Tempo de matar - John Grisham

>>  quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

GRISHAM, John. Tempo de matar. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1994. (Jake Brigance, v.1). Título original: A time to kill.

“A menina tinha dez anos e era pequena para sua idade. Estava deitada sobre os cotovelos amarrados atrás das costas com uma corda amarela de náilon. Tinha as pernas grotescamente abertas, o pé direito amarrado a um pequeno carvalho e o outro à estaca tombada de uma velha cerca. A corda estava nos tornozelos e o sangue escorria pelas pernas. O rosto estava ensanguentado e inchado, com um dos olhos fechados, com o outro ela via o homem branco sentado na caminhonete. Não olhava para o homem em cima dela. Ele arquejava, suava e praguejava e a estava machucando.”

“Willard perguntou se Cobb achava que ela estava morta. Abrindo outra lata, Cobb explicou que não estava porque geralmente não era possível matar um crioulo com pontapés, pancadas ou estupro. Era preciso muito mais para se acabar com eles, uma faca, um revólver ou uma corda.” p. 13- 14

Tempo de matar do John Grisham foi lançado originalmente em 1989, mas teve vendas modestas. Depois que dois outros livros do autor, A firma e O dossiê pelicano, fizeram muito sucesso nos cinemas, ele foi republicado e estourou nas livrarias. A história foi adaptada ao cinema em 1996 e voltou ao topo das vendas. Em 2013 o autor anunciou que estava trabalhando na continuação e Sycamore row se tornou um dos livros mais aguardados nos EUA, lançado no Brasil como A herança. É um clássico dos thrillers jurídicos e um dos maiores sucessos do autor. E hoje conto para vocês o que achei da leitura.

Carl Lee Hailey é um homem de família, honesto e trabalhador. Antigo morador da cidade, trabalha há 20 anos na fábrica de papel, enquanto a esposa, Gwen, cuida dos três meninos e da pequena Tonya, a caçula de dez anos. Sua vida muda em uma tarde, quando sua filhinha é espancada e estuprada por dois homens brancos, bêbados e drogados.

“Carl Lee apareceu com a filha nos braços. Sussurrava carinhosamente para ela e as lágrimas pingavam do seu queixo. Andou até a ambulância e entrou.” p. 18

Ozzie Walls é o único xerife negro em todo o Mississippi e orgulha-se muito do fato, principalmente porque a pequena Ford County é formada por 64% de brancos. Ele cuidava da pequena cidade de Clanton, a sede do condado. Ao saber do que havia acontecido com Tonya e ao ouvir o que a menina sabia sobre os homens, imediatamente vai atrás de Billy Ray Cobb, um malandro que vendia drogas e estava na mira do xerife há algum tempo. Com a ajuda de um informante, consegue prender Cobb e o parceiro Willard pelo estupro.

Jake Brigance dormia tranquilamente com a esposa naquela manhã de 15 de maio. Aos 37 anos era um dos bons advogados da cidade, não trabalhava na firma grande e lucrativa nem defendia grandes empresas, cuidava das pessoas. Ao chegar ao seu escritório naquele dia, ficou sabendo do que havia acontecido. A primeira coisa que ele pensou foi que tendo uma filha de 4 anos em casa, não sabia o que faria se algo assim acontecesse com sua menininha. No mesmo dia ocorreu a audiência para indiciar os dois suspeitos, depois da audiência Carl Lee o procurou e fez algumas perguntas, perguntas sobre o que aconteceria com ele se matasse aqueles 2 homens.

Jake fez de tudo para acalmar Carl Lee, mas prometeu esperar por ele na delegacia se algo acontecesse.  E quando um homem NEGRO, abre fogo contra dois criminosos BRANCOS que espancaram e estupraram sua filha, todos sabem que ele será condenado a cadeira elétrica. Mas seu jovem advogado está determinado a conseguir justiça. Enfrentando todo tipo de preconceito e ameaças, dar-se início o maior e mais caótico julgamento que o Mississippi já viu.

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Livrão! A história é triste, os fatos históricos em torno do acontecido são ainda mais tristes, mas vale muito a pena a leitura, mesmo que você, como a maioria, já tenha assistido ao filme. John Grisham escreve magistralmente, ele narra cada aspecto jurídico com clareza e conduz o leitor para dentro dos tribunais, para a mente do promotor, do juiz e dos jurados. O acusado clama por justiça, ele fez o que qualquer pai faria naquela situação. O triste, é que se fosse um homem branco matando dois negros que tivessem abusado de sua filhinha, ele nem teria sido indiciado.

A história se passa no Mississippi da década de 80, um dos Estados mais preconceituosos dos EUA. A Ku-klux-klan resolve comprar a briga e chega à cidade. Ameaças são feitas, cruzes são incendiadas. Famílias são ameaçadas. Jake tenta o impossível, com poucos aliados e nenhum dinheiro. A família do preso está a ponto de passar fome, já que o pai era a única fonte de renda. Todos os negros da cidade apoiam o que ele fez, mas os brancos pensam diferente. Jake não irá conseguir um julgamento justo, com um júri  que, provavelmente, será todo composto de brancos. Ele tenta a transferência de local, o juiz recusa. Dar-se início um caos sem precedentes.

Os personagens são incríveis, todos eles. Cheios de vícios, inseguranças e dúvidas. A maioria visa o lucro, são egocêntricos e só pensam no que irão ganhar com aquele julgamento. Jake sabe que aquele é o caso de sua vida, se ganhar alavanca sua carreira, se perder, ainda vale a pena, com toda a exposição da mídia. Ele deixa a família de lado, ignora ameaças, faz o que tem que fazer para ajudar seu cliente. Quando a coisa fica séria, ele recorre a bebida. Seus amigos tentam ajudar, mas o caos está formado.

O enredo é muito minucioso e um pouco lento, tudo é descrito nos mínimos detalhes, o que pode desagradar o leitor mais ansioso. Eu gosto da narrativa do autor e amei a história. Mas o ritmo lento me impediu de dar a nota máxima, alguns momentos foram cansativos.


A história foi adaptada para o cinema em 1996, a bilheteria ultrapassou R$ 215,9 milhões. Dirigido por Joel Schumacher e estrelado por Matthew McConaughey (Jake), Sandra Bullock (Ellen Roark), Samuel L. Jackson (Carl Lee Hailey), Charles S. Dutton (xerife Ozzie) e Kevin Spacey (Rufus, o promotor). Assisti ao filme depois de terminar a leitura, acho que até já tinha assistido este filme séculos atrás, mas não lembrava de nada graças. O filme tenta ser fiel ao livro mas, claro, algumas coisas são bem diferentes. Principalmente o final, no filme eles pularam as discussões dos jurados até o veredicto, uma das partes mais emocionantes do livro. 


Eu tenho vários livros do autor na estante que eu ainda não li, já li alguns dele antes de ter o blog, mas minha vontade é de reler todos para resenhar. Quero o segundo livro para ontem na estante! Este livro é imperdível para quem curte o gênero, leiam!

Adicione este livro ao seu Skoob!

Jake Brigance do John Grisham
  1. Tempo de matar (A time to kill)
  2. A herança (Sycamore Row)
  3. Tempo de perdoar (A time for mercy)
Avaliação (1 a 5): 4.5

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