À margem do lago - Sara Gruen

>>  terça-feira, 12 de julho de 2016


GRUEN, Sara. À margem do lago. Rio de Janeiro: Editora Bertrand, 2016. 392p. Título original: At the water’s edge.

"Minha vida consistia em acordar ao meio-dia, encontrar Hank e Ellis e depois saltar de um drinque matutino para um coquetel pré-festa, para uma bebidinha antes de dormir, passando as noites inteiras em festas ou jantares de gala... só para recomeçar tudo de novo no dia seguinte. Era uma vida cheia de armadilhas luxuosas e bolhas cintilantes que me cegara para o fato de que nada daquilo era real." pg. 170

Sara Gruen tem uma grande sensibilidade ao criar personagens e cenários, seus livros normalmente passam muita emoção e tocam fundo na alma do leitor. Foi assim com Água para elefantes e A casa dos macacos. Foi com grande expectativa que peguei À margem do lago e hoje conto para vocês o que achei.

Filadélfia, 1944
Madeline e seu marido Ellis Hyde vivem uma vida acomodada na casa dos sogros ricos. O marido vivia da mesada do pai. A sogra nunca perdoou o filho por escolher alguém tão sem classe como esposa, e apenas a tolerava. Juntos e ao lado do melhor amigo do marido, Hank, eles levam uma vida desregrada e sem pensar muito no futuro. Após uma festa de ano-novo da alta sociedade, regada a muita bebida, Ellis acaba fazendo e falando muita besteira com os pais, e é expulso de casa. Seu pai, um ex-coronel, nunca o perdoou por não lutar na guerra, embora Ellis tenha tentado se alistar duas vezes, mas afirma não ter conseguido por um problema de saúde.

Ellis fica perdido, sem saber o que fazer e para onde ir. Até que uma ideia estapafúrdia vira um plano. Animado e com a ajuda de Hank, Ellis chega a conclusão de que a única forma de cair de novo nas boas graças do pai, é ter sucesso na única empreitada que o pai fracassou: localizar e provar a existência do famoso monstro do Lago Ness. E é assim, que em plena Segunda Guerra, os três atravessam o Atlântico em busca de aventura. Deixando para trás os luxos aos quais estão acostumados.

Escócia, no mesmo ano
Eles chegam ao pequeno vilarejo às margens do Lago, um lugar onde os moradores parecem desprezá-los. Os modos exigentes, o orgulho aristocrata, a fama do pai de Ellis no passado, tudo faz com que se tornem parias na pousada. O fato de dois homens adultos e saudáveis não estarem lutando, e ainda se comportarem como superiores, irrita todo mundo. De repente se veem em uma pequena hospedaria, onde a comida é racionada, a eletricidade é cortada a noite e precisam ter sempre a postos uma máscara de gás. Largada sozinha enquanto os homens saem para explorar o local, Maddie começa a enxergar que o mundo é muito maior do que conseguia imaginar, e que seus valores, estão todos errados.

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É com tristeza que digo que não gostei tanto desse livro. Tristeza porque eu amo a autora, e porque a promessa do enredo e a ambientação são excelentes, a parte histórica está impecável, como é costume da autora.  Porém, tive dois grandes problemas com o livro, os personagens e a lentidão.

Os personagens foram o maior problema. Eu já estava na página 150 e Maddie não passava de uma dondoca sem propósito na vida (a mulher usava um turbante todo dia ou um lenço porque não sabia arrumar o próprio cabelo sem ajuda da camareira que ficou nos EUA), o Ellis era um mimado afetado (não sei como ela não percebia que o marido dela era bem gay rs) e o Hank era um playboy sem preocupação nenhuma na vida, além de beber whisky e paquerar belas mulheres. Aí eis que lá para a página 200 e já vai pedrada, as coisas começam a melhorar. Entram novos e bons personagens (Angus, Meg, Anna) e Maddie começa a acordar pra vida. O marido/Hank continuam inúteis e detestáveis, mas esse aparentemente é o papel dos dois no mundo rs. E aí a história dá um up, tudo fica muito mais legal e interessante. 

A parte final foi bem emocionante, adorei as conclusões e o final em si, redondinho e muito legal, mas não consigo ignorar a lentidão no início. Eu não consegui me envolver com nada, porque simplesmente não suportava o trio principal, e demora para a história parar de girar em torno do umbigo deles. Gente, era 1944, Hitler rodando a Baiana, e eles lá, preocupados que só tinham mingau para comer. Saindo para caçar um monstro mitológico no Lago, eu queria jogar o livro NA CARA DELES!

No que se refere a parte histórica, a autora foi impecável. A alta sociedade americana, a Guerra mudando a vida dos Europeus, famílias perdendo seus homens no confronto, o racionamento, os ataques aéreos, tudo muito bem narrado. A forma como os americanos ricos enxergavam a guerra de forma tão abstrata. Achei interessante que o livro foge do núcleo principal do confronto, quando a autora nos leva à Escócia, onde tudo era um pouco mais tranquilo. A Escócia lindamente descrita, o Lago enorme e seus castelos, e claro, o mitológico Monstro do Lago Ness.

Infelizmente, foi o mais fraco da autora para mim. Talvez até por ter amado tanto seus outros dois livros. Eu daria um 4 pela parte final, mas não consigo ignorar metade do livro, uma leitura morosa e irritante. O livro fala principalmente de transformação, vemos Maddie sair do seu casulo de riquinha mimada e descobrir que tem coisa muito mais importante na vida do que o próprio umbigo. Mas até chegar lá, foi sofrido. O caminho é árduo, e no final surpreende, resta saber se você leitor, irá querer pagar para ver. Quem leu me conte o que achou!

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