O Muro - William Sutcliffe
>> segunda-feira, 12 de junho de 2017
SUTCLIFFE,
William. O muro. Rio de
Janeiro: Editora Record, 2017. 336p. Título original: The wall.
Sinopse: Um romance emocionante e uma fábula
política e ideológica marcante sob o ponto de vista de uma criança. Joshua tem
13 anos e mora com a mãe e o padrasto em Amarias, um lugar isolado no topo da
montanha, onde todas as casas são novíssimas. Na fronteira da cidade, há uma
barreira bem alta, guardada por soldados fortemente armados e que só pode ser
cruzada através de um posto de controle. Ninguém deve entrar naquele lugar, e
quem está lá não tem permissão para sair. Desde pequeno, Joshua sabe que, do
outro lado daquela muralha, há um território violento e implacável e que O Muro
é a única coisa capaz de manter seu povo em segurança. Desde pequeno, ele
sempre ouviu que, do outro lado, havia um território proibido, um lugar
violento e perigoso, do qual um garoto como ele deveria manter distância. Um
dia, a bola de Joshua cai do outro lado do Muro e, ignorando tudo o que sempre
ouviu, ele vai atrás dela e acaba descobrindo um túnel que o leva a uma
realidade que jamais imaginou encontrar. Lá ele acaba caindo nas mãos de uma
gangue sanguinária, mas a bondade de uma menina salva sua vida. Porém isso
acaba desencadeando um ato de extrema crueldade e coloca Joshua em dívida com
ela... Uma dívida que ele fará de tudo para pagar.
Fiz uma
aposta com esse livro. Historicamente, eu não me dou bem com livros de crianças
próximas geograficamente, mas distantes culturalmente. Se esse livro é descrito
como “emocionante” ou “lição de vida”, fico com dois pés atrás. Aqui, lembro de
O Caçador de Pipas, favorito de muitos, mas uma das maiores decepções
literárias da minha vida.
Esse livro
lembra bastante o best seller de Khaled
Hosseini, e logo no início me tremi toda com a perspectiva de ter uma
criança brutalmente torturada, naquele turbilhão de mundo que é explicitamente
passado na Faixa de Gaza, apesar de nunca dizer isso.
Nos meus
primeiros textos aqui no site, eu falei que a pior coisa que posso ter é um
livro que não me faz sentir. Posso não gostar da história, mas se ela evocar
sentimentos, já ganha pontos e muito valor. Então, quando comecei a ter medo e
passar as páginas com cautela e aflição, procurando um desfecho feliz – ou ao
menos não traumatizante – para as crianças envolvidas (ainda mais crianças), na
tênue esperança de que ninguém sofra atos covardes que deixem marcas
indescritíveis físicas e psicológicas, nesse momento o livro era bom. Nesse
momento ele era muito bom. Quando eramos que nem Jacob (nome tipicamente
judaico, mais uma referência explícita implícita da origem do rapaz, embora
passada em uma cidade fictícia), com medo/fascínio/estanhamento do
desconhecido, o mundo a nós descrito como “perigoso” do outro lado do mudo
guardado com armas, arames, concretos e soldados treinados para matar, quando
éramos ignorantes e usávamos nossa imaginação da vida do outro, nessa época o
livro era muito bom. Nessas primeiras páginas o autor mostrou seu melhor,
inclusive com escrita sutil e pequenas lições de moral, escondidas em pequenos
atos e gestos.
Ah, podia
ter ficado assim... Por que Jacob resolveu atravessar o muro? Foi ele rastejar
pelos canos escuros e encontrar o lado de lá (a história da bola como desculpa
para ele atravessar não cola, não faz sentido e não tem apelo), que a qualidade
do livro, na minha humilde opinião, foi ficando para trás. A partir desse momento,
fomos recebidos com clichês grosseiros, lições de moral e de vida escancaradas
(não é legal quando algo é explicitamente dito a você, o que deve fazer,
como deve sentir. O bom é conseguir fazer esses sentimentos e conclusões
surgirem naturalmente), personagens maniqueístas e incrivelmente mal
construídos. Ficou difícil continuar a leitura, e a vontade de abandonar a
história foi grande.
O medo que
sentia pela integridade das crianças passou, e o que me pareceu foi que o autor
se apegou a seus personagens, e com o desenrolar da história foi mudando de
ideia quanto a sua intenção inicial. No final, viu as contradições e tentou
algo... que não deu certo. A impressão que tive foi exatamente a mesma do livro
que citei no início, O Caçador de Pipas, com a diferença de que pelo
menos esse não teve medo de ir aos extremos. Em O Muro, o autor se apegou aos
seus personagens e não foi capaz de levar a história aos estremos necessários.
Isso estragou sua narrativa. Isso me fez sentir como se fosse melhor assistir
um documentário na televisão, ou ler outro livro. Isso não evocou sentimentos.
Isso falhou.
Se indico
esse livro? Se você é do grupo que gosta de O Caçador de Pipas, esse
livro é para você. Para você, ignore minhas notas e comentários, pois temos
gostos extremamente diferentes, e minhas negativas aqui expostas o privará de
um livro que certamente o agradará. Agora, se
você é do grupo que não comprou o estilo daquele livro... sugiro que pule esta
leitura.
Bem, mas
considerando que o O Caçador de Pipas é um dos maiores best sellers da história, sucesso de
vendas, com adaptação cinematográfica e amantes fervorosos, quem sou eu para
falar de um livro que em muito o lembra?
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Avaliação
(1 a 5): 1,5