Nossas obsessões
>> segunda-feira, 27 de junho de 2011
Depois de conhecer as obsessões dos personagens de Os Ladrões de Cisne fiquei aqui pensando em qual seria a minha obsessão. Difícil isso. São raros os clássicos em minha vida. Ou talvez seja difícil enxergar as nossas próprias obsessões. Com ajuda de alguém seria mais fácil, quem sabe. Tateando pelos objetos mais comumente escolhidos, não consegui eleger nenhum. Sapatos, não. Bolsas, também não, duas já são suficientes para esquecer a chave de casa três vezes por semana. Livros, não, sou uma leitora habitual (se bem que em nosso país talvez não seja habitual). Chocolate, talvez seria, mas aí tem a balança, que também não chega a ser uma obsessão, mas...
E pensado talvez tenha chegado a uma resposta: tenho obsessão por uma boa história. Gosto de histórias, não de maledicência ou autopromoção. O que amo é uma boa história, se anônima melhor, real ou não, trágica, cômica ou dramática. De toda época e lugar, de paixão e ódio, aventura e vingança, medo e esperança.
As melhores histórias são aquelas que escuto fora do alcance da visão. Num restaurante, por exemplo, ou na poltrona de trás do avião. Numa boa trincheira, mal respiro. Bastam palavras para que se recrie a história, com cenários, trajes e trejeitos, os tipos humanos, seus sonhos e desejos.
Como o entreouvido entre duas moças no elevador: “Sabe a Lúcia? Descobriu que o marido comprou um lingerie e não era pra ela” “Nããão!” – chocou- se a outra. Quinto andar. É aqui que eu deveria descer. Desço? Volto de escada, faz bem pra saúde. “Era pro amante dele. Outro homem” – concluiu a primeira.
Nas caminhadas matinais, atravesso restos de sons que flutuam no ar, palavras soltas, pedaços de diálogos, frases curtas, exclamações. Junto as partes, decifro enigmas, puxo fios de possíveis histórias. Hoje mesmo, ao passar por duas mulheres, uma falando para a outra: “Depois de quatro anos de namoro, se apaixonou justo pelo pai dele!?” E se foram, me deixando louca de curiosidade pelo que dirá ao filho rejeitado, como viverá a nova paixão, que rumo dará à vida? Aflita, segui tecendo hipóteses sem fechar uma história.