Em Fogo Lento - Paula Hawkins

>>  segunda-feira, 8 de julho de 2024


HAWKINS, Paula. Em fogo lento. Rio de Janeiro: Editora Record, 2021. 336p. Título original: A slow fire burning.

"- Parece impossível, não parece? Pensar nisso agora, daqui - ela apontou para o cômodo feio ao redor-, que nós éramos todos tão felizes. Parece inimaginável. Toda aquela felicidade, destruída." p.221

Paula Hawkins ficou conhecida com o thriller, A garota no trem, que foi um sucesso de crítica e vendas. Eu não gostei tanto, mas algo na escrita da autora me intrigou, e li também Em águas sombrias. E agora, depois do seu terceiro livro e como fã de thrillers, posso dizer que não amo seus livros, mas continuo intrigada com seu estilo. Confiram o que achei de Em fogo lento.

Daniel Sutherland era um rapaz solteiro, bonito, um desenhista talentoso que morava em um barco, em um canal em Londres. Daniel é encontrado no barco, morto a facadas. 

Laura Kilbride é uma moça que passou por momentos difíceis, e tem alguns problemas em decorrência de um acidente na infância. Ela foi atropelada em sua bicicleta, além das muitas fraturas físicas, teve uma lesão na cabeça. Já adulta tem alguns problemas comportamentais, surtos incontroláveis de raiva, emoções descontroladas e pouca habilidade social. Filha única de pais divorciados, vive sozinha em péssimas condições financeiras. Laura passou a noite com Daniel, brigou com ele e é vista andando ensanguentada pelo canal. Suas péssimas habilidades em conversar, não ajudam em nada com a polícia. E mesmo alegando ter deixado Daniel bem vivo no barco, acaba se tornando a principal suspeita. 

Miriam Lewis é uma senhora solitária, que vive em um barco ao lado de onde estava o barco de Daniel. Ela é organizada, observadora e tem um certo interesse no assunto. É ela quem encontra o corpo, quem conta à polícia sobre Laura e sobre a visita de uma outra mulher, mais velha. Miriam também tem um passado traumático, na adolescência foi sequestrada com a melhor amiga quando pegaram uma carona, ela consegue fugir, mas a amiga não sobrevive. Ela escreve um livro contando sua história, e tem certeza que um autor famoso e reconhecido, roubou suas palavras e lançou um livro famoso. 

Carla Myerson é casada com Theo, embora oficialmente eles tenham se divorciado. Carla é irmã da falecida Angela, mãe de Daniel. Ela e a irmã tiveram o relacionamento destruído, depois do filhinho de Carla e Theo morrer em um acidente, quando estava sob os cuidados de Angela, que vive alcoolizada. O casamento nunca se recuperou, assim como nenhum dos dois. Carla tenta se reaproximar da irmã aos longos dos anos, e acaba ficando mais próxima do sobrinho. Eles parecem esconder algo. Theo, seu marido, é um autor  conhecido, que perdeu sua inspiração após a perda do filho. Apesar de tudo, Carla é a mulher de sua vida. 

Irene é uma senhora viúva, que vive sozinha. Sua casa é ao lado da casa da falecida Angela, elas se tornaram amigas.  Laura conhece Irene por acaso, e passa a ajudá-la com as compras de supermercado semanais e outras pequenas tarefas. Irene percebe que como idosa, é deixada de lado pela maioria das pessoas. Mas ela está lúcida, escuta e ouve muito bem. 

A tragédia fazia parte da vida dessas pessoas e algumas delas, podiam ser levadas, em um momento de loucura, à atitudes extremas e insanas. 

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E esse não foi diferente dos outros livros da Hawkins, um thriller que começa morno, onde quase todos os personagens são infelizes, perturbados e não despertam muita empatia no leitor. E ao mesmo tempo é intrigante, diferente e prende a atenção. Continuo não amando, confesso, mas continuo querendo ler todos hehe. 

A autora adora construir personagens perturbados, infelizes e na maioria das vezes, pessoas não muito boas. A exceção aqui foi Irene, uma senhora fofa, que dava vontade de proteger o tempo todo de todos os outros personagens. Irene é viúva, não teve filhos, e hoje tem algumas dificuldades de locomoção e acaba ficando sozinha em casa. Ela e Laura ficam próximas depois que Laura a ajuda na rua, mas Laura é uma moça que não parece ser muito confiável. Sem dinheiro, sem apoio dos pais, ela está sempre sem dinheiro e passando inúmeras dificuldades, uma delas, uma acusação de assassinato. E temos o casal destruído pela tragédia, Carla e Theo, nenhum dos dois despertou muita simpatia, mesmo dando para entender o comportamento deles, depois da perda do filho. E Miriam é outra personagem dúbia, ela tem também um passado traumático e não parece ser uma boa pessoa.  Em outros momentos, ela tenta ajudar, como faz com Laura. 

Daniel é outra incógnita. Ele é morto logo no início, então não ganha narrativa. Nós só sabemos sobre ele através do olhar dos outros personagens. Então até o final você não sabe do quê ele é culpado ou inocente. Ele cresceu solitário e perturbado, sendo criado apenas pela mãe alcoólatra. E era um mistério. Até o final do livro você não sabe se ele era um sociopata, ou um rapaz incompreendido. Eu voto na sociopatia, mas a autora deixa algumas questões propositais em aberto, para que o leitor tenha a sua própria opinião. A mesma coisa acontece com o caráter de Laura e Miriam, muita coisa fica no ar no final. 

O final foi interessante, eu acertei o "quem matou", mas o que parece óbvio aqui, gera muitas controvérsias. Eu gostei da forma como a autora construiu o final e até das questões em aberto, algo que normalmente não gosto em livro algum. [ALERTA DE SPOILERS] Desde o início eu não achava que Laura fosse culpada, ela era muito mais uma pessoa sem noção e com problemas sociais, do que alguém maldoso ou cruel. E eu desconfiei desde o começo que Daniel tinha matado o priminho, e que não tinha sido um acidente. E por isso desconfiava de Carla, já que ela esteve no barco. E imaginei que Theo sabia e só queria protegê-la. Aí vem o final e realmente ela matou, mas Theo queria proteger outro segredo, algo que eu nem acho que era verdade. Agora, não temos uma resposta para a inocência ou não de Daniel. Ele era um sociopata? A atitude dele com Paula, que humilha a moça por uma deficiência na perna depois de dormir com ela, me fez acreditar que sim. Mas Carla baseia tudo em um quadrinhos que ele desenhou, mas isso foi verdade ou apenas a mente de uma pessoa perturbada? Ele realmente tinha um interesse sexual na tia ou foi apenas um desenho? Várias perguntas em aberto que ao final levam a uma única questão: Ele merecia morrer? Ou era apenas um homem solitário que fez escolhas ruins e foi injustiçado?[FIM DOS SPOILERS]

Como todos os livros da autora, cheio de idas e vindas, uma linha temporal confusa e um final sem grandes surpresas. E como todos os livros dela, personagens que me intrigam e uma história que foge do comum. Leiam!

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Avaliação (1 a 5): 3.5

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