O canto dos segredos - Tana French
>> quarta-feira, 15 de março de 2017
FRENCH, Tana. O canto dos segredos. Rio de Janeiro: Editora Rocco,
2017. 608p. (Dublin Murder Squad, v.5) Título original: The secret place.
“Coladas abaixo do rosto, de um lado a outro da camiseta azul, palavras
recortadas de um livro, bem espaçadas como um pedido de resgate. Bordas
bem-feitas, cortadas com precisão. Eu sei quem o matou.” p.17
A série Dublin Murder Squad é uma
série policial que explora o psicológico de todos os envolvidos, muito mais do que as pistas periciais em si. Cada livro tem um protagonista diferente, mas os livros No bosque da memória e Dentro do
espelho (os dois primeiros) estão bem
ligados. Esse é o quinto volume da série, os personagens já apareceram antes no
terceiro, O passado é um
lugar. Hoje vou falar de O canto dos segredos da Tana French.
“Eu sei quem o matou”. Além da frase,
está a foto de Chris Harper, um
adolescente assassinado há um ano, nos terrenos da escola. A frase estava
colada no mural conhecido como o canto dos segredos, localizado no internato St. Kilda. O
local foi criado como um quadro de avisos anônimo, para as adolescentes
desabafarem de forma segura e supervisionada. Mas o bilhete muda tudo. Quando Holly Mackey, a filha do detetive Frank Mackey, procura o detetive Stephen Moran com o bilhete, ele
vê uma oportunidade de sair da divisão de crimes não solucionados, e
conseguir uma vaga na homicídios.
Para a direção do
colégio St Hilda, um prestigiado internato católico em Dublin, o bilhete trás
de volta todo o cenário tenso do ano anterior, os pais ricos reclamando, a
polícia se metendo em tudo. A encarregada do caso, Antoinette Conway, é uma detetive osso duro de ror. Não é suportada nem por seus colegas policiais, muito menos, pelos adolescentes da escola. Os alunos a odeiam, não confiam nela. E é por isso
que Stephen consegue participar da nova investigação. Eles precisam achar o culpado, afinal o caso
ficou parado durante um ano, e essa é a primeira pista que aparece desde então.
Dois policiais em
busca da verdade. Sob investigação, oito adolescentes. Dois grupos de amigas
que se odeiam mutualmente. Para elas, o outro grupo é sempre o
responsável. Amigas unidas, um depoimento sólido. Até que, uma a uma, elas vão gradualmente
revelando segredos.
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Tana French é uma
das melhores narradoras de ficção policial que acompanho. Seus livros sempre
surpreendem, nem parece que já é o quinto volume da mesma série, ela é muito versátil.
Personagens mudam, histórias totalmente diferentes, tanto que a maioria dos
livros da série podem ser lidos como livros individuais (o 1 o 2 são muito
ligados, o 3 tem muita ligação com esse). Nesse volume temos como protagonista, Stephen – que já apareceu rapidamente acho que no quarto livro; e também Holly e Frank
Mackey (de Porto inseguro, mas nele Holly era uma criança).
E o mais diferente
é a forma como a narrativa e a investigação acontecem. A autora alterna os
capítulos. De um lado os investigadores chegando na escola para entrevistar as
meninas, um ano após o assassinato, depois de Holly achar o tão cartão no
mural. De outro, meses antes do Chris morrer, com as meninas narrando os
acontecimentos da escola. São várias narradoras no passado, então vamos
recebendo pequenos pedaços de informação, para tentar entender o todo. Eu
adivinhei em parte o mistério, mas errei completamente quem matou.
Livros de ficção policial que
giram em torno do “quem matou”, sempre me prendem. Mas aqui o mistério vai além,
e a autora adentra a mente dos personagens. E é o melhor de tudo, Tana French aborda de forma minuciosa as diferenças sociais, o machismo na polícia, o
bullying, a vaidade e a disputa de poder na adolescência. O que os adolescentes
são capazes de fazer pela necessidade de se encaixar é chocante (ainda mais em
um colégio interno, onde tudo ganha mais importância. Até pela amizade, elas
eram capazes de fazer qualquer coisa.
Temos muitas
personalidades e atitudes diferentes: Holly, a menina inteligente e protetora; Julia, decidida e cheia de atitude; Selena com seu grande coração e Becca, com sua
timidez. Elas fazem um pacto, amigas para sempre, sem meninos envolvidos. Do
outro lado temos Joanne, a menina má da história; Gemma, com sua frieza e inteligência; Orla e Alison, as “pau mandado” da turma. Entre os detetives, Stephen se
destaca. Ele se adapta ao entrevistado. Se a menina é tímida, ele é
compreensivo e cuidadoso. Se ela quer ser sexy e sedutora, ele é o detetive
impressionado e babando. Se ela precisa de um amigo, ele estende um ombro. E
aos poucos ele vai quebrando as defesas, juntando peças.
A única coisa que
não gostei muito, foi a passagem temporal. O tempo no presente se arrasta, ficou cansativo. A investigação toda se passa em um dia, ai
alterna com as meninas narrando o passado, mas mesmo assim. Um ano sem nenhuma
pista, e eles querem descobrir o culpado em um dia. Algumas partes ficaram meio
cansativas por isso, mas no mais, adorei tudo.
Eu adoro a escrita
da autora, sou muito fã dela. Para os fãs de ficção policia, Tana French é item
obrigatório na estante. Leiam!
Série Dublin Murder
Squad de Tana French
- No bosque da memória (Título original: In the Woods)
- Dentro do espelho (Título original: The likeness)
- O passado é um lugar (Faithful place)
- Porto inseguro (Broken harbour).
- O canto dos segredos (The secret place)
- The trespasser (ainda não lançado no Brasil).