Fera - Brie Spangler
>> quarta-feira, 18 de outubro de 2017
SPANGLER. Brie. Fera. São Paulo: Editora Seguinte, 2017. 384 p. Título original: Beast.
Sinopse:
Dylan não é como a maior parte dos garotos de quinze anos. Ele é corpulento,
tem quase dois metros de altura e tantos pelos no corpo que acabou ganhando o
apelido de Fera na escola. Quando ele conhece Jamie, em uma sessão de terapia
em grupo para adolescentes, se apaixona quase instantaneamente. Ela é linda,
engraçada, inteligente e, ao contrário de todas as pessoas de sua idade, parece
não se importar nem um pouco com a aparência dele.
O
que Dylan não sabe de início, porém, é que Jamie também não é como a maioria
das garotas de quinze anos: ela é transgênero, ou seja, se identifica com
o gênero feminino, mas foi designada com
o sexo masculino ao nascer. Agora Dylan vai ter que decidir entre esconder seus
sentimentos por medo do que os outros podem pensar, ou enfrentar seus
preconceitos e seguir seu coração.
Dylan vive com sua mãe e não gosta de sua aparência.
Seus quase dois metros de altura (herdados do pai, falecido quando Dylan tinha
apenas 3 anos) e a quantidade de pelos que cobrem seu corpo, sempre fizeram as
pessoas pensarem que ele nada mais é do que um jogador de futebol americano brigão. Muito músculo e zero cérebro, um “instrumento” utilizado pelo seu
melhor amigo, JP, para cobrar dívidas que outros alunos na escola possuem com
ele. Dylan se vale de sua cabeleira e seu boné para tentar se esconder das
pessoas, embora seu tamanho dificulte um pouco as coisas.
Um belo dia, a escola em que estuda cria uma nova regra:
nenhum rapaz pode ter o cabelo grande e nem usar boné, afinal, é uma escola
católica! Dylan então é obrigado a raspar tudo e se mostrar para todo mundo sem
nenhum disfarce. Isso o incomoda tanto que, ao chegar em casa, ele sobe no
telhado para pegar uma bola de futebol americano, cai de lá de cima e quebra a
perna.
Um acidente, um mal-entendido, e Dylan é enviado para a
terapia de grupo, onde conhece Jamie. Ele fica impressionado por ela não se
incomodar com o tamanho dele, fica sonhando acordado e acaba por não prestar atenção na
informação mais importante sobre Jamie. Os dois passeiam juntos e ele fica cada
dia mais encantado. Até o dia que ele descobre que ela é trans (para ela,
obviamente, ele já sabia) e não age como se tivesse descoberto o paraíso, e a vida
dos dois vira um verdadeiro caos.
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Sempre curti livros que tratam de assuntos polêmicos. É
bom ver como o autor trata o tema, o quanto pesquisou sobre e como construiu a
estrutura da estória e dos personagens, se pautando nas pesquisas e no
conhecimento sobre o assunto.
Contudo, apesar de ser um assunto polêmico que me chama
bastante atenção, e de eu ter curtido a estória como um todo, alguns pontos
deixaram a desejar e não comprei a ideia de algumas cenas. Não comprei,
inclusive, o fato de ter sido apresentado como uma releitura de A bela e a
Fera. Mas vamos então aos pontos mais importantes.
“Dylan
e Jamie sempre foram julgados pela aparência, e não pelo que são
– Até encontrarem um ao outro.”
Essa frase, destacada na contracapa, já deixa claro que o propósito do livro é tratar, basicamente, de como as pessoas estão
presas à aparência e não ao que realmente são; do “pré-conceito” que temos ao
olhar para alguém, ainda que não seja intencional; de como ocupamos nosso tempo
tentando manter aquilo que todo mundo vê e nos preocupando com o que os outros
vão pensar, em detrimento do que somos e do que queremos ser e fazer,
independente da opinião alheia. O meio encontrado pela autora de passar isso ao
leitor foi através da transexualidade de Jamie e da paixão de Fera (que tem
graves problemas com a própria aparência) por ela.
O conflito relacionado ao ponto principal da estória – a
transexualidade – é narrado pelos olhos de Dylan. Um brutamonte que todo mundo
pensa ser apenas músculos e burrice, o típico jogador de futebol americano
(SQN). Ele apaixona-se por Jamie e, ao longo do livro, acompanhamos todas as
suas reações em relação a ela, como quando descobre sua transexualidade e quanto aos seus conflitos internos em relação aos seus sentimentos. Foi bom
poder ter acesso aos pensamentos e sentimentos dele como narrador, apesar de
não ter concordado em alguns momentos.
JP, o melhor amigo de Dylan, é um verdadeiro babaca e eu
senti raiva dele o livro todo por ser tão mesquinho e manipulador. Se a
intenção era passar outra impressão, não colou pra mim. Entretanto, não quer
dizer que ele não estivesse do lado do amigo para apoiá-lo se decidisse ficar
com Jamie e enfrentar tudo e todos, ainda que não tenha demonstrado isso da
melhor forma.
O preconceito da mãe de Dylan, disfarçado sob a máscara
de “preocupação de mãe com a felicidade do filho”, me irritou profundamente ao
longo da estória. Sempre espero por mães legais, e a quebra de expectativa em
relação a isso me chateia de verdade.
Uma pena o livro não ter também a visão de Jamie. Temos
acesso apenas àquilo que ela expõe nos diálogos. Achei um pouco cansativa a
insistência dela de que vive em um mundo perfeito, sem preconceito, e que Fera
não precisa se preocupar. Queria ter sentido mais empatia por ela, mas não me tocou.
Dylan, por outro lado, me ganhou logo de cara. Ainda que
às vezes eu tenha sentido vontade de bater nele, principalmente por ter passado
o livro todo esperando um “sinal” do pai falecido. No início foi bonitinho, mas
depois foi canseira ele usar isso como desculpa para não tomar as atitudes que
deveria, mesmo que ele tenha assumido isso depois. Poxa, ele é
adolescente, é o momento de errar mesmo! Pior é não fazer nada! Foi bem irritante
essa parte, sério.
Ainda que não pareça, eu curti a estória e indico. Serve
para refletir, para rir (tem umas tiradas bem engraçadas), para se irritar, até
para encher os olhos de lágrimas, e bom
para dar um tapa na cara sobre julgar as pessoas pela aparência ou pela
sexualidade, ainda que faça isso discretamente.
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Avaliação (1 a 5):