Sonata em Auschwitz - Luize Valente
>> quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
VALENTE. Luize. Sonata
em Auschwitz. Rio de Janeiro: Editora Record, 2017. 378
p.
Na maioria
das vezes, livros que tratam sobre o período da Segunda Guerra Mundial me
atraem. Basta ver a capa, o título, pronto, quero ler! Com Sonata em
Auschwitz não foi diferente. Sim, é um livro nacional, o que me deixou
ainda mais curiosa para conhecer a história. Até hoje acho que só dois dos
livros que li sobre o assunto não me encantaram e achei fracos. Este livro,
felizmente, não estava entre eles.
Amália é
portuguesa e filha de pais alemães que não gostam de falar sobre o passado
nazista. É bisneta de uma senhora, Frida, de cuja existência Amália
só tomou conhecimento ao interceptar uma ligação telefônica entre o pai e a avó
paterna, Gretl. Frida também tem um passado obscuro em
relação ao período de 1944. E tem um avô, Friedrich, que ela não
sabia que era seu avô e que, aparentemente, é um herói. No telefonema
interceptado, Amália ouve Gretl suplicar ao filho que visite a avó, Frida, que
está completando 100 anos e não tem mais nenhuma pessoa próxima. Por Friedrich,
ele precisa fazer isso. Então, Amália descobre que seu passado pode ser
totalmente diferente do que imagina. Então, decide ir atrás de sua bisavó para
tentar entender, principalmente, por que o pai tem tanta vergonha de seu
passado e de seus parentes e por que ele deixou tudo e todos para trás para
viver em Portugal. E, afinal, quem é esse misterioso Friedrich mencionado no
telefonema?
Ela vai para
a Alemanha atrás de Frida, que lhe conta tudo o que lhe é possível sobre o
passado. Amália fica sabendo que Friedrich salvou um bebê recém-nascido, judeu,
retirando-o o de Auschwitz, Polônia, logo após o nascimento, e que, por isso,
era considerado um herói. A criança, uma menina, que teria sido registrada com
o nome de Haya, vivia no Brasil com a mãe, Adele. Frida
diz a Amália que tentou contato com as duas, ao saber de sua localização, a fim
de saber de Friedrich, que ela nunca mais viu e sente que ainda pode estar
vivo, mas nunca obteve retorno. Frida, então, implora a Amália que vá atrás das
duas e descubra se seu filho ainda está vivo e o que teria acontecido, caso já
tenha falecido. É quando Amália viaja em busca de respostas.
______
O livro é
dividido em cinco partes, e cada uma é intitulada com o nome de um personagem
que faz parte do passado que está sendo contado a Amália. Essas partes são
narradas, alternadamente, em terceira pessoa e em primeira pessoa por algum
personagem. Durante a maior parte do tempo, Amália é quem narra, mas, à medida
que vamos avançando, o personagem cujo nome dá título àquela parte assume a
narrativa. Parece confuso? Não achei, rs. Achei diferente. Foi a primeira vez
que li um livro assim e até gostei.
O contato que o leitor tem com o que aconteceu na época da Segunda Guerra Mundial, ocorre pelo ponto de vista dos judeus. Aqueles que foram tratados como lixo,
chamados de "pedaços", de criaturas, e por isso a leitura se torna
muito intensa e triste, é duro conhecer a visão daqueles que
presenciaram tamanha crueldade. De Amália, a única que não passou por nada
disso, temos a visão daquela que se sentiu enganada e no escuro durante toda a
vida por viver numa mentira e na escuridão sobre o passado de sua família.
É tudo tão
cruel, intenso, sujo, real que não tem como não sentir como se estivesse
presenciando cada momento que é narrado no livro. Em determinado trecho,
cheguei a imaginar o cheiro da podridão dos corpos. Não chorei, mas fiquei com
o coração apertado o tempo todo.
Gostei de todos
os personagens de forma geral, mas me apeguei mais a Adele e Friedrich,
principalmente por terem sido, de certa forma, os mais atingidos na história
toda que foi contada a Amália. Apesar do que todos passaram, ninguém passou
pelo que esses dois passaram, o que me causou muita empatia por
eles.
O livro,
apesar de ser ficção, é baseado em dados e fatos reais da história e em
depoimentos de pessoas que estiveram mesmo em Auschwitz. Uma criança realmente
nasceu lá. Maria Yefremov, hoje com quase 100 anos, foi a inspiração da autora
para escrever o livro. Maria deu à luz a uma criança em Auschwitz, mas nunca
soube o que aconteceu com seu filho. O livro não trouxe nenhuma novidade em
relação à guerra, claro, mas o papel de cada personagem na história que Amália
foi buscar e o desfecho de cada um deles foram muito bem construídos e, em
relação a alguns, surpreendentes.
A Sonata que
deu nome ao livro também existe de verdade! Quem compôs foi o sobrinho da
autora, Antônio Simão (que inspirou o personagem de Friedrich), e tem o nome de
“Sonata para Haya”, servindo, junto com o depoimento daqueles que estiveram no
campo de concentração de Auschwitz, de inspiração para a construção dessa grande
história.
Se você,
assim como eu, ficou curioso para ouvir a “Sonata para Haya” ou ficou
imaginando como seria, é só acessar a página da escritora e ouvi-la: http://www.luizevalente.com/. Está
disponível logo na página inicial!
Os pontos negativos: acho que houve um leve excesso de narrativa
em algumas partes com a repetição de algumas passagens, o que eu achei
desnecessário. Isso incomodou um pouco, ficou cansativo. Outro ponto que me
incomodou foi em relação ao pai de Amália. Queria que ela, após descobrir o que
ela descobriu sobre o passado, sobre sua família, tivesse confrontado o pai. De
certa forma, ansiei que isso acontecesse o tempo todo, mas o final tomou um
rumo diferente do que eu esperava em relação a ele.
E, por essa
razão e por eu não ter chorado (o que é bem estranho em se tratando de mim com
livros do gênero, rs), o livro não levou nota cinco. Acho que muita gente
consideraria que o fato de não chorar não seria motivo para diminuir a nota,
mas é meu critério para livros que falam sobre algo tão triste, sorry. Mesmo
assim, indico para todo mundo que gosta de ler sobre o período da Segunda
Guerra, e, para os que nunca leram nada sobre o assunto, é um ótimo jeito de
começar.
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Avaliação (1
a 5):