Por isso a gente acabou - Daniel Handler
>> segunda-feira, 12 de novembro de 2012
HANDLER, Daniel. Por isso a gente acabou. São Paulo: Editora Companhia das Letras,
2012. 266p. Título original: Why we broke up.
“Naquela
noite parecia que, ao acendê-los e jogar pelo telhado, os fósforos iam botar
fogo em tudo, as centelhas das pontas
das chamas queimando o mundo e todas as pessoas que existem nele de coração
partido. Fumaça que eu queria por tudo, na fumaça eu queria você, embora num filme isso não fosse
funcionar, efeitos demais, pomposo demais para como eu me sentia: tão diminuída e tão mal. Corte esse
incêndio do filme, não importa quanto eu assista nos copiões. Mas eu quero
assim mesmo, Ed, quero o que não tem
como acontecer, e foi por isso que a gente acabou.” p. 55
Daniel
Handler
é um autor famoso, sim, só que todos o conhecem sob o pseudônimo de Lemony Snicket, autor da famosa Desventuras
em série. Tem um motivo para ele publicar com dois nomes, o estilo dos
livros são completamente diferentes; e já começo o texto dizendo isso para que
você não leia este livro porque ama a outra série. Esclarecido isso rs, confira
a resenha de Por isso a gente acabou.
Min Green, apelido de Minerva -
nome dado pelo seu pai em homenagem a Deusa da sabedoria, é uma moça igual e
diferente como todo adolescente aos 16 anos. Como todo mundo ela se apaixonou
cegamente e como todo mundo... ela já teve o coração partido. Mas Min é também
bem peculiar, com seu gosto por filmes e músicas antigos, por sonhar em ser
diretora de cinema e por ter opiniões bem peculiares sobre tudo. E por saber se
expressar, por dizer o que pensa sempre. E Min, que é tão diferente das meninas
da escola, acaba caindo no velho clichê e se apaixonando pelo jogador popular
de futebol.
“-
Ninguém comeu, sem querer ofender.
-
Para de dizer sem querer ofender quando diz coisas que ofendem.
Você
não ganha permissão automática.” p.59
Ed
Slaterton
é lindo e popular, além de co-capitão do time de basquete da escola. Ed é como
todo garoto popular, tem fila de ex-namoradas e já saiu com metade das meninas
da Escola. Min é diferente de todas as meninas que ele já namorou, e ele não
sabe muito bem como lidar com ela. Claro que ela sabia quem ele era, mas eles se
conhecem de verdade é na festa de aniversário do Al, o melhor amigo de Min. Uma cerveja, um bate-papo e uma promessa
de uma ligação, um convite para sair. Ela fica toda empolgada, seus amigos mal
acreditam no que está acontecendo.
“–
Ficou brava comigo? – você perguntou.
–
Não, brava não – falei.
–
Viu, essa é outra coisa. Eu não sei falar. Você é diferente das garotas
normais, sem querer ofender, Min, ops, desculpa.
–
Como são as outras garotas? – perguntei. – Quando elas ficam bravas?
Você
suspirou e passou a mão como se fosse um boné que quisesse pôr ao contrario.
–
Bom, elas não me beijam que nem a gente faz. Na verdade, elas não me beijam de
jeito algum, mas quando ficam bravas param de falar e cruzam os braços, uma
coisa meio de beicinho, e vão ficar com as amigas.” p.59
E depois de poucas semanas de um namoro intenso
tudo acaba. E Min resolve entregar ao ex-namorado uma caixa repleta dos objetos
que ela foi guardando, coisas que significaram alguma coisa para o
relacionamento dos dois. Junto com a caixa Min deixa uma longa carta contando
tudo sobre eles, sempre contando mais uma razão para eles terem terminado. Como
ela mesmo define “todo suvenir de amor
que a gente tinha, os prêmios e os destroços dessa relação, que nem confete na
sarjeta depois que o desfile passa, o tudo e o não sei que mais chutado para o
meio-fio.”
E é acompanhando a historia de cada objeto que vamos descobrindo
tudo sobre este relacionamento, através do coração dilacerado de uma garota que
explica intensamente ao ex: Por isso a gente
acabou.
~~~~~~
Daniel Handler é um autor que consegue
transmitir através da narrativa um ar de inteligência, seu senso de humor
peculiar e bastante sagacidade. Embora as historias deste livro e de
Desventuras em série sejam bem diferentes como eu destaquei lá em cima, você
reconhece seu estilo. Um exemplo disso foi que durante todo o
livro a protagonista cita inúmeros filmes antigos, músicas e etc. e eu
estranhei de não reconhecer nenhuma das referências. Após a leitura não
resistindo e pesquisando sobre “Greta em fuga” – um dos filmes preferidos de
Min – eu fui descobrir que ele inventou todas as referências. E o autor explica
porque em uma entrevista
que concedeu para a Editora Cia. das Letras.
Achei muito legal o que ele disse e adorei a forma como o livro foi
construído.
A obra começa já contando, claro, que ela e Ed
terminaram e através dos objetos vamos sabendo tudo sobre o namoro desde o
início. As inúmeras ilustrações e o romantismo de Min, assim como a narrativa
tão diferente do comum me mantiveram grudada ao livro até o final, é um romance
bem diferente de tudo que a gente leu.
Claro que quando se fala da construção do texto,
porque a historia em si é bem comum. A garota diferente – chamada por Ed de “das
artes” – e o garoto popular que se apaixonam apesar de serem de tribos opostas na escola.
E o final, caminha para a tragédia. Nós estamos cansados de ler isso, ela é
muito inteligente e cheia de atitude, mas ele é lindo e tem um monte de meninas
sempre ao redor. É impossível não gostar de Min, mas desde o início eu não
simpatizei muito com Ed e só queria descobrir logo o que ele fez, embora já
desconfiasse rs.
Foi uma das leituras mais diferentes do ano, mas
eu não amei o livro de paixão. Acho que por não comprar o relacionamento e por
ter achado o final muito abrupto, eu queria saber mais, se alguém me falar que
tem uma continuação eu mudo a minha nota. Apesar que não parece ter muitas chances, na entrevista que falei acima perguntam para ele se não teria uma continuação escrita pelo ponto de vista do Ed e a resposta do autor é que "todos os pensamentos do Ed cabem em um post-it" hehe.
Embora seja um livro com adolescentes ele anda
encantando leitores de todas as idades e eu indico sem dúvida. Eu li cheia de
expectativa porque só tinha visto resenhas de quem amou o livro e acabei
esperando demais, mas é um livro que vale a pena ser lido.
Avaliação (1 a 5): 3.5