Os videntes - Libba Bray
>> terça-feira, 1 de outubro de 2013
BRAY, Libba. Os videntes. São Paulo: Editora iD, 2013. 568p. (Diviners, v.1).
Título original: The diviners.
“Somos
os Videntes. Nós fomos e seremos. É um poder que vem da grande energia da
terra e de seu povo, um reino compartilhado por um feitiço, conquanto seja
necessário. Nós vemos os mortos, falamos com espíritos inquietos. Nós
caminhamos nos sonhos. Lemos o significado de tudo o que seguramos. – O futuro
se revela para nós como um mapa de navegação, mostrando mares nos quais ainda
navegaremos.” p. 183
A escrita da americana Libba Bray me conquistou
com a leitura da trilogia Gemma Doyle,
e fiquei muito curiosa quando vi a premissa do seu mais novo livro aqui no Brasil. E agora posso afirmar que além de escrever bem a autora é muito
versátil, o estilo aqui é bem diferente, mais ágil, moderno e sombrio. Descubra o
que eu achei de Os videntes.
Evie O’Neill
vivia entediada na pequena Ohio, mesmo com toda a sua vida boêmia, regada a festas e
bebedeiras. Evie sonha com uma vida de fama e glamour e muitas vezes, perde a
razão para ser o centro das atenções. Evie tem um dom, ela consegue ver a
historia de um objeto que toca, saber detalhes da vida do dono que deveriam ficar em segredo. E é assim que
ela causa uma fofoca escandalosa em uma destas festas e, recusando-se a pedir
desculpas por algo que sabe ser verdade, ela é castigada pelos pais. O castigo
é ir viver em Nova York com o tio solteiro, Evie só falta dar pulos de alegria.
A Nova York de 1926 é a cidade das compras, do
contrabando, dos cinema e da Lei Seca. Evie está encantada com a cidade, com as
roupas, com toda a badalação. Porém ela também precisa conviver com seu tio Will Fitzgerald, o curador do Museu
Norte-americano de Folclore, Supertição e Ocultimo, ou, Museu dos Insetos
Rastejantes como é conhecido. O lugar vive as moscas, além do tio é frequentado
quase que apenas pelo seu ajudante, o misterioso Jericó Jones. Evie está empolgada para retomar a amizade com uma antiga conhecida do prédio do tio, Mabel Rose. Filha de militantes da esquerda, a moça é oposto de
Evie, simples, não liga tanto para os vestidos da moda e tem uma queda
por Jericó.
Além da amizade com Mabel, Evie logo conhece uma
das glamourosas garotas Ziegfeld, Theta
Knight. A moça é dançarina e vive em todo o glamour que encanta tanto Evie. Theta tem um
passado misterioso, um dom secreto e estranhos pesadelos. Ela mora com Henry, seu melhor amigo, desde que ele a salvou da vida nas ruas.
Do outro lado da cidade, no Harlem, vive Memphis Campbell, um rapaz de dezessete
anos que faz o que pode para sobreviver. E mesmo trabalhando no mercado ilegal
das apostas, tudo o que quer é cuidar do irmãozinho após a morte da mãe.
Memphis tinha um dom, o dom da cura. Mas um evento traumatizante levou seu dom
para sempre. Agora seu irmão mais novo, Isaías,
aparenta também ter poderes. Ele adivinha cartas, e faz algumas previsões sobre o
futuro que ninguém parece prestar atenção. Memphis normalmente está muito distraído com o trabalho e com o
melhor amigo, Gabe, para dar a
devida atenção. Naquelas ruas vive também o cego Bill, que terá mais importância para esta historia do que os outros
imaginam.
Evie também tem pesadelos, eles começaram desde
que seu irmão morreu na guerra. Todos eles tem estranhos pesadelos. Sam Lloyd é um ladrão, vive nas ruas
batendo carteiras e assaltando bolsas. Ele é o ladrão perfeito, quando ele se
concentra bastante pode andar no meio de uma multidão sem que ninguém o veja.
Ele não fala com ninguém sobre seu dom. Mas foi assim que ele conheceu Evie, o
problema é que ela não iria deixar barato.
A vida monótona de seu tio Will muda quando um
amigo detetive lhe pede ajuda para desvendar um crime com aspectos de
ocultismo. Evie, obviamente, dá um jeito de ir junto e acaba tocando em um objeto
da vítima. Ela vê o terror, ela sente o medo, ela consegue sentir tudo, o frio,
a morte. Depois disso ambos acabam em meio a uma investigação policial. Ela não
sabe, mas esta é a primeira de muitas mortes, algo sombrio acaba de despertar.
~~~~~~~~
O livro tem muitos personagens importantes e é até difícil de
descrever todos na resenha. A narrativa é interessante, em terceira pessoa e
alternando-se entre vários dos personagens. Eles não se conhecem no início da historia, mas de alguma forma estão ligados. Alguns com um dom
estranho, secreto. Todos evitando falar sobre isso, atormentados pelos
pesadelos.
Evie é a protagonista que tem maior destaque, a narrativa
está sempre voltada para ela e para a investigação dos assassinatos. A parte
mais tensa do livro, quase assustadora, é narrada pelo próprio assassino, ou
pelos eventos que ele desencadeia. Algumas partes são sinistras, o livro tem
uma característica sombria perturbadora.
O cenário é perfeito, a autora ambientou muito
bem a Nova York da década de 20. É muito legal acompanhar as andanças de Evie,
os cenários, as roupas da época. Achei muito legal que ela se preocupa em
mostrar os dois lados da cidade, a vida glamourosa dos ricos, com festas, as
bebedeiras em plena Lei seca, as melindrosas. Do outro lado os negros
enfrentando muito preconceito, os jogos de azar, a vizinhança do Harlem. Não
foi uma surpresa para mim, a autora sempre caracteriza muito o ambiente em que
se passam seus livros. No início a autora investe demais nesta característica e
divaga um pouco apresentando os personagens, o livro demora um pouco para pegar
o ritmo.
Os personagens são bem construídos, cada um com
seu estilo diferente. Evie é um porre no começo, egoísta, cheia de mimimi e
muito metida a besta. Ela melhora durante a historia, mas tem uma atitude bem
no final que me fez duvidar do seu pequeno amadurecimento. Sam é um trapaceiro
e garante alguns momentos engraçados. Memphis é um sonhador, tem
um coração enorme e luta para cuidar do irmão. Ainda falando dos personagens, o
livro tem também uma pegada Steampunk que
eu não esperava encontrar, e que ainda não sei como irá se desenvolver.
Pelo que pude ver até agora, pode ser que seja
apenas uma duologia, tem apenas mais um livro lançado nos EUA, mas não sei se
vai terminar por aí. O melhor da historia é o lado sombrio, dava para ficar com
medinho em algumas passagens, tem até uma musiquinha do fantasma que não saiu
ainda da minha cabeça. Por ter uma continuação eu achei até que o livro tem
um final bem redondinho, agora é esperar para ver o que acontece no próximo.
Eu indico para quem gosta de um sobrenatural e é
mais exigente com o tema. A historia é bem elaborada, tem um cenário meio
macabro e muitos personagens interessantes. Leiam!
Diviners
da Libba Bray
- Os videntes (Diviners)
- Lair of dreams (ainda não lançado no Brasil).
Avaliação (1 a 5):
Comentou? Não esqueça de preencher o formulário do Top Comentarista de Outubro!