Objetos cortantes - Gillian Flynn

>>  terça-feira, 17 de março de 2015

Flynn, Gillian. Objetos cortantes. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca, 2015. 254p. Título original: Sharp objects.

“Comprimido no espaço de trinta centímetros entre a loja de ferragens e o salão de beleza havia um pequeno corpo, voltado para a calçada. Como se estivesse ali apenas esperando por nós, olhos castanhos arregalados. Reconheci os cachos selvagens. Mas o sorriso sumira. Os lábios de Natalie Keene estavam murchos sobre as gengivas, em um pequeno círculo. Parecia um bebê de brinquedo de plástico, do tipo com um buraco para a mamadeira. Natalie não tinha mais dentes. p.33

Garota exemplar estourou nas livrarias e no cinema, a maioria dos leitores amou o suspense pouco convencional e diferente, mas alguns se decepcionaram. Eu estou entre os que amou e mal via a hora de ter outro livro da autora em mãos. E eis que ele chega, conheçam Objetos cortantes da Gillian Flynn.

Camille Preaker saiu faz pouco tempo de um hospital psiquiátrico, onde ficou internada para tratar sua tendência a automutilação; desde a adolescência convive com seu corpo todo marcado, ferido, um corpo que grita. Mas agora, tem um desafio maior pela frente, voltar para casa. Desde que se mudou há oito anos, nunca mais olhou para trás. Camille trabalha em um pequeno jornal de Chicago, e a pedido de seu editor Frank Curry, precisa voltar para cobrir o assassinato de uma menina e o recente desaparecimento de outra.

Wind Gap, Missouri, uma pequena cidade sulista. É onde vive sua mãe, Adora, seu padrasto e sua meia irmã, Amma, uma menina de 13 anos que Camille mal conhece. De volta a sua antiga casa, precisa lidar com o seu passado, com tudo que deixou para trás e tentou arduamente esquecer. Como a perda de sua irmã mais nova, Marian, que tanto amava. A mãe nunca mais foi a mesma, não que tenha sido amorosa antes, mas depois da morte da filha favorita, apenas a ignorara.


Enquanto tenta entrevistar as pessoas para suas reportagens, Camille reencontra antigos colegas de escola e novos moradores. Convivendo com a irmã e suas amigas adolescentes, começa a relembrar como foi sua vida naquela época. Confrontada pelo passado e pelos segredos da família, tenta se manter forte e manter sua sanidade. 


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A autora é extremamente habilidosa, escreve bem e tem uma capacidade impar para chocar o leitor, mesmo o mais acostumado a este tipo de trama. A forma cruel como ela sistematicamente desenvolve seus personagens, me lembra muito do estilo do Stephen King, ou seja, personagens imperfeitos e até meio assustadores.

É um daqueles livros que você vai amar ou odiar, não acredito que o leitor sairá incólume da leitura. A leitura é forte, viciante, eu praticamente senti as palavras pularem e grudarem na pele... a sensação durante a leitura foi desesperadora. A protagonista tem todo o corpo cortado, palavras escritas a faca, gravadas para sempre na pele. DOR, SUJA, SUMIR... Ela descrevia seu corpo, que atualmente mantinha escondido com roupas enormes. No calor sufocante, com o suor grudado no corpo, com cheiros e sensações descritos minuciosamente. Eu senti pena de Camille, mas ao mesmo tempo senti nojo de suas atitudes autodestrutivas, não só pelos cortes, mas principalmente pela quantidade de bebida que ela ingere do início ao final do livro. Tenho bem pouca paciência com protagonistas alcoólatras, mas se alguém tinha motivo para beber todas era esta moça rs.

Sua família não fica atrás, assim como alguns moradores da cidade. A autora cria seres humanos deturpados, tão desumanos que chegam a chocar. Não é um livro para quem procura algo leve, nem uma luz no fim do túnel. É um livro afiado, maldoso, grotescamente realista, esqueçam o sorriso no rosto, com Gillian Flynn o mais provável é o estômago revirado.

Engraçado que eu saquei logo os desdobramentos, desde o início eu matei a charada (algo que incomodou muita gente em Garota exemplar); não entendi como a pessoa fez ou porquê, mas desconfiava do QUEM. E foi mais sinistro do que eu esperava. Na verdade, percebi pelos dois livros que li da autora, matar a charada não é o principal, o principal são as motivações, as mentes perturbadas dos personagens.

Apesar da trama diferente, que inova em vários sentidos, eu senti falta de algo mais. Achei que alguns desdobramentos foram corridos, principalmente no final. Vocês podem observar que é um livro muito fino para uma história tão complexa. Tenho a impressão de que foi intencional a quantidade de informações com as quais a autora bombardeia o leitor, mas eu queria maiores explicações em algumas situações.

Este é um livro para fãs de thrillers mais pesados, a habilidade da autora é notável, mas não é um livro para o leitor mais frágil. Se você não tem medo do que vai encontrar nessas páginas, enjoy. Leiam!

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Avaliação (1 a 5):

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