O inquisidor - Mark Allen Smith
>> terça-feira, 3 de março de 2015
SMITH, Mark Allen. O inquisidor. Rio de Janeiro: Editora Record, 2015. 414p. Título
original: The inquisitor.
“Geiger
era um apóstolo, um escravo das particularidades. Estava constantemente
desmembrando, destilando e definindo partes do todo, porque na OI – obtenção de
informações – os detalhes eram cruciais. Seu objetivo era aperfeiçoar o
processo até transformá-lo em arte, o que explicava por que cada coisa que
acontecia a partir do momento em que ele entrava na sala tinha o próprio grau
de significância e exigia reconhecimento. Cada expressão facial; cada palavra
dita e momento de silêncio, cada tique, olhar e movimento. Dê a ele quinze
minutos na sala com um Jones qualquer e, nove em cada dez vezes, ele saberá
qual será a reação a uma ação específica antes que a pessoa a execute: medo,
confronto, desespero, arrogância, negação.” p. 25-26
Depois de tantos seriais killers, claro
que uma história sobre um torturador iria chamar a minha atenção. Não sabia nada sobre
o livro, lançado há pouco tempo pela Record, mas fiquei curiosa após ler a
sinopse. Este é o primeiro livro do americano Mark Allen Smith, que trabalhou
com roteiros e produção de documentários, confira o que eu achei de O
inquisidor.
Geiger, apenas um nome, é tudo o que qualquer pessoa sabe
sobre ele. Um homem que surgiu do nada nas ruas de NY, sem passado, sem
lembranças. Seus olhos não revelam nada, são vazios, nunca demonstram nenhuma
emoção. Ele não se lembra de nada, mas tem um aguçado
instinto de sobrevivência e logo descobre ter um grande talento. O homem que
começou trabalhando em obras para sobreviver, acaba convencendo um importante
mafioso local a lhe dar uma chance. Quinze anos depois, ele domina o ramo de OI
– Obtenção de Informações.
Ele aprendeu as melhores maneiras de
levar as pessoas ao limite, com um método de tortura que é mais psicológico do que
físico, trabalha com classe. Com o mínimo de sangue, não que isso diminua a
dor. Geiger é o melhor em seu ramo. Seu sócio Harry Boddicker é
o responsável por toda a logística do trabalho. Um ex jornalista que estava no
fundo do poço e vivia bêbado, até que Geiger lhe propôs esta parceria incomum.
Ele contatava os clientes, levava para os locais pedidos, recebia os pagamentos
e administrava o negócio. Harry tem seus próprios demônios para cuidar, entre
eles cuidar da irmã esquizofrênica, Lily. Ele não sabe
nada sobre o parceiro de tanto tempo, nem mesmo onde ele mora. Geiger tem
algumas regras rígidas para escolher seus “Jones” como ele chama todos os seus
interrogados, ele não aceita pessoas idosas, nem com problemas no coração ou crianças.
Quando um novo cliente é entregue, Ezra, um
garoto de 12 anos, sua resposta é não. Mas o cliente ameaça levar o garoto para Dalton,
um torturador com práticas selvagens, por isso Geiger acaba aceitando o trabalho, mas na
intenção de proteger o garoto. Ele precisa descobrir porque Ezra é tão
importante, ao mesmo tempo que torna-se alvo de um inimigo poderoso.
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É um thriller diferente e o enredo em
si chama muito a atenção, mas eu esperava me surpreender e acabei encontrando
mais do mesmo. Talvez pela narrativa seca e rápida, que lembra mais um filme de
ação do que uma obra literária. A narrativa em terceira pessoa também não ajuda
o leitor a se envolver com os protagonistas. Eu gostei, mas foi uma dessas leituras passageiras,
que não deixam grandes marcas.
Geiger não desperta simpatia, um cara
frio, com um personalidade distante, com uma trauma do passado que não consegue
se lembrar. Achei a criação do personagem interessante, mas muita coisa foi
pouco explorada e deixada de lado, outras não me convenceram. Sendo Geiger uma pessoa tão fria, sobrava
Ezra para trazer vida à historia. E para mim foi onde o autor falhou, ele tinha
uma grande chance de tocar o leitor com uma criança esperta e inteligente,
sendo perseguida por bandidos sanguinários. Mas o menino aparece pouco, e o
lado dramático da história não foi desenvolvido. Se Smith tivesse feito com
Ezra só um pouco do que o Hart fez com Johnny de O último filho, teríamos um livro infinitamente
melhor.
Alguns personagens como Harry, o
próprio Ezra, Lily e Corley - o psicólogo de Geiger, não ganham uma história
completa. Seus dramas são parcialmente citados, pouco desenvolvidos, eles ficam
perdidos num mar de ação, no meio da corrida para salvar a vida da criança. Os
bandidos são bem burros para trabalharem para “alguém” tão importante, mas os
“mocinhos” não ficam muito atrás. Geiger é frio e racional, mas falha
miseravelmente com seu plano de ação. É tão sem noção que até agora não
acreditei na maioria dos desdobramentos rs.
De positivo temos o enredo, a história
é interessante. O passado sombrio do protagonista, os métodos de tortura
e sua forma de agir, o suspense em torno do mistério que envolve a criança. O
livro tem pelo menos uma continuação já lançada, o que foi uma ótima notícia,
porque o final é bem abrupto. Apesar das criticas pretendo dar uma chance ao
autor lendo o próximo. Indicado para quem curte thrillers mais pesados, porém, não espere encontrar algo inovador, para os amantes de filme de ação é
interessante. Quem leu me conte o que achou!
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O inquisidor de Mark Allen Smith
- O inquisidor (The inquisitor)
- The confessor (lançado em 2014 nos EUA).
Avaliação (1 a 5):