Em um bosque muito escuro - Ruth Ware
>> segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
WARE,
Ruth. Em um bosque muito escuro. Rio
de Janeiro: Editora Rocco, 2016. 288p. Título original: In a dark dark wood.
“Faço um
esforço para recostar-me nos travesseiros, com o coração batendo na garganta, e
no monitor à minha esquerda vejo a pequena linha verde pulando aos trancos de
pânico contra a linha reta.
Alguém está
definitivamente morto.
Alguém está morto.
Mas quem?” p.119
O
livro de estreia da inglesa Ruth Ware entrou para a lista dos mais vendidos do New York Times e teve seus direitos
vendidos para o cinema. Na mesma linha de Garota exemplar e A garota no trem, estilo que vem se destacando muito, a história promete personagens sinistras no melhor estilo "amigas falsianes". Publicado nos EUA em 2015, chega ao Brasil o suspense Em um bosque muito escuro.
Nora não vê Clare há dez anos. Não desde o último
dia de aula, quando Nora foi embora sem nunca olhar para trás. Até que um dia
recebe um convite para a despedida de solteira de Clare. Ela não resiste, e
mesmo contra todos seus instintos resolve dar uma chance e acertar as contas
com o passado. Mais tudo irá dar muito... muito errado!
“Preciso
descobrir os fatos.
Mas eu não
sei se estou me lembrando do que aconteceu, ou se é o que eu quero que tenha
acontecido. Sou escritora, sou uma mentirosa profissional. É difícil saber
quando parar, sabe? Quando vemos uma lacuna na narrativa, queremos preenchê-la
com uma razão, um motivo, uma explicação plausível. E quanto mais me esforço,
mais os fatos se dissolvem entre meus dedos.” p.162
Leonora Shaw, conhecida no passado
como Lee, mas agora apenas como Nora, é uma escritora de romances policiais que
vive reclusa. Ela quase não sai de seu apartamento, e tem poucos contatos
sociais. Nunca sai de sua rotina. Até que um dia recebe um convite muito
inusitado. Um convite para comparecer à despedida de solteira de Clare, uma colega de escola que não vê há dez anos. Elas um dia foram melhores amigas, a menina tímida e a mais bela e popular. Até que algo aconteceu e Nora deixou a cidade com o coração partido, sem nunca
olhar para trás. O convite é enviado pela madrinha, Flo, e, surpreendendo a si mesma, Nora resolve comparecer. Ela
combina de ir com sua amiga Nina, a
única pessoa da escola com quem mantém contato.
O
local da despedida é uma casa toda de vidro no meio de uma Floresta, no
interior da Inglaterra. Ao chegar Nora acha o local meio sinistro, mas faz de tudo para deixar as preocupações de lado e ser um pouco sociável. Afinal, a despedida será
regada a álcool, brincadeiras e muita farra. O grupo é pequeno, apenas Nora,
Nina, Flo, Melanie e Tom, além da noiva. Em pouco tempo,
Nora irá se arrepender eternamente de ter saído de casa...
Quarenta
e oito horas depois
Nora
acorda no hospital sem se lembrar de nada do último dia. Os eventos se misturam
em sua cabeça. Com desespero ela tem certeza de que alguém está morto. Alguém foi assassinado...
~~~~~~
Devorei o livro em dois dias, curiosa para
saber como terminaria. O velho e bom “quem é o culpado”. Esse estilo conhecido como “whodunnit” (um alô para os fãs de How to get away with a murder) é sempre uma ótima forma de fisgar o leitor. A premissa aqui é descobrir como a protagonista vai parar no hospital, quem foi assassinado, e
claro, quem matou. O início é alucinante, impossível não ficar curiosa, mas a
parte final deixa a desejar. A narrativa em primeira pessoa tem vários saltos temporais: O que aconteceu na adolescência de Nora, a história atual na casa de vidro e Nora no hospital, tentando lembrar de tudo. O problema é que a autora estica muito esse recurso, ficamos cansados de ver os devaneios de Nora no hospital e o passado sendo contado a conta gotas.
Leitores mais calejados no gênero vão perceber logo
para onde a história caminha. Algumas perguntas ficam sem resposta, e a
imaturidade da protagonista me incomodou muito e algumas passagens são bem inacreditáveis. Apesar de todo o mistério, não é difícil matar a charada. A ambientação é interessante, a casa de vidro no meio da floresta escura, dá a impressão de que eles não conseguem ver nada lá fora, mas qualquer um que esteja lá fora, consegue ver dentro da casa. Apesar disso não tem nada de assustador, digamos que cria uma certa tensão.
A
narrativa é focada nas personagens femininas como acontece nesse tipo de suspense. A protagonista, Nora, tem um
passado traumático e nunca mais voltou a sua cidade Natal. Dez anos depois, ela
resolve reencontrar Clare, sua melhor amiga na época. Ela nunca esquecera o ex
namorado daquela época, e tudo aquilo ainda dói muito. É muito difícil para mim
comprar essa história, por mais que tenha sido sofrida a história dela e de
James, ela ainda gostar dele DEZ ANOS DEPOIS, sem nunca ter namorado ninguém, é
muito sem noção. Poucos meses de namoro na época de colégio, e ela nunca
esqueceu o cara. Eu não desgostei totalmente de Nora, mas foi muito difícil enxergar que a protagonista tinha 26 anos, e não 16... Clare é uma personagem muito estereotipada, daquelas que você na primeira página já saca a que veio no livro e Flor é completamente
pirada. Os personagens são todos muito rasos, não tem nenhuma explicação para o fato de Nora ter essa vida de escritora reclusa, por exemplo.
A
motivação para o crime até fez sentido, mas a forma como foi executado é
completamente surreal. Tinha 1.000 maneiras mais fáceis de se matar alguém, a
coisa é tão louca, e podia dar errado em tantos níveis, que eu tive que rir no
final.
Acho que por ser o livro de estreia da autora,
dá para dar um desconto. Gostei da forma como ela escreve, e leria outros
livros dela se tiver a oportunidade, imagino que a escrita irá evoluir. Porém, analisando
apenas essa obra, fica a impressão que ela quis surpreender, mas acabou com um
livro bem previsível nas mãos. Quem leu
me conte o que achou. ^^
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