O que há de estranho em mim - Gayle Forman

>>  quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

FORMAN, Gayle. O que há de estranho em mim. São Paulo: Editora Arqueiro, 2016. 214p. Título original: Sisters in Sanity.

“Os monstros estão por todo lado,
Só que a gente olha e não vê.
Não têm garras, não tem dentes afiados,
Parecem comigo e com você.

Mas não somos donzelas em apuros,
Nem bichinhos de estimação,
Juntas podemos vencer o escuro,
Precisamos nos dar as mãos.

Naquele momento de maior fraqueza,
Quando você se encontra abatida
E não consegue enxergar com clareza,
Achando que não há mais saída,
Que não tem mais gás,
Antes de ceder à escuridão,
Se você olhar para trás,
Vai encontrar a minha mão.” p.78-79

Adoro os livros da Gayle Forman, sempre me surpreendem. O que há de estranho em mim é seu novo lançamento no Brasil, porém, foi o primeiro trabalho da autora, publicado em 2007 nos EUA. E hoje conto para vocês o que achei da leitura.

Brit Hemphill, 16, era uma adolescente como outra qualquer, com problemas, dilemas e alegrias. A mãe foi diagnosticada com esquizofrenia e sumiu no mundo, deixando a menina com o pai. Um ano depois o pai está casado, Brit odeia a madrasta e passa o maior tempo possível fora de casa. Faz parte de uma banda de rock, se apresenta em shows e tem seu lado rebelde. A garota, não é o que chamaríamos de adolescente problemática: não bebe, não usa drogas, frequenta a escola, não tem namorado. Porém, seu pai pensa diferente, e do nada, resolve matricular a filha em Red Rock – um centro de tratamento falso, no meio do nada, que afirma curar meninas problemáticas.

O lugar é pior do que uma prisão. A terapia consiste em ficar no meio de uma roda, sendo humilhada pelas outras internas. Execícios são quando as meninas empilham tijolos no terreno debaixo do calor do deserto, ou fazem longas caminhadas sob o sol escaldante. Meninas gordas são enviadas para emagrecer, as anoréxicas estão lá para se tratar, mas a comida se consiste basicamente em fast-food. As jovens são desencorajadas a andarem juntas, qualquer infração é punida com uns dias na solitária. Qualquer contato com o exterior é proibido, os pais não fazem ideia do que acontece naquele lugar. Para “melhorar” e sair dali algum dia, ela precisa “aceitar o tratamento”, mas Brit está determinada a não cooperar. Se sente sozinha e abandonada, mas não por muito tempo.

Logo ela faz amizade com outras garotas, uma espécie de resistência. V, Bebe, Martha e Cassie estão no mesmo barco. Juntas, procuram desafiar o sistema, e querem mostrar ao mundo o que realmente acontece naquele lugar.

E isso por quê? Porque ela era uma garota que um dia tinha sido magrinha e depois teve a ousadia de engordar? O que cada uma de nós havia feito para estar ali? Cassie gostava de meninas mais do que achavam que deveria. Bebe gostava de meninos mais do que deveria. V pensava na morte mais do que deveria. E eu? Por que é que eu estava ali? Porque era mais parecida com a minha mãe do que deveria? Porque assustava meu pai mais do que deveria?” p.157

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Já nesse primeiro trabalho é inegável o talento da autora, um livro que mexe com o leitor do início ao fim. Impossível não se angustiar pela situação e não torcer muito por cada uma daquelas meninas, a narrativa em primeira pessoa arrasta o leitor para todo um redemoinho de emoções e sofrimento.

A autora baseou o livro em histórias reais, depoimentos de adolescentes que tinham passado por instituições parecidas nos EUA. Lugares que se denominavam escolas, mas que não passavam de prisões. Adolescentes que foram levadas no meio da noite, alguns  pais haviam sido enganados e esperado algo diferente, outros, queriam apenas se livrar dos problemas.  E, o mais triste, é que muitos jovens realmente precisavam de ajuda (alguns usavam drogas, outros tinham distúrbios alimentares ou depressão), mas encontravam apenas tratamento desumano e punição constante. Os que se diziam “terapeutas” não passavam de profissionais sem formação, usando da chantagem e de ameaças para conseguir o que chamavam de “tratamento”.  É agoniante acompanhar tudo pelo qual Brit e as outras meninas passavam, todas meninas normais, com problemas normais de adolescentes. Não que um tratamento assim se justificasse, caso sofressem realmente de algum distúrbio.

Eu me emocionei em várias cenas, voltei e li de novo algumas passagens, de tão tocantes que foram. A leitura é muito angustiante, minha vontade era me enfiar no livro e tirar todas elas daquele sofrimento. Avaliando os personagens apenas, seria um livro queridinho. Mas achei o desenvolvimento meio raso, um enredo fantástico, mas que foi contado de forma pouco abrangente. Por isso minha nota foi menor, eu adorei a leitura, mas esperava tão mais! O livro é bem fininho, já imaginei que seria tudo muito corrido.

O cerne do livro é a amizade entre as meninas, o que fez com que elas sobrevivessem e lutassem contra tudo o que acontecia naquele lugar. Existe um pequeno romance, fofo, mas contado de forma muito superficial. Uma pena, o casal renderia muito mais.

Curti a leitura e é um livro que vale a pena ser lido, tanto por adolescente quanto pelos seus pais. Não é o melhor da autora, mas foi uma leitura muito interessante. Leiam!

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