Virando a página
>> segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Emma e Dexter, em Um dia, formam o casal que poderia ter sido, mas não foi. Uma história do desencontro amoroso de duas pessoas que não se deram a menor chance. Mas, hoje eu quero falar das pessoas que se dão chances demais.
Tudo indica que é hora de parar, seguir em frente, trocar o disco, virar a página, passar a régua, jogar a toalha, mas elas continuam insistindo. Qual a hora certa de desistir? Não falo de sonhos, de desejos preciosos que não se concretizam, mas nos orientam na jornada. Falo de questões mais práticas.
Ao ouvirmos histórias de pessoas muito bem sucedidas, de jogadores de futebol a grandes cientistas, o retrospecto é sempre o mesmo: foram inúmeras as tentativas, muitos “nãos” recebidos, muitas decepções, até que chegou o dia da redenção e elas tiveram, enfim, seu talento reconhecido. Vestem a inteira expressão do conceito de determinação.
Imaginemos a luta de Marconi ao inventar o rádio e a de Graham Bell ao criar o telefone. Dos grandes navegadores ou aqueles que deram asas ao homem, como Santos Dumont e os Irmãos Grimm. Homens indomáveis, de uma determinação que chegava a parecer loucura.
Mas, e quando é óbvio (se é que pode ser óbvio) que a pessoa não tem talento para aquilo, ou que, naquele casal, um dos dois não está mesmo afim, não corre na mesma raia, ou que todo dinheiro da família já foi investido naquele projeto, cobradores batem à porta, e tá na cara que ele não tem nada pra dar certo? Qual é o momento certo de puxar o plugue da tomada?
Sempre fica aquela sensação de que, se não deu certo, é porque você ainda não fez tudo que deveria ter feito. Os mais apressados dirão que é preguiça ou comodismo. Mas, às vezes, desistir é a melhor coisa que você pode fazer. Seja num relacionamento, num emprego ou num empreendimento. Seja na tentativa de conquistar alguém ou alguma coisa.
O conselho presente em dez entre dez listas motivacionais “Nunca desista!” parece condição natural à vida dos “bem-sucedidos”. Estamos tão acostumados a este clichê, que nem nos damos conta de quando essa insistência passa do limite. Sim, porque deve haver um limite.
Há momentos para investir, para aguentar o tranco e ir adiante. Há grande valor nisso, na bravura, na persistência. E há momentos para brecar, para olhar a situação de cima e com serenidade decidir se vale à pena continuar ou não. Também há muito valor nisso. Admitir nossa “incompetência” em determinada empreitada não nos torna incompetentes inveterados.
A desistência nem sempre significa derrota. Muitas vezes ela pode representar grande vitória pessoal. Cair fora pode ser um ato de respeito a você mesmo. E, portanto, de sabedoria. Se você acha “desistir” uma palavra muito pesada, troque por “ceder”, que significa desistir de alguma coisa em favor de alguém, no caso você mesmo.