

>>  quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

KING, Stephen; KING, Owen. Belas adormecidas. Rio de Janeiro: Suma, 2017. 728 p. Título original: Sleeping beauties. 

Adoro os livros do King, apesar de ter lido poucos. Quando fiquei sabendo que ele tinha escrito um junto com seu filho Owen, fiquei com muita vontade de saber qual foi o resultado dessa dupla. A primeira coisa que percebi foi que teria pela frente 728 páginas de história para conhecer. Após 32 anos de vida, foi a primeira vez que li um livro tão grande, e divido com vocês minha opinião sobre a história.

Dooling é uma pequena cidade dos três condados dos Apalaches, nos Estados Unidos. Todos se conhecem e vivem seus papéis de moradores e trabalhadores como manda o figurino. Algumas vidas são vividas apenas de aparências, mas quem vai julgá-los?

Um belo dia, aparece na cidade uma mulher misteriosa que mata dois conhecidos fabricantes de metanfetamina que vivem em um trailer. Ela destrói o laboratório que eles usavam para fabricar a droga. Junto com a misteriosa moça, chegam à cidade, aparentemente, grupos imensos de mariposas que ninguém sabe de onde vieram. Simultaneamente, começam a aparecer nos jornais notícias de mulheres que se deitaram para dormir e, de repente, estavam envoltas em um casulo feito basicamente de catarro, cera e algum outro elemento pegajoso.

Não demorou muito para que o povo da cidade começasse a pensar que a chegada da mulher misteriosa, que diz se chamar Evie, tinha total ligação com o denominado “vírus Aurora”.

Quando esse fenômeno começa a acontecer, todas as mulheres que não haviam ido dormir começam a buscar todas as formas possíveis para se manterem acordadas, enquanto os maridos e filhos das que dormiam perdiam a cabeça, sem saber se teriam suas mulheres, filhas, irmãs, mães de volta.

Uma coisa era certa: o casulo não podia, em hipótese alguma, ser removido. Caso fosse, a mulher acordada se tornava uma fera com uma força brutal e destruía sem qualquer piedade seu “agressor”, voltando a dormir em seguida.

Evie, presa pela xerife na cadeia feminina da cidade após matar os traficantes de metanfetamina, parece ser a única mulher a dormir e acordar normalmente, sem ficar presa em um casulo e sem agredir quem a acordasse. Mas o que ela tem de especial? Como ela consegue não ficar presa na casca nojenta? Ela seria responsável pelo que estava ocorrendo ou seria apenas uma mulher imune ao “vírus”? Parte dos homens e das poucas mulheres ainda acordadas acreditava que ela era a responsável pelo que estava acontecendo e deveria ser obrigada a resolver a situação e salvar as demais “belas adormecidas”. Outros acreditavam que ela devia ser protegida.

O certo é que não se podia esperar que tudo transcorresse calmamente quando homens estão tentando resolver tudo. Segundo Evie, brigar, bater e atirar é o jeito que os homens têm de resolver suas questões.

Enquanto isso, a pergunta que não quer calar é: será que as mulheres morreram? Estão dormindo? Pra onde elas foram?

Aqueles que ficaram acordados farão de tudo para terem as mulheres de volta, custe o que custar.

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É muito difícil organizar as ideias, depois de tantas páginas, para explicar o que foi esta história. Sempre fica a impressão de que faltou alguma coisa, mas vou tentar.

Logo nas primeiras páginas, encontramos uma lista com os nomes das pessoas que estão envolvidas na história e o que são ou fazem. Com isso, o leitor já tem uma prévia do que enfrentará ao longo das 728 páginas.

Há alguns personagens que são de suma importância para a trama toda, e por alguns quero dizer muitos, portanto, eles precisam mesmo ser listados. São eles: a família Norcross, composta por Lila (a xerife), Clint (psiquiatra da prisão feminina e marido de Lila), Jared (filho de Lila e Clint); Jeanette (uma das detentas da prisão), Vanessa Lampley (uma das guardas da prisão feminina); Frank Geary (o cara do controle de animais), Elaine Geary (ex-mulher de Frank) e Nana (filha de Geary e Elaine); Terry Coomb (um dos policiais que trabalha com Lila); Janice Coates (diretora da prisão feminina) e Michaela Coates (filha da diretora Coates); Dr. Garth Flickinger (cirurgião plástico viciado em metanfetamina que ajuda Michaela e o pessoal da prisão em determinado momento); Willy Burke (um senhor que trabalha na brigada de bombeiros da cidade e que ajuda Lila em várias situações).

Os capítulos do livro possuem subcapítulos que se destinam a contar o que está acontecendo, naquele determinado momento, com um desses personagens. No início fiquei morrendo de medo de me perder na história e no meio de tantos personagens, mas King é King, né, gente? Nada de ficar perdida!

O livro traz como premissa evidente o empoderamento da mulher e a mensagem clara de que, mesmo sendo machistas, os homens não conseguiriam viver sem elas. Traz também o grande conflito ainda vivido pelas mulheres, que, mesmo empoderadas, ainda que inconscientemente, se mantinham submissas, quietas e silenciosas diante de tratamentos agressivos, abusos e traições por parte dos homens.

É nesse sentido também que compreendi o título do livro, uma espécie de metáfora em relação a essa contradição vivida pelas mulheres, que estão “adormecidas” para o tratamento agressivo e para as coisas ruins que sofrem, contra as quais, muitas vezes, sequer têm forças para lutar.

O poder feminino é claramente demonstrado pelo fato de as mulheres ocuparem importantes cargos na cidade, com o de xerife e o de diretora da cadeia feminina. Além disso, apesar do “vírus Aurora” atingir apenas as mulheres, fazendo-as adormecer, vemos que ainda assim as personagens femininas são maioria na história.

Mesmo com esse domínio feminino, ao longo do texto há muitas cenas machistas que dão vontade de atirar o livro na parede – e mais ainda quando, esse machismo vinha de uma personagem feminina, e não masculina, como seria de se esperar.

Agora, deixo um recado para fãs de King que esperam ler esse livro em busca daquele terror costumeiro: esqueçam! Apesar de haver algumas cenas que deixariam pessoas com boa imaginação enjoadas, não acho que seja um livro de terror.

Após um determinado número de páginas (possivelmente depois de 500), comecei a sentir uma espécie de entorpecimento e só queria que o livro acabasse. Não sentia mais nada, não sabia dizer se estava gostando ou não, e terminei apenas com o sentimento de alívio pelo livro ter acabado, finalmente. Acho que talvez King tenha tido a intenção de causar no leitor algo parecido com o que ocorria com as “belas adormecidas”. Mesmo assim, para mim, não houve uma página sequer que tenha sido desnecessária no livro.

Sobre o desfecho, ele não foi o que eu esperava para a maioria dos personagens, o que decepcionou um pouco. Claro que alguns mereceram os desfechos que tiveram, e eu cheguei a comemorar em voz alta (juro!); isso compensou minha frustração com os desfechos de que não gostei. Em todo o caso, a história em si é muito boa e vale a pena pra quem já curte os livros do autor.

Se você nunca leu King (pai ou filho, ou ambos), deixo minha humilde opinião de que não deve começar por este livro. Comece por Zona morta, que é meu favorito até o momento, ou por O iluminado, mas não por Belas adormecidas.

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