A cor púrpura - Alice Walker
>> segunda-feira, 21 de março de 2016
WALKER,
Alice. A cor púrpura. 10 ed. Rio de
Janeiro: Editora José Olympio, 2016. 336p. Título original: The color purple.
“Olhe pra você. Você é
preta, é pobre, é feia. Você é mulher. Vá pro diabo, ele falou, você num é nada.”
p.242
Alice
Wakler, escritora negra e ativista feminista, nasceu em 1944 na Georgia, e
conviveu intimamente com a opressão. Sua literatura tem como base
exclusões de raça, de gênero, sociais e econômicas. Suas convicções políticas,
relações entre mulheres e o feminismo também ganham destaque em seus livros.
Ganhador do Pulitzer de 1983, inspiração para o filme homônimo de 1985, A cor púrpura foi seu trabalho mais
famoso.
Sul
dos Estados Unidos na década de 30.
Celie é uma jovem negra pobre
e quase analfabeta. Desde cedo aprendeu a cuidar dos irmãos mais novos,
principalmente porque a mãe vivia doente. Aos 14 anos foi abusada fisicamente e
psicologicamente pelo pai, gerou dois filhos dele, crianças que foram tiradas
dela. Sem nunca saber o que é amor, foi praticamente vendida para seu marido. O
homem em questão, Albert, a trata como uma empregada, alguém para cuidar da casa e dos
filhos dele e de sua falecida esposa. Surrada e maltratada, usada ao bel
prazer pelo marido, Celie nunca conheceu nada diferente.
É
a amante do marido, Shug Avery, que
mostra a Celie que ela pode ser mais, como pessoa e como mulher. Em suas cartas
ora para Deus, ora para a irmã perdida, Nettie,
Celie narra suas experiências diárias de vida e de amor. Apesar de tudo
pelo que passou, ela era essencialmente uma pessoa boa. Cuidava dos seus,
trabalhava arduamente e não esperava nada em troca, nem reclamava.
Aos
poucos, Celie descobre que pode ser mais.
~~~~~~
Já
li alguns romances sobre segregação racial e os direitos, ou a falta deles, das
mulheres. Meu favorito é A
resposta, livro lindo e emocionante, eu esperava algo parecido em A cor púrpura. Talvez porque ser um livro muito elogiado e que sempre
tive vontade de ler, criei uma expectativa alta. E foi muito diferente do que eu
esperava, começando pela narrativa toda epistolar, foi estranho conhecer toda a
história apenas através das cartas. Isso limita um pouco, já que tudo o que
ficamos sabendo está resumido ali na visão de Celia.
É
uma história crua, uma narrativa real e opressora. A autora não tenta
romantizar os sacrifícios e as tragédias, não tenta transformar a protagonista em
um ser superior ou santificar Celia. É a vida como ela é. É isso, ponto, vamos
em frente. A história é sofrida, violenta, revoltante. Gostei muito da
forma simples como a autora abordou tantos temas polêmicos: racismo, machismo, classicismo
e outros preconceitos. Não só do branco com o negro, mas também pela forma como
os negros enxergavam os brancos. Religião
é outro tema muito discutido, em certa parte a protagonista perde a fé em Deus
e afirma que “se existisse mesmo um Deus, ele não veria todo esse sofrimento
sem fazer nada”. A opressão contra a mulher tem grande enfoque na obra.
Mulheres foram feitas para procriar, cuidar da casa, obedecer. São geniosas,
precisam apanhar para aprenderem o seu lugar. Precisam olhar para baixo, fazer
tudo o que o marido manda e nunca, nunca reclamar. E o mais estranho é que essa
não era apenas a visão dos homens, era assim que a própria Celia via a si mesma e outras mulheres perto dela.
Numa
das muitas cenas pesadas do livro ela afirma que se considerava um “banheiro para
o marido”. Afinal ele chega, abaixa as calças, descarrega suas coisas dentro
dela e vai embora. Estuprada desde nova, nunca soube o que é uma relação
sexual prazerosa. E é onde a autora explora também o lesbianismo. Afinal, é outra
mulher que ensina Celia o que é sentir prazer sexual, é com outra mulher que ela
aprende a amar. Shug representa a
antítese de tudo o que Celia sempre acreditou, uma mulher forte, independente,
que busca a felicidade e exige seus direitos.
Eu
reconheço a importância da obra e a abordagem inteligente da autora, porém, não
é um livro que vai fazer parte da minha lista de favoritos. Para mim faltou
emoção, eu me solidarizava com tudo o que acontecia, sentia muita pena de
Celia, mas não me comovi com a narrativa. As cartas por vezes confusas, com a escrita
simples e cheia de erros, teve poucos atrativos para mim. Por outro lado, a
narrativa simples e intimista torna tudo muito mais verossímil, é impossível
não torcer por Celie e por um futuro melhor. Um dos aspectos que achei mais
marcante foi a ingenuidade da protagonista, Celia tinha a alma pura, apesar de
tudo o que fizeram para destruí-la.
O
livro foi adaptado ao cinema em 1985 com o mesmo título, dirigido por Steven
Spielberg ele concorreu a 11 Oscars, mas não levou nenhum. No elenco: Danny Glover (Albert), Whoopi Goldberg (Celie), Margaret Avery
(Shug), Oprah Winfrey (Sofia).
Uma
história forte e reflexiva, um romance para ler e refletir. Uma história de
diferenças e de superação. Leiam!
Adicione ao seu Skoob!