Eligible – Curtis Sittenfeld
>> segunda-feira, 20 de março de 2017
SITTENFELD, Curtis. Eligible: A Modern Retelling of Pride
and Prejudice. Random House, 2016. 513p. (The Austen Project, 4).
Conheci este livro pelo Goodreads: ele foi indicado como
melhor obra de ficção de 2016. Como uma boa Maria-Caça-Prêmios que sou, li a
sinopse e pensei “Puxa, que divertido será ler uma versão moderna de Orgulho e
Preconceito, um dos meus livros favoritos e clássico imortal da biblioteca
mundial”. Realmente não refleti muito, pois não havia nada a ganhar: certamente
essa história nunca seria melhor que a primeira, que faz parte do meu seleto
rol de livros 5 estrelas favoritos.
Adquiri o e-book, hábito muito comum ultimamente, pois me
permite praticar o inglês, além de me gabar por ler em primeira mão as mais
esperadas obras para amigas que não tem um pingo de inveja. Mas enfim, cada um
tem sua mania, correto? E uma de minhas manias é ver e rever o filme Orgulho e
Preconceito (que garantiu uma indicação ao Oscar de melhor atriz para a Keira
Knightley), que é uma verdadeira obra de arte, um dos meus favoritos. E essa
mania foi intensificada com a leitura desta obra: me peguei revendo o filme,
correndo atrás do livro original para reler e relembrar os momentos
inesquecíveis do Sr. Darcy e a Sra. Bennet.
Esse é o grande ponto forte deste livro: ele nos faz
relembrar o quanto gostamos de Orgulho e Preconceito, e por que a obra de Jane
Austen é algo histórico, atemporal e especial. O livro foi escrito numa época
que não havia netflix, crossfit, corridas marcadas pelo instagram, yoga ou
programas como The Bachelor (oops... Eligible) para nos divertir. Mesmo assim,
lendo, sentimos o mesmo amor, o mesmo preconceito, os mesmos orgulhos nos
dominam e a mesma paixão nos cativa. Claro, a visão do protagonista mudou
bastante: fomos do ideal romântico, o cavalheiro milionário Sr. Darcy para um
mundo onde Grey’s Anatomy é a lei, e McDreamy e McSteamy são Deuses dignos de
nossa idolatria. Os escândalos são outros, as colocações sociais também
mudaram. Porém os casais, o papel da mulher, do homem, da vida em casal, o
romance, o amor ainda é igual. Aí está o sucesso de Orgulho e Preconceito, e
foi aí onde Eligible se baseou.
O livro se passa em Cincinnati, Ohio, e os personagens
são os mesmos. Liz Bennet é a principal, tem 4 irmãs e os pais são herdeiros e
moram numa casa que já viu melhores momentos na vida. Liz e Jane dividem um
apartamento em Nova York, onde Liz é jornalista aos 38 anos e Jane é instrutora
de Yoga aos 40 (as idades estão bem corretas, devidamente atualizadas de acordo
com índices da FGV, fui informada...). As outras 3 moram com os pais: Mary é
uma rebelde reclusa, que vai de graduação em graduação para evitar trabalhar, e
Kitty e Lydia são unha e carne, ratas de crossfit e as pessoas mais rueiras do
mundo.
Devido à saúde do pai, Jane e Liz passam uma temporada em
Cincinnatti, onde o médico Dr. Chip Bingley se muda para trabalhar junto de seu
melhor amigo, o neurocirurgião Fitzwilliam Darcy. Bingley acaba de sair de um
reality show onde foi atrás de uma esposa, e a cada semana escolhia as
favoritas presenteando-as com rosas até que sobrou só uma – teoricamente o amor
de sua vida e sua futura noiva. Esse programa é Eligible (algo em português
traduzido como “Partidão”), uma cópia escancarada e bem engraçada do famoso
reality show americano The Bachelor (“O Solteiro”. A série foi brevemente
exibida no Brasil pelo canal Warner). Chip não encontrou o amor e se mudou para
Cincinnatti, onde encontra Jane.
O roteiro do livro segue o mesmo de Orgulho e
Preconceito, mas com atualizações que as vezes são tão ruins que doem (o
casamento escandaloso de Lydia me fez passar páginas, de tão ruim que ficou), e
outras vezes bem sucedidas (as irmãs viciadas em Crossfit, bem como Georgie, a
irmã de Darcy são os melhores). Porém, para atingir o objetivo traçado creio
que deveria ser ainda mais preciso, sem as leves (mas importantes) alterações
na história que fizeram (especialmente o nome e status do Sr. Wickham). Quem
busca esse livro espera algo que só foi parcialmente alcançado, e isso é um
problema.
Depois de terminar a leitura descobri que o livro faz parte
do “The Jane Austen Project”, onde autores fizeram essa releitura moderna das
obras de Jane Austen. Esse foi o quarto livro lançado, e os demais foram os
seguintes:
1. Sense
& Sensibility (Razão e Sensibilidade) – Joanna Trollope
2. Northanger
Abbey (A Abadia de Northanger) – Val McDermid
3. Emma
– Alexander McCall Smith
4. Eligible
– Curtis Sittenfeld
Se eu vou ler os demais livros? Provavelmente não, mas quem
sabe um dia queira algo despretensioso, leve e sem expectativas...
Provavelmente nem mesmo assim lerei, mas aprendi há um bom tempo a nunca dizer
nunca!
Avaliação (1 a 5): 1.5
Por Alice Bertucci