A luz entre oceanos - M. L. Stedman
>> quarta-feira, 26 de outubro de 2016
STEDMAN,
M. L. A luz entre oceanos. Rio de
Janeiro: Editora Rocco, 2013. 368p. Título original: The light between oceans.
“- A pergunta que eu faria é: remexer a ferida melhoraria as
coisas? Você não pode consertar nada disso agora. – As palavras, isentas de
julgamento ou animosidade, torceram-se como uma faca nas entranhas de Tom mesmo
assim. – Santo Deus, a maneira mais rápida de enlouquecer um sujeito é deixá-lo
lutar travar repetidamente suas guerras até consertá-las.
... Prenda-se ao presente. Conserte o que você pode consertar agora
e deixe o passado para trás. Entregue o resto aos anjos, ou ao diabo, ou a quem
quer que seja o responsável.” p.194
Até
ele ser adaptado ao cinema, lançamento previsto para novembro, nunca tinha
ouvido falar desse livro. Não é um romance novo, mas a Editora Rocco lançou uma
sobrecapa reproduzindo o cartaz do filme. Um romance/drama que promete
emocionar e questionar valores. Confira minha opinião sobre A luz entre oceanos da M. L. Stedman.
Tom Sherbourne, 28 anos, é um soldado
que sobreviveu a Primeira Guerra Mundial. Com todos os traumas da Guerra, ele
só quer paz e sossego. Sem família, retorna a Austrália e consegue uma
colocação como faroleiro. O farol para onde é enviado, fica em uma ilha no meio
do nada, Janus Rock. Tom adora seu trabalho, é minucioso e leva a sério suas
tarefas. Precisa relatar tudo o que acontece no farol, cada barco que passa,
cada material que utiliza. Ele aprecia as regras, tanto quanto a solidão.
Quando
conhece uma jovem moça da cidade, Isabel
Sherbourne, ele reluta em ficar com ela, Tom não gosta de mudanças, mas acaba se rendendo e se apaixonando. Ele não fala do passado, é um homem
fechado, mas os dois vivem felizes naquele lugar solitário e
paradisíaco. Ficam meses sem ver ninguém, até que chega o navio que
trará suprimentos, cartas e encomendas. Isabel perdeu os dois irmãos mais
velhos na guerra, única filha restante, está ansiosa para começar uma família e
dar alguma alegria aos pais. Mas depois de sofrer com mais um aborto, seu
coração está partido.
Um
dia, um pequeno barco de remo aparece na ilha. Vagando sem rumo, de longe, uma
Isabel desesperada, escuta o choro do bebê. Dentro do barco havia um homem morto,
e um bebê recém-nascido. A tragédia parece um presente divino para a
desconsolada Isabel. Seu último bebê nascera morto fazia pouco tempo, ela ainda
tinha o leite, e todo o amor do mundo. Apaixonada pela criança, convence o
marido a manter segredo sobre o acontecido, e não registrar o fato. Afinal, o
pai da criança estava morto no barco, a mãe devia estar também, e a menina era
uma pobre órfã. E ninguém desconfiaria, já que ela deveria ter um bebê chegando e ainda demorará meses até alguém ir a ilha. Assim a pequena Lucy
pode ser amada, crescer e ser feliz. Porém, nenhum segredo dura para sempre. E
essa decisão desencadeia uma série de fatores que mudará a vida de todos.
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Esse
livro vale a pena, principalmente, por toda a reflexão moral envolvida; questiona os
limites da ética e a forma como uma decisão muda para sempre a vida de uma pessoa.
O que é certo e errado, como um erro pode ou não ser consertado. E o quanto
vale uma consciência tranquila? Até quando você pode conviver com a culpa por
ter feito algo errado?
A
autora não é uma eximia romancista. Julgando como romance/drama, tem vários
aspectos que não gostei muito. O início é lento, truncado. O romance deixa a desejar,
tudo é muito sem graça, tem pouca química ligando o casal. É tudo muito
prático, Tom e Isabel se conhecem, se casam e vão morar no farol. Anos depois
ela não consegue ter um bebê e está de coração partido. Mas depois que chega o
bebê tudo muda. O drama ganha forma, a trama ganha agilidade, os personagens
mostram a que vieram.
Porém,
mesmo quando fica muito bom, a autora perdeu a oportunidade de mostrar os dois
lados da moeda, de explorar melhor os dois lados da história. Desde o início
Tom e Isabel são mostrados como os mocinhos. Você se apega ao
casal, fica de coração partido pelo sofrimento dela e quer MUITO que ela tenha
o seu bebê. Portanto, quando chega um bebê "sozinho" na ilha em um barco, ao lado
de um homem morto, tudo o que você pensa é: fica quieto Tom e criem essa
criança. Você não pensa, eu não pensei, que em algum lugar tinha uma mãe viúva
e sem saber se o marido e filha estavam mesmo mortos, sofrendo. Tem um dilema
moral enorme (fora todas as leis que eles infringiram), várias discussões interessantes e aí você começa a ver que você
também estava ignorando todas as leis e tudo o que é certo quando torcia por
Isabel rs. Mas se desde o início tivesse a personagem da “mãe biológica” da
criança, o leitor veria os dois lados da história, seria bem diferente.
Enfim,
só uma reflexão, mas a história ficou muito boa mesmo assim. É muita
sofrência minha gente, chorei em alguns momentos com dó da Isabel, do Tom, mas
principalmente, da criança. Não consigo nem imaginar o que é a dor dessas duas
mães, porque de uma forma ou de outra, as duas foram mães. E o desfecho me
surpreendeu, aconteceu tudo o contrário do que eu
imaginava, mesmo assim achei o final muito bom. Fiquei de coração partido em
vários momentos, mas faz parte rs. Engraçado que no início estava achando bem
chato e depois me prendeu muito.
O
livro foi escrito por uma advogada, ela questiona os limites da ética e o que é
certo ou errado. Um casal que simplesmente pega um bebê e fica com ele, algo que além de ilegal, é moralmente questionável e que beira o absurdo da maldade. Vendo
por outro lado, um casal bom, que só queria um filho, que imagina que um bebê órfão
estaria muito melhor com eles e que tudo que faz, é amar a menininha.
Obviamente, eles ainda salvaram a vida dela, se não tivessem achado o barco e
salvado o bebê, ela teria morrido. A autora fala também de julgamento e perdão.
A forma como a pequena cidade enxerga cada uma das pessoas envolvidas na
situação.
Como
disse no início, o livro virou filme e estreia mês que vem nos cinemas. O filme A luz entre oceanos tem direção de Derek
Cianfrance e no elenco Michael Fassbender
(Tom), Alicia Vikander (Isabel) e Rachel Weisz (Hannah).
Esse
eu indico, vale a pena gente! Leiam. ^^
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Avaliação
(1 a 5):