A sétima morte - Paul Cleave
>> sexta-feira, 2 de agosto de 2013
CLEAVE, Paul. A sétima morte. São Paulo: Editora Fundamento Educacional, 2012.
310p. Título original: The cleaner.
“Não
foi difícil eles duvidarem da minha história, e quando falei da recompensa,
alegando que a merecia por tê-lo matado e, em seguida, usei a palavra ‘lá fora’
para indicar onde havia matado a vítima a facadas, minha performance de ‘Joe
lerdo’ estava sacramentada. Quando
deixei de ser Hannibal Lecter para me tornar Forrest Gump em questão de
segundos, descobri que a policia não tinha suspeito algum.” p. 33
Eu adoro ficção policial e sou fissurada em
livros que investigam assassinatos, é só eu ler “serial killer” na sinopse que
meus olhos já brilham – isso ficou estranho rs. Portanto, livros nesse estilo
não são novidade para mim, mas o autor muda tudo. Seu livro é narrado em
primeira pessoa, por ninguém menos do que pelo próprio serial killer, e são
pelos seus olhos que acompanhamos a historia de A sétima morte do neozelandês Paul Cleave.
Joe é um cara muito
inteligente, mas ninguém sabe disso. Para todos de seu trabalho ele é o ‘Joe
Lerdo’, um cara legal de trinta e poucos anos; isso desde que arrumou um
emprego, como faxineiro da delegacia de policia. Sua performance de deficiente
mental é tão perfeita, que ele fica orgulhoso disso, e gosta de seu trabalho. O
que ninguém sabe é o que ele faz em seu tempo livre.
Ninguém o incomoda, ele não perturba ninguém.
Ele mora sozinho em um apartamento minúsculo e caindo aos pedaços, tendo com
companhia apenas seus dois peixes, seus melhores amigos. No tempo livre, e sob
muita chantagem emocional, Joe normalmente sai à noite para jantar com sua mãe.
Como Joe vive tranquilo em seu mundinho, ele não
está nem um pouco preocupado com o que vive aterrorizando a cidade de Christchurch,
um serial killer que já fez sete vítimas. O assassino conhecido como o
carniceiro de Christchurch continua a solta, e a policia não tem pistas nem
suspeitos.
“
Pergunto-lhe se pode me chamar um taxi, mas ela diz que já vai sair e me
oferece uma carona até em casa.
Olho
para o relógio. Seria divertido ganhar
uma carona dela, mas onde eu me desfaria do corpo?” p.71
Incomodado com a situação, ou com parte dela,
Joe vai em busca ele mesmo do assassino. E como tem acesso a toda
a delegacia, não é difícil ter acesso aos documentos da investigação.
Afinal, quem iria olhar duas vezes para o que o Joe Lerdo estava fazendo.
“Encosto
em frente a uma casa um pouco antes dela, dou vinte minutos para ela entrar e
se ajeitar. Imagino que more sozinha. Em primeiro lugar, ela é aleijada, e ninguém
iria querer amá-la, em segundo lugar, se ela tivesse um marido, ele estaria com
ela no cinema. Até agora, nunca tinha pensado que deficientes, retardados e
aleijados tivessem algum valor.” p.246
Mas Sally
parece reparar nele, até demais. A moça perdeu um irmão deficiente mental e faz
de tudo para se aproximar de Joe, acredita que pode ajudá-lo. Ele não sabe o
que a gorda, que obviamente tem alguma deficiência mental, quer com ele. Só a suporta por causa dos deliciosos sanduíches que ganha no almoço.
Enquanto a policia continua perdida e sem
pistas, nos acompanhamos – em primeira mão – quem é e o que faz o temido serial
killer.
~~~~~~
Como vocês podem ter percebido pelas citações
acima, o serial killer deste livro não tem nada de bonzinho, a frase pode
parecer estranha, mas Dexter,
por exemplo, é um serial queridinho, ele mata assassinos, o que faz com que o
público não tenha piedade nenhuma das
vítimas.
E eu achei isso demais, o assassino é um cara
mal, cheio de problemas e com a mente muito perturbada. Em várias situações ele
parece fugir do que fez, principalmente quando tem haver com sua família. Tem uma
cena hilária (ok, adoro um humor mais perverso) com a mãe dele, o cara é
completamente lunático.
E ele adora contar o quanto é inteligente, o
quanto a policia é burra e nem desconfia dele. Afinal, ninguém olha duas vezes
para os retardados. E é vivendo uma vida dupla que ele pratica seus
assassinatos. Aos poucos, vamos descobrindo as prováveis razões que o tornaram tão maluco, mas a evolução do livro é muito interessante e só aos
poucos vamos juntando os pontos.
Este é também um policial onde não temos a visão
dos detetives, tudo que sabemos da investigação é o que o assassino conta. A
coisa é um pouco frustrante, por outro lado bem diferente e eu gostei. Sally é uma personagem estranha, você não sabe muito bem sua importância na trama, a não ser seu interesse por Joe. Eu gostei do que aconteceu, mas como personagem narradora ela foi meio que abandonada.
Não gostei de alguns desdobramentos,
tudo estava indo muito bem - adorei a narrativa do autor-, até que coisas pouco
plausíveis começam a acontecer. Ele encontra uma mulher, para ele mais uma
vítima, mas na verdade não é nada disso. A partir daí o livro decaiu,
foram várias cenas surreais demais (evitando contar mais para não passar spoilers), não me convenceram. Outra coisa que não gostei foi da capa, a capa original é bem mais interessante, esta não diz nada sobre a tram, não da nem para entender o que quiseram mostrar com isso.
Não é um livro onde o leitor vai gostar do protagonista,
de forma alguma. Mas a grande jogada, é como fica tudo mais interessante.
Eu não torci para ele se dar mal logo, eu só fiquei de olhos arregalados
pensando no que viria a seguir. O livro termina muito bem, e o final me
surpreendeu, esperava algo mais clichê e adorei.
Pelas coisas que achei inacreditáveis ele não me
ganhou completamente, mas a proposta é interessante, e com certeza irei atrás de outros
livros do autor para ler. Leiam!
Avaliação (1 a 5): 3,5