A jornada de A Fera do Brasil
>> quarta-feira, 6 de julho de 2016
Título: A Fera do Brasil
(The Beast of Brazil)
Autor: T.R. Connolly
Sinopse:
Na praia de Boa Viagem, Recife, um menino porto-riquenho,
órfão, sem-teto e de passado sombrio, entra em ação. Seu nome é Chunk DeLuna, e
ele jamais será pobre novamente. Vinte anos mais tarde, ele é o criminoso mais
poderoso do Brasil, proprietário de uma grande construtora e está encarregado
de construir um estádio para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
Com a aproximação das Olimpíadas, os obstáculos se
acumulam para DeLuna: protestos populares, o temor do Zika vírus, a ameaça
oculta de um rio subterrâneo, o COI e a FIFA não querem realizar jogos em seu
estádio. Ao mesmo tempo, o amor de DeLuna, Lívia, começou a questionar seus
valores e motivações para continuar ao lado dele. Chunk DeLuna, a Fera do
Brasil, está à beira do abismo!
A jornada de A Fera do Brasil
pelo
tradutor Régis Friggi
Quem trabalha como tradutor freelance nunca sabe o que o próximo projeto reserva. Nos últimos
dias de abril passado, recebi um e-mail de certo Tom Connolly, que buscava
traduzir seu segundo romance para o português. Da forma mais despretensiosa, me
caiu nas mãos um trabalho que eu sempre quisera realizar: traduzir um livro.
Como a história do romance se passa no Brasil, grande parte
dela durante as Olimpíadas do Rio, o autor queria lançá-lo aqui o mais depressa
possível; por isso, me deu um prazo de somente 30 dias para concluir a tradução.
Pensava eu que após aqueles 30 dias entregaria o texto, receberia meu pagamento
e nunca mais teria contato com Tom nem ouviria falar do livro, como normalmente
acontece. Para minha surpresa, aquele primeiro contato seria apenas o início de
minha jornada com A Fera do Brasil.
Deixe-me contar um pouco dessa jornada e, ao mesmo, dizer por que esse livro
merece ser lido.
Um
olhar gringo sobre o país
Que brasileiro não sente orgulho de ver nosso país retratado
na mídia estrangeira? Por outro lado, quem nunca teve a decepção de ouvir
“brasileiros” falando espanhol em filmes de Hollywood? Assim, naturalmente, meu
primeiro temor a respeito do romance era que o escritor americano tivesse
representado o Brasil segundo essa tradicional ótica distorcida.
Pois eu estava redondamente enganado! A Fera retrata o país de modo não somente verossímil, mas perspicaz
— principalmente na questão da corrupção. De fato, o extenso e arraigado
problema da corrupção, incluindo esquemas entre funcionários do governo e o
crime organizado, é um dos fios condutores da narrativa. A própria evolução do
personagem principal da história, Chunk DeLuna (calma, o nome não é brasileiro,
mas você pode respirar aliviado: ele é de Porto Rico), de delinquente juvenil,
líder de uma gangue adolescente estilo Capitães
da Areia, para ser o maior chefe do crime organizado — a “Fera do Brasil” —,
se dá graças a acordos políticos. Ironicamente, até o detetive encarregado de
prender Chunk acaba na folha de pagamentos semanais da máfia.
— Como o senhor vai acertar sua conta comigo? Ela já está bem
alta, e o senhor está pedindo para aumentar mais um pouco. Como sabe, com a
extensão de crédito, vai chegar a 800 mil dólares. — DeLuna disse isso e então
perguntou: — Quanto você ganha por ano, Sílvio?
— Cento e sessenta mil reais — disse com relutância o homem
endividado. — Olhe, eu posso lhe pagar com uma coisa que vale mais que
dinheiro.
DeLuna riu; um sorriso torto, enlouquecido se espalhou em seu
rosto.
— Sílvio, meu amigo, nada vale mais que dinheiro.
— Um contrato com o governo vale. Continua a render sempre —
ofereceu Moraes, com confiança.
Um trecho de que eu gostei particularmente é a descrição da
Amazônia às margens do Rio Xingu no capítulo em que Chunk e sua mulher, Lívia,
visitam a aldeia de índios caiapós onde nascera a avó dela. A riqueza de
detalhes transporta o leitor para o local e evidencia o fato de que o autor
esteve pessoalmente lá.
É verdade que o leitor brasileiro precisará perdoar alguns
trechos do livro em que se explicam coisas bastante óbvias para nós; no trecho
mencionado acima, por exemplo, ele descreve a aparência dum maracujá (9_9). Mas tenha em mente que o
romance foi escrito inicialmente para o público americano.
Chunk não sabia o que ele quis dizer, mas Lívia ouviu de
imediato — quieto, mas barulhento. Não mais o ruído produzido pelo homem do
motor de vinte cavalos; o som da natureza, de milhões de criaturas vivendo suas
vidas: estalos, grasnados, silvos, mergulhos, bicadas na madeira e na lama,
mastigação e vento.
Atual
e diversificado
Além da verossimilhança, outro grande trunfo de A Fera do Brasil é a contemporaneidade.
A construção de uma das arenas para a Copa do Mundo de 2014, a controvérsia em
torno disso e os Jogos Olímpicos de 2016 são elementos-chave da trama, a qual
entretece vários eventos que foram notícia nos últimos anos e ousadamente
prediz o que vai acontecer nos meses à frente. Aliás, vamos torcer para que as
predições do livro estejam erradas; mas não quero dar spoilers... ;-)
Um elemento que intensifica essa sensação de atualidade é o frequente
uso de excertos de notícias em muitos capítulos, o que contextualiza os
acontecimentos da narrativa. Se o leitor ficar com a impressão de que o autor
acompanha avidamente as notícias, não estará enganado: Tom Connolly declarou
numa entrevista recente que extrai suas histórias dos jornais. E ele é antenado
de verdade. Veja só, na mesma semana em que traduzi um capítulo que menciona a
apreensão internacional devido ao Zika vírus, saiu nas notícias que um grupo de
125 médicos solicitou que as Olimpíadas fossem transferidas por causa do risco
da infecção.
13 de fevereiro de 2015
A FIFA, entidade responsável
pelo futebol mundial, declarou que ‘não considera Manaus uma primeira opção
adequada’ para sediar o futebol olímpico.
A rápida reação negativa
da FIFA a Manaus parece ter surpreendido o Comitê Olímpico Brasileiro. O país
está tentando “integrar o Brasil inteiro” nos Jogos Olímpicos e ontem mesmo
havia indicado Manaus como uma das seis cidades que sediarão o futebol.
Quando o Comitê Olímpico
da FIFA se reunir no mês que vem, a proposta do Brasil será considerada. A FIFA
declarou preferir que os jogos sejam realizados mais perto do Rio, a
cidade-sede.
Esse uso de matérias de jornal (não tão) fictícias é também um
dos fatores que conferem variedade ao estilo narrativo do autor. Outro recurso
que traz diversidade ao texto é encontrado num clímax da trama, onde o autor
abandona o estilo narrativo tradicional e adota um formato de texto de teatro —
com falas introduzidas pelo nome dos personagens e mínimas observações
narrativas entre parênteses — para ampliar o impacto e o suspense de uma
reveladora entrevista de televisão com um dos personagens. Ainda um terceiro
método aplicado por T.R. Connolly a fim de diversificar a narrativa é a mudança
de foco: muitos capítulos tratam do personagem principal, Chunk; alguns falam
quase exclusivamente sobre Lívia; outros narram acontecimentos tangenciais que
afetam a trama; outros contribuem pouco para o desenvolvimento da trama, mas
ajudam o leitor compreender a mente dos personagens. Essa combinação de
recursos torna a leitura muito rápida e nada cansativa.
A
reviravolta final
A Fera não é um
romance de muitas reviravoltas; na verdade, a trama progride de forma linear e
um bocado previsível. No geral, o livro acompanha a trajetória Chunk DeLuna dos
14 aos 35 anos, sua ascensão para se tornar um Poderoso Chefão brasileiro e sua
simultânea decadência a níveis cada vez mais perversos de crueldade. Não leva
muitas páginas para que o leitor comece a odiá-lo, porque é um personagem
desprezível. Se você começar a torcer para que Chunk morra, isso é muito
compreensível; confesso que também torci por isso. Mas aí é que está a grande
reviravolta, lá num dos últimos capítulos do romance.
Não se trata de uma mudança drástica no rumo da trama nem de
um personagem que sofre transformação; a grande reviravolta de A Fera do Brasil é emocional e se dá no
íntimo do leitor. Quando o leitor descobre o que fez de Chunk a pessoa
detestável que se tornou, bate um sentimento de culpa por ter sentido tanto
ódio dele antes. O próprio T.R. Connolly comentou que alguns leitores se
queixaram de que essa informação vital é guardada até o fim do livro, mas ele
diz que isso é proposital, uma recompensa de seguir a história até o fim.
Curiosamente, A Fera do
Brasil se encontra na categoria de romance policial, e a obra de fato
possui elementos do gênero — há criminosos, crimes e policiais. Porém,
diferente de outros romances policiais, o leitor não acompanha a investigação
de um crime; a verdadeira investigação é a da mente de Chunk DeLuna, dos
motivos formadores da “Fera do Brasil”. E o detetive é o leitor.
Uma
experiência
Minha experiência com A
Fera foi mais do que apenas outra leitura; mais do que apenas outro projeto
de tradução concluído — foi e tem sido uma jornada, como disse no início deste
post. Eu pensava que me despediria do livro após 30 dias; em vez disso, acabei
muito mais envolvido do que poderia imaginar, até mesmo escrevendo sobre a obra
aqui no Viagem Literária. =D Quem trabalha como tradutor freelance nunca sabe o que o próximo projeto reserva...
Fica aqui meu convite para que você também experimente um
pouco dessa jornada. A Fera do Brasil é
um romance estrangeiro que retrata o Brasil de modo realista e perspicaz, é uma
obra atual e guarda aquela reviravolta emocional no finzinho. Leia o livro e aproveite
para interagir com o autor através dos canais abaixo:
Link para download: www.amazon.com.br/Fera-do-Brasil-T-R-Connolly-ebook/dp/B01GR4SOFU/
Compre seu exemplar: https://clubedeautores.com.br/ book/212777--A_Fera_do_Brasil
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Twitter: twitter.com/aferadobrasil
Contato do autor: aferadobrasil@gmail.comT.R. Connolly |