De infância e romances
>> segunda-feira, 12 de setembro de 2011
N’A manhã Seguinte Sempre Chega, Gabito Nunes escreve crônicas deliciosas que tem uma coisa em comum: a vontade de amar. Hoje, eu quero falar de outro tipo de amor.
Foi na quarta série, que minha professora de Literatura despertou em mim a paixão pela escrita. Não aprendi a escrever nas aulas de gramática, sabe por quê? Em geral, os professores desta disciplina não sabem o valor das palavras. A minha professora de Literatura sabia e me ensinou que a palavra é imensa, é reveladora. Mas, mais que isso, ela me deu motivo.
Toda aula, ela levava um poema infantil da Cecília Meireles. Nós líamos juntos e analisávamos palavra por palavra. No final, o exercício era o seguinte: em cima da métrica do poema da Cecília, nós tínhamos que escrever outro poema, trocando as rimas. Assim, ela escrevia:
“Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta”.
E o meu ficava:
“Eu sonho porque pra mim é brincadeira
e a minha vida tem esperança.
Não sou teimosa nem sou arteira:
sou criança”.
Simples, né? Mas, eu achava o máximo. Eu acreditava piamente que os poemas eram meus. Eu tinha motivo, entende? Mostrava o meu caderninho cheio desses poemas pra todas as pessoas que visitavam minha casa. Eu devia ter uns nove, dez anos e me achava a rainha da cocada preta, queria publicar meu caderninho para mostrar o tanto que eu sabia escrever. Aquilo era paixão.
Aí, um dia o jornal publicou umas poesias da Cecília, dizendo que ela era uma das mais importantes representantes da lírica em língua portuguesa. Mostrei a página do jornal pro meu pai: “Olha aí, pai. É ela, tá vendo? Eu escrevo do jeitinho que ela escreve. Tô feita!" Meu pai me olhou com calma e me disse: “Minha filha, ainda não. Deixa você crescer que aí, você vai entender. Seu pai não sabe como te explicar.” Eta, pai!!!
Bom seria se todos os professores tivessem condições de fazer o que a minha professora de Literatura fazia. Ainda lembro de uma carta dela me incentivando a escrever mais. Hoje, acredito que sei escrever mais ou menos direitinho, por causa dela – mas ainda não sei nada de gramática.