A Casa no Lago – Thomas Harding
>> quarta-feira, 10 de maio de 2017
HARDING,
Thomas. A Casa no Lago. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2017. 408p. Título
original: The House by the Lake.
Sinopse: Autor de
Hanns & Rudolf, que narra a trajetória de Hanns Alexander, seu tio-avô
que trabalhou como investigador de crimes de guerra e foi responsável por
localizar e mandar a julgamento Rudolf Höss, o Kommandant de Auschwitz, o
jornalista e escritor Thomas Harding mergulha novamente nas memórias de sua
família durante a Segunda Guerra Mundial em A casa no lago. Finalista de
prêmios de prestígio como o Costa Biography Award e o Orwell Prize e aclamado
por veículos como Time e Spectator, entre outros, o livro conta a história de
uma antiga casa de campo nos arredores de Berlim que é também uma reveladora
história da Alemanha durante um século conflituoso. A aconchegante casa às
margens de um lago onde os avós do autor viveram dias de alegria e afeto em
família teve que ser abandonada nos anos 1930, quando os nazistas chegaram ao
poder, sobreviveu a incêndios e tempestades, abrigou cinco famílias que ali
buscaram refúgio nos anos seguintes, testemunhou traições e assassinatos,
resistiu ao trauma de uma guerra mundial e à divisão de uma nação. Prestes a
ser demolida, a casa no lago é revisitada por Harding neste livro minucioso e
emocionante.
Não. Esta
não é uma resenha sobre a versão literária do filme “A Casa do Lago”, aquele
romance lindo entre a Sandra Bullock e o Keanu Reeves.
Este é um
livro que esbarrei por acaso, pensando ser uma coisa e na verdade era outra
ainda melhor. Expliquemos:
Como
expliquei na minha
apresentação aqui no Viagem, eu sou formada em História pela UFMG.
Infelizmente nunca exerci a profissão de historiadora, embora procure exercer o
ofício e as habilidades ensinadas na faculdade sempre que possível. Vejam só:
um historiador, mesmo não trabalhando na área, sempre tem o espírito
investigativo aguçado, e sempre se interessa por coisas além dos fatos, nomes e
datas: o processo de elaboração da pesquisa e do texto é tão importante quanto
o resultado final.
Dito isso,
pedi esse livro pensando ser uma obra literária: a história de uma casa em
Berlim, durante diversas épocas diferentes da história. Pensei ser uma
novelização de fatos, com personagens criados e enredos românticos. E não é. É
algo que realmente precisava ler no momento, em um caso típico da leitura que vem
bem a calhar de acordo com o momento de vida. É um livro de história, mais
especificamente de memórias, escrito pelo jornalista Thomas Harding sobre a
história da casa de seus avós. É importante ressaltar a profissão do autor, pois
não é um livro de historiografia nua e crua, mas sim um relato histórico
relativizado com linguagem mais simples e mais propícia ao leitor, um estilo
feito no Brasil nas obras de Laurentino Gomes (1808, etc).
Não quero
desvalorizar os relatos históricos feitos por jornalistas, pelo contrário: é
importante essa comunicação entre as áreas e uma linguagem mais “comercial”
para que a história se difunda como leitura geral. Isso é muito importante! Só
especifico essas questões para diferenciar um livro de História/Historiografia
de um livro de História/Literatura.
Voltando ao
ponto chave desta resenha, esse livro caiu em minhas mãos no momento certo,
mesmo que não assim o queria, algo que só os Deuses Literários nos
proporcionam. Vários de meus livros favoritos 5 estrelas são memórias, e eu sou
completamente apaixonada pelos livros de memorialistas, e o ato de reviver o
passado tanto de si mesmo quanto de suas origens é algo que me encanta e que
constantemente me atrevo a fazer. Ora, as duas colunas “Viagens da Alice (que
vocês podem ler aqui e aqui)
nada mais, nada menos foram que um exercício de lembrança do meu passado.
Um dos meus
projetos futuros e objetivos pessoais é escrever algo sobre minha herança
familiar, algo que tinha medo de fazer, por questões que não cabe falar aqui. E
no momento que mais tive dúvidas da minha capacidade, me vem esse livro, do
autor que foi visitar a casa de sua família, o verdadeiro lar de sua avó, um
lugar literalmente cortado pelo muro de Berlin, que encontrou abandonado e a
beira da demolição.
Sabe, as
memórias são assim: se você as abandona, vem teias de aranha, poeira,
cacos de vidro, ficam de difícil acesso e eventualmente são demolidas, de modo
que nunca mais as teremos, só pequenos rastros do que um dia estavam ali. É por
isso que temos que constantemente exercitar a lembrança. E a lembrança das
nossas origens, dos nossos pais, avós, bisavós, sejam eles fugidos ou não da
guerra, é sempre uma casa que vale a pena visitar.
No livro, o
autor vai descobrindo as histórias da casa, das famílias, e de seus
personagens, ao mesmo tempo salvando suas paredes físicas e memorialísticas.
Esse esforço e exercício é o grande destaque do livro, e o motivo de meu
entusiasmo aqui.
Por que não
é um livro 5 estrelas? Mesmo sendo um trabalho bem feito, muitas vezes o livro
é descritivo de mais, e as vezes é descritivo de menos. Dá para ver claramente
qual o trabalho de acesso a arquivos e documentos era mais fácil, e qual foi
deixado de lado pelo autor. Faltou um pouco mais de coesão na sua escrita e,
por vezes, um pouco mais de leveza no texto. Porém, os pontos positivos ainda
se destacam mais que os negativos;
Por isso,
pelo esforço do autor em salvar algo importante para sua família, e
especialmente por contar sua história, a nota é 3,5 estrelas!
Recomendo?
Sim, se você gosta de livros de história com leitura fácil e bem escrito,
especialmente história da Alemanha.
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Avaliação (1
a 5): 3,5