Escravas de coragem - Kathleen Grissom
>> quarta-feira, 23 de julho de 2014
GRISSOM, Kathleen. Escravas de coragem. São Paulo: Editora Arqueiro, 2014. 336p.
Título original: The kitchen house.
“-
Abinia, uma coisa eu sei. Qual é a cor da pessoa, nem quem é o pai, nem quem é
a mãe, nada disso quer dizer nada. Nós é uma família, cuidando um do outro. A
família deixa a gente forte nas hora de aperto. A gente fica tudo junto,
ajudando um ao outro. É esse o verdadeiro sentido de família. Quando ocê
crescer, vai levar esse sentimento de família dentro do peito.” p.147
Este livro me chamou a atenção quando bati o
olho na capa e fui ler com uma expectativa enorme. A frase de capa “A história de uma escreva branca e e o amor
inabalável por sua família negra” me fisgou completamente. Abordando a
segregação racial nos EUA no final do século XVIII e início do XIX conheça Escravas de Coragem da Kathleen
Grissom.
Lavinia não se lembrava de nada
da sua vida de antes, na Irlanda com os pais e o irmão mais velho. Eles
embarcaram em um navio para os EUA, em busca de uma vida melhor. Os pais
morreram na travessia, o irmão foi vendido e ela, levada pelo capitão James Pyke para sua fazenda na Virgínia.
Foi em 1791 e ela tinha 7 anos.
Belle não recebe com bons
olhos aquela menina branca em sua cozinha, aquele trapinho de gente que só
sabia vomitar tudo o que comia, parecia que a menina não iria vingar. E aos 18
anos, ela já tinha problemas suficientes. Filha ilegítima do capitão, Belle é
uma escrava mestiça, sem saber ao certo onde é seu lugar no mundo. O capitão
promete lhe libertar, sempre lhe trás presentes, mas nunca cumpre o prometido.
Ela também não quer ir embora, aquela é a sua casa, os negros que trabalham na
casa grande são sua família.
Mama Mae e Papa George acolhem Lavinia como uma de suas filhas, cuidam da menina
assustada, tratam ela como igual, um deles. Alguns anos depois, Lavinia não consegue
entender o que nela é diferente, sua pele branca vive afastando-a das
pessoas que ama.
“-Abinia
- disse ele, apontando para as galinhas -, olha praquelas ave. Umas é marrom,
umas é branca e preta. Ocê acha que, quando ela têm pintinho, aquelas mamães e
papais se incomoda com isso?” p.29
A medida que Lavinia cresce, ela começa a ser
tratada de forma diferente, sendo acolhida na casa grande para ajudar a esposa
do capitão, vítima da dependência do ópio. D.
Martha piorava quando o capitão fazia suas longas viagens, e seu ódio por
Belle, que ela acreditava ser amante do marido, sempre assustava a todos. Seu
filho, Marshall, também estava
crescendo, e se tornava perigoso. Já adolescente começou a andar com o capataz,
vivia bêbado e fazendo ameaças. Belle precisava sair dali, antes que fosse
tarde demais.
Assim se inicia a saga desta família, que ao
longo de 19 anos se amaram e se apoiaram, acima de qualquer coisa. Lavinia
ficará dividida entre dois mundos, a escravidão e a liberdade. Suas escolhas
trarão consequências para a vida de todos.
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Minhas expectativas estava nas alturas, e talvez
por isso eu não tenha amado como esperava, embora tenha gostado muito da
leitura. Na capa comparam com E o vento
levou..., eu esperava algo mais parecido com A
resposta, protagonistas fortes que contestassem a situação em que viviam e lutassem por mudanças. Encontrei um
romance triste, uma história de pessoas que se uniram por amor e uma comovente luta pela sobrevivência. Porém, a história não surpreende, e duas coisas não me conquistaram, Lavinia e o
final.
Eu me apaixonei pela força e pela perseverança
de Mama Mae, pela tenacidade do Papa George e pela coragem da Belle. Mas Lavinia
vai decaindo durante o livro, no começo ela era apenas uma criança, cresce e se
torna parte daquela família. Porém, a Lavinia já adulta não acerta uma. Ela é
extremamente fraca e sem atitude; mesmo tendo consciência da impotência dela por
ser apenas uma mulher, em uma época onde os homens faziam o que bem entendiam, me irritou muito! A
narrativa se alterna entre ela e Belle, deixando clara a diferença de
oportunidades de futuro entre as duas, baseada na cor da pele de cada uma.
Agora o final, o problema não foi o que
aconteceu, foi que o início e o meio do livro são mais interessantes que o
final em si. Os acontecimentos finais tiveram pouco apelo emocional para mim, eu
comecei tão empolgada e estava adorando, aí achei o final meio morno. E
fora que faltou um epílogo, mas eu sempre falo isso, sou fissurada com finais
redondinhos.
A história contada é triste e bem marcante, como
todos os livros que tem como foco a segregação racial. Não tem como não mexer com o
leitor, toda aquela luta, toda aquela dor. A autora aborda situações como abuso
sexual, incesto, morte, traição, dependência química, etc. Eles trabalhavam e
trabalhavam sem reclamar, em troca, recebiam mais sofrimento. E olha que eles
eram os negros privilegiados, os criados da casa grande, onde não faltava
comida ou algum conforto, a situação dos negros do campo era infinitamente
pior. Impossível não odiar os brancos responsáveis por tudo isso, ou por maldade,
no caso do capataz e do filho do capitão, ou por falta de atitude, como o
capitão e sua mulher.
Apesar de eu não ter amado como esperava, é uma
leitura emocionante, que eu indico aos fãs de romances históricos nesse
estilo. Leiam!
Avaliação (1 a 5): 3.5