Aqui Estou – Jonathan Safran Foer
>> sexta-feira, 15 de setembro de 2017
FOER, Jonathan Safran. Aqui estou. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. 592p. Título
original: Here I Am.
Sinopse: Após onze
anos de espera, Jonathan Safran Foer, um dos mais aclamados nomes da literatura
deste século, retorna ao romance com Aqui estou. Assim como nos celebrados Tudo
se ilumina e Extremamente alto e incrivelmente perto, o autor apresenta uma
narrativa que, partindo do doméstico, transborda universalidade ao contar a
história de uma família judia em Washington que vive um momento de crise, ao
mesmo tempo que um terremoto de grandes proporções atinge Israel, gerando ainda
mais instabilidade política e social na região e abalando também as convicções
de cada um dos personagens e a própria estrutura familiar. Captando com
precisão o espírito caótico de nosso tempo em uma trama pontuada por casamentos
em xeque, cidades devastadas e opiniões polarizadas, Foer reflete sobre os
conceitos de felicidade, tristeza, vida, morte, amor, intimidade, sexualidade,
religião, ceticismo, tradição, tecnologia, cultura, passado, presente e futuro.
Considerado um dos melhores livros de 2016 pela crítica (The New York Times,
Time Magazine, Times Literary Supplement), Aqui estou é uma obra impactante,
engraçada e, acima de tudo, urgente.
Você conhece Jonathan
Safran Foer (daqui para frente carinhosamente chamado JFS)? Se sim, sabe
que é um dos autores queridinhos dos últimos 20-15 anos, um dos poucos que
conseguem misturar com maestria: humor, drama, ironia e lições de vida. Se você
não conhece, apresento a vocês um grande contador de história.
JSF é um autor inteligente. Dá para ver isso no
seu texto, na escolha das palavras, nas caracterizações, nas dramatizações. Seu
dom é saber desvendar mistérios e dar informações no momento certo, nunca antes
nem tarde demais, de forma a extrair o exato sentimento que pretendia. Vários
tentam, poucos conseguem. JSF consegue, e cria uma história com personagens fracos
porém fortes, problemáticos porém aptos a mudanças, dicotômicos porém
estigmatizados, felizes porém sofridos, engraçados porém deprimidos. Suas
histórias são visualmente elaboradas, e parecem roteiros prontos para adaptação
cinematográfica (o que de fato aconteceu com suas obras anteriores). E fazia 11
anos desde seu último livro, Extremamente
Alto & Incrivelmente Perto, para mim um verdadeiro poço de fofura e uma
máquina de lágrimas.
Em suma, JSF tinha muito a perder. Hora,
seguindo os passos dos mentores J.D.
Sallinger e Harper Lee, não é
melhor escrever uma obra prima, ou uma boa obra, e se aposentar? Pois JSF não
entrou para o clube. Após 11 anos, seu livro Aqui Estou chega as prateleiras, e o título também tem o ar de
resposta aos editores, críticos e leitores que há mais de uma década esperavam.
Mais uma vez, repito aqui, o problema de ter
expectativas elevadas. As deste livro eram imensas: 11 anos sem lançamentos do
autor, este deve ser espetacular, certo? Bem, mais uma vez fiquei decepcionada,
e tentarei explicar um pouco as razões para isso, sem deixar de mostrar os
pontos positivos e animar vocês a conhecer mais sobre JSF e suas obras
simplesmente, complexamente, tristemente; encantadoras.
O toque sensível e típico do autor está de volta
nesta história que acompanha diversas famílias de judeus, tanto nos Estados
Unidos (em Washington), quanto em Israel. O que é a novidade aqui é a distopia,
com um terremoto de enormes proporções que arrasa Israel e é suficiente para
desencadear diversos conflitos no Oriente Médio.
O jogo de narrativa é bem interessante, apesar
de não ser tão bom quanto nos livros anteriores do autor. Deu para perceber bem
de cara que ele trabalharia com as contraposições do pequeno e grande, o micro
e o macro, o pessoal e o público, o particular e o universal. É assim que vamos
das famílias americanas para a Israel devastada; dos conflitos familiares para
a instável política do oriente médio; da pessoa ao estado; do drama ao
terremoto, e aí em diante.
Mantendo sempre a minha filosofia de explicar a
história sem spoilers, o que posso dizer é que esse livro certamente fascinará
quem tem raízes judaicas. Porém, sendo uma fã incondicional de Philip Roth, não há como não comparar e se
decepcionar com esta obra. Crise de meia idade, questionamentos da fé,
problemas na família... Parecia uma ode ao livro Pastoral Americana, de Roth. Poderia ter sido um pouco menos
clichê, e um pouco mais... JSF.
É complicado dizer que faltou algo, pois o livro
tem muita coisa, e dá para ver todo o trabalho que envolve: muita pesquisa,
muito desenvolvimento de personagens, distopia, linguagem impecável, história
encaixada, referências bíblicas, narrativa não linear... Quem sou eu para dizer
que faltou? Talvez tenha sobrado. Tenha sobrado vontade, sobrado referências
nos encaixes, e sobrado clichês.
Se o JSF de Aqui
Estou conversasse com o JSF de 11 anos atrás, tenho certeza que teria
gostado mais.
Agora, fica a minha esperança de que o próximo lançamento
demore menos que 11 anos.
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Avaliação (1 a 5):