Fragmentados - Neal Shusterman

>>  sexta-feira, 2 de outubro de 2015

SHUSTERMAN, Neal. Fragmentados. São Paulo: Editora Novo Conceito, 2015. 320p. (Fragmentados, v.1) Título original: Unwind.

“- Você não pode mudar as leis sem antes mudar a natureza humana – uma das enfermeiras dizia frequentemente enquanto espiava a multidão de bebês chorando. Seu nome era Greta. Sempre que ela dizia algo assim, havia outra enfermeira à escuta, alguém que aceitava muito melhor o sistema e contra-argumentava assim:
- Você não pode mudar a natureza humana sem antes mudar a lei.” p.112

Muita gente leu e a maioria amou, comentários empolgados e notas altas pipocam nas redes sociais. Com cara de distopia e com um ritmo alucinante, conheçam Fragmentados do Neal Shusterman.

A segunda Guerra Civil ficou conhecida como Guerra de Heartland, um conflito longo e sangrento que só trouxe devastação. Para satisfazer os exércitos Pró-vida e Pró-escolha foi criada a Lei da Vida. Essa lei diz que a vida humana é sagrada, do momento da concepção até os 13 anos. Depois disso, se a criança não corresponder ao que se espera dela, ela pode ser “abortada”. Porém, os adolescentes são eliminados, mas ao mesmo tempo são mantidos vivos em “partes’, o processo leva o nome de “fragmentação”. É uma prática comum e bem aceita na sociedade. Os médicos praticamente não tentam mais curar os pacientes, eles apenas substituem o que não serve mais, afinal, “doadores” não faltam. Para os jovens, a única chance é sobreviver até os 18 anos, depois disso estão livres.

“Só porque a lei diz não significa que é verdade.”

Connor Lassiter, 16 anos, era considerado um encrenqueiro na escola, tentava se controlar, mas as vezes explodia por algum motivo bobo. As constantes brigas e as notas apenas razoáveis são um problema para os pais. Mas ele não esperava que seus pais assinassem uma ordem de fragmentação. Prestes a ser levado para um Campo de Colheita, ele resolve fugir.

“Fragmentários não sumiam com um estrondo - não sumiam nem mesmo com um lamento. Sumiam com o mesmo silêncio da chama de uma vela sendo suprimida entre dois dedos.”

Risa Ward, 16 anos, é uma órfã criada em um dos muitos orfanatos, o seu sobrenome a identifica como tal. Mas é  também uma eximia pianista e toca porque sua vida depende disso. Eles exigem perfeição, alguns simples erros em um recital e ela é uma das escolhidas para partir, para ser fragmentada.

“Os dízimos  em Happy Jack são como passageiros de primeira classe no Titanic.” p.265

Lev Calder é um Dízimo, filho de uma família rica e religiosa, eles escolhem o décimo filho para ser fragmentado. Aos 13 anos ele já sabe o que o espera e se sente preparado. Ser um Dízimo é uma honra, ele viverá no corpo de várias pessoas, semeará a cura e a esperança. É uma atitude honrosa e digna.

Entretanto, eles talvez tenham uma chance, para escapar e sobreviver.

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Esse livro é muito interessante, mas muito louco! Tudo começa como já vi em tantas distopias, um mundo surtando e aceitando a loucura de bom grado, uns poucos tentando sobreviver no meio da cegueira geral. Porém o estilo aqui é diferente, você logo vê que o foco está na ação, na luta pela sobrevivência. O autor não se preocupa em desenvolver uma sociedade distópica, ele cita uma guerra, uma lei e é isso. Senti falta de maior profundidade no mundo em que eles vivem, mas está claro que não foi mesmo a intenção do autor.

Tanto que muita gente não o classifica como uma distopia, apenas como YA, ficção científica ou até fantasia. Para mim é sim uma distopia, todas as características do estilo estão presentes.

Voltando ao enredo, eu me empolguei muito, é daqueles livros que lemos alucinadamente, desesperados para chegar ao final. E o final foi surpreendente, com direito a emoção e lágrimas. Os três personagens são interessantes, diferentes, todos com uma personalidade forte e muitas falhas, mas todos lutando para sobreviver. Torci por todos eles, achei um absurdo a forma como a família achava normal entregar um filho para a morte.

A Fragmentação em si foi algo que eu não digeri totalmente. O autor passa a ideia de que as pessoas são fragmentadas, mas não morrem, elas vivem em vários dos órgãos em pessoas diferentes. Inclusive tem uma passagem do livro onde um menino, CyFi, que recebeu um braço transplantado, sente impulsos que não são dele e até consegue receber pensamentos do menino que “doou”. É muita loucura para mim, o conceito é que aparentemente a alma ou a mente se parte e fica viva em todas as partes. Sinistro. O fato de eu não comprar a ideia e achar tudo inacreditável demais perdeu pontos comigo.

Apesar disso, adorei a leitura e a narrativa do autor é excelente. Estou empolgada para continuar a série, quero ver que loucura vem a seguir. O livro tem inúmeras frases e pensamentos interessantes. Filosofa sobre várias discussões: a existência da alma; quando a alma vem para o corpo, no nascimento ou na concepção; a lei contra o aborto, mas que permite que a mãe abandone o bebê em qualquer porta, a criança tornando-se imediatamente responsabilidade de quem encontra; o direito a vida e ao próprio corpo; a ganancia humana, órgãos que seriam usados para salvar vida são usados a torto a direito, para mudar a cor dos olhos por exemplo, dentre outras coisas.

É isso, quem gostou me conte o que achou. Leiam! 

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Série Fragmentados do Neal Shusterman
  1. Fragmentados (Unwind)
  2. Unwholly (os demais não lançados no Brasil)
  3. Unsouled
  4. Undivided
Avaliação (1 a 5): 3.5

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