O Segredo de Heap House - Edward Carey

>>  sexta-feira, 16 de junho de 2017

CAREY, Edward. O segredo de Heap House. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil, 2017. 384p. (Família Iremonger, v.1). Título original: Heap House.

SinopseClod é um Iremonger. Ele vive nos Cúmulos, um vasto mar de itens perdidos e descartados coletados em Londres. No centro dos Cúmulos está Heap House, um quebra-cabeça de casas, castelos, cômodos e mistérios recuperados da cidade e transformados em um labirinto vivo de escadas e criaturas rastejantes. Uma tempestade está se formando sobre Heap House. Os Iremonger estão inquietos, e os objetos falantes estão gritando cada vez mais alto. Os segredos que mantêm a casa em pé começam a vir à tona para revelar uma verdade sombria capaz de destruir o mundo de Clod. Tudo, porém, começa a mudar quando ele encontra Lucy Pennant, uma órfã rebelde recém-chegada da cidade.

As vezes comprar um livro pela capa não dá certo. Essa resenha retrata uma dessas vezes.

O que me atraiu neste livro foi o ar sombrio, maléfico, porém infantil da história. Após uma breve folheada, as ilustrações (de autoria do próprio autor) me intrigaram, o que foi suficiente para que a obra entrasse na minha lista de desejados.

Minha primeira impressão nesse caso se mostrou precisa: o ponto positivo do livro é sua linguagem não-escrita, as ilustrações, o mapa da casa, as gravuras, os rabiscos, os quadros que retratam cada personagem, cada situação. O fato de tudo estar em preto e branco ajuda ainda mais a empoderar os desenhos e a história por trás deles, além de dar ares ainda mais assustadores e sombrios à casa e à história.

Porém, infelizmente o lado positivo do livro também se mostrou seu calcanhar de aquiles. O lado visual foi tão explorado, tão minuciosamente detalhado, que o texto escrito virou seu refém. O problema não é a qualidade da escrita, longe disso: o livro é muito bem escrito, e a tradução está de parabéns. O problema é que parece se inverter a ordem das coisas. Normalmente se escreve a história para depois ilustrar, mas aqui a impressão que eu tive foi de que as ilustrações vieram antes do texto. Ao fazer isso, o autor tira grande parte da maior magia da literatura: a imaginação. Como podemos criar esse mundo de uma Londres alternativa e louca em nossa cabeça se a cada 10 páginas somos brindados com uma descrição visual de tudo? A minha Lucy era diferente daquela dos desenhos, assim como meu Clod, e me senti “corrigida” quando as ilustrações apareciam. Na metade do livro, cheguei a conclusão de que a história pode até funcionar, mas somente em forma de graphic novel ou quadrinhos. Realmente entendi o esforço e aplaudo o trabalho, mas a forma com que foi realizada não foi adequada.

Sobre a história, a melhor maneira de descrever seria fazer uma referência aos filmes e trabalhos recentes de Tim Burton (Pense algo como Alice no País das Maravilhas encontra Edward Mãos de Tesoura, encontra O Orfanato da Srta. Pellegrine, encontra A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça), misturado com a estética e a loucura narrativa de Desventuras em Série. O resultado final foi algo tão surreal que ficou confuso, e acredito que até mesmo o diretor teria dificuldades em roteirizar a história do menino que escuta o nome dos objetos, e a menina que só queria uma vida melhor.

Sou muito a favor de narrativas criativas, de histórias em que os objetos são importantes, que inanimados ganham vida, especialmente com a narração em torno de uma casa especial para a família (já declarei meu amor por esse tipo específico de história antes), mas os limites da lógica devem sempre ser respeitados, ou simplesmente não dá certo.

Se recomendo? Sinceramente, não recomendo a leitura, especialmente nesse formato. Posso até dar uma chance se adaptada a meios majoritariamente não escritos, como quadrinhos. Enquanto isso, meu não é categórico.

Sobre a nota, pensei bastante sobre, e no final o texto bem escrito e traduzido, bem como a linda edição, com diagramação perfeita e posição correta das imagens (ao contrário de vários livros ilustrados no mercado), foram os responsáveis por tirar o livro de uma nota zerada para 1,5 estrelas.

Podia ser pior.

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Trilogia Familia Iremonger
  1. O segredo de Heap House (Heap House)
  2. Foulsham (os demais ainda não lançados no Brasil)
  3. Lungdom.
Avaliação (1 a 5): 1.5

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