Harry Potter e a Pedra Filosofal – JK Rowling

>>  sexta-feira, 3 de março de 2023

ROWLING, J.K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2000. 224p. Título original: Harry Potter and the philosopher’s stone. (Harry Potter, V.1).
 
Existem alguns livros muito difíceis de resenhar. Não pela história, pelo enredo ou pelo contexto, mas sim pelo significado e importância que adquire em nossas vidas e trajetória como leitores. Hoje resenho um desses livros, um que não sei nem se posso chamar de clássico e com certeza o maior fenômeno que já vivenciei. É um livro que definitivamente mudou a minha vida e continua fazendo parte dela, e sei que é assim para várias outras pessoas, em escala ainda maior. A Nanda e a Evelyn certamente entendem essa minha afeição e a responsabilidade que é falar sobre uma obra tão querida e que acompanha todas nós. Mas acho que o momento é ideal para escrever esse texto e compartilhar um pouco da minha história com a saga Harry Potter.
 
Como já compartilhei com vocês, em setembro me mudei para Edimburgo, a capital da Escócia, para cursar um mestrado como bolsista Chevening (e vocês podem ler sobre essa caminhada AQUI). Desde então, foram vários casos, histórias inesquecíveis e uma trajetória de quase 6 meses que mais parece 6 anos. Quando o resultado foi divulgado, eu me prometi registrar todos os detalhes em forma de texto, compartilhando alguns com vocês aqui no blog, em uma maneira de imortalizar a minha experiência e jamais esquecer o que estou vivendo. É, isso não foi possível! A demanda de fazer um mestrado em tempo integral e viver a experiência nas horas vagas infelizmente tomou todo meu tempo, inclusive aquele destinado a leituras. Além disso, hoje tenho uma visão um pouco diferente da que tinha antes de chegar aqui: eu não preciso escrever sobre algo, registrar com palavras para que ele seja eternizado. Não quero fazer diários de viagens do jeito tradicional, escrevendo sobre tudo que acontece. Essa não sou eu e jamais foi. O que é a minha cara é ligar as experiências vividas com as leituras ao longo do caminho. Já falei muito aqui sobre o turismo literário e honestamente as minhas resenhas favoritas são aquelas que ligam viagens a livros lidos (vide Jane Eyre e Hamlet).
 
Então como marcar os primeiros meses em Edimburgo? Muitos são os autores escoceses e as obras icônicas da cidade (e algumas já estão me esperando para serem devidamente devoradas). Tentei criar esse laço com as minhas experiências e a cidade com “O Cão dos Baskerville”, de Arthur Conan Doyle (cuja resenha vocês conferem AQUI), mas faltava algo mais... pessoal. Foi então que um dia, conversando com uma amiga, descobri algo que estava o tempo todo bem na minha frente: Edimburgo, mais que qualquer outra cidade do mundo, é o melhor lugar para se ler e (re)viver a saga Harry Potter. E é isso que vou fazer agora com vocês, relendo os livros e comentando com esse novo olhar.
 
J.K. Rowling escreveu a saga do bruxo órfão na cidade. Os primeiros livros, ainda no anonimato, foram escritos em cafés ao redor da cidade, após passeios que serviram de inspiração para diversas localidades, personagens e passagens. Diz a lenda que a famosa Victoria Street foi a inspiração para o Beco Diagonal, e que o centro da cidade é o que a fez pensar na vila fictícia de Hogsmeade, entre outras lendas e cenários que lotam a cidade com fãs dos livros e/ou filmes e dão emprego a diversos guias fantasiados de bruxo mostrando os todos os cantinhos e contando todos os detalhes. E eu também posso viver essa experiência turística na minha cidade, visitando todas essas localidades e descobrindo esses tesouros enquanto revivo a história, um grande prazer proporcionado pelo audiolivro (e falo mais sobre isso AQUI).
 
Minha história com a saga vem dos livros, não dos filmes. Harry Potter e a Pedra Filosofal começou a ser escrito em 1990 e foi publicado na Inglaterra e nos Estados Unidos em 1997 para ser uma imediata sensação literária como a muito tempo não se via. No Brasil, o livro chegou às prateleiras em 2000 pela editora Rocco e para sempre marcou uma geração. Foi meu caso. Na verdade, comecei a leitura nos livros com o lançamento do terceiro volume, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”. Na época, peguei os dois primeiros livros emprestados com uma amiga da minha irmã para ficar por dentro de tudo o que todos falavam. Fui fisgada como nunca, e fiz questão de me dedicar às aulas de inglês para conseguir ser o quarto livro, “Harry Potter e o Cálice de Fogo” em inglês, para não perder os preciosos meses de espera da versão em português. Harry Potter me apresentou à língua inglesa e a cultura britânica de um jeito mais profundo, e certamente foi a faísca inicial que desencadeou acontecimentos que me fizeram estar aqui hoje.
 
Em 2016 resolvi reler os livros, mas minha tarefa foi interrompida no quarto livro para dar prioridade a outros livros inéditos. Mas a hora é certa de me reencontrar com o mundo dos bruxos, escutar e ler as passagens nas ruas e nos cafés onde elas surgiram e, assim, imortalizar a minha experiência aqui. Nesse sentido, “Harry Potter e a Pedra Filosofal” é ainda mais especial do que quando o li pela primeira vez, lá em 2001.
 
A história nos apresenta à Harry Potter, um jovem órfão que mora com seus tios e seu primo num armário de vassouras em Little Whinging, no subúrbio de Londres. Coisas estranhas sempre acontecem com ele, mesmo sem querer, mas nada que o tire de sua vida infeliz e sem esperanças com sua peculiar aparência de cabelos pretos bagunçados e cicatriz em forma de raio na testa, levemente escondida por seus óculos quebrados. Quer dizer, até o seu aniversário de 11 anos. Nesse dia, Harry (e o leitor) faz a incrível descoberta de que na verdade ele é um bruxo, matriculado em Hogwarts, talvez a maior escola de bruxos do mundo. E, na verdade, ele é uma das figuras mais famosas desse novo mundo que vamos desbravando ao mesmo tempo que ele, agora com seus amigos Hermione Granger e Ron Weasley.
 
Não acho que preciso falar muito da história, mas sim dessa nova percepção do livro com a releitura. E são boas notícias: não esperava aproveitar tanto a leitura quanto o fiz. É arriscado reler obras favoritas, pois as novas condições trazem experiências completamente diferentes. No caso de “Harry Potter e a Pedra Filosofal”, a diferença é que não sou mais uma adolescente descobrindo esse mundo, mas uma adulta admirando o poder de uma história muito bem contada e tecida. O livro é surpreendentemente curto para o tanto de conteúdo que possui. Os capítulos são muito bem editados e planejados para não enrolar, trazendo em palavras belissimamente descritivas conceitos que são 100% aproveitados. Não há uma palavra, uma vírgula, um pensamento colocado em vão. Os primeiros capítulos da obra são sensacionais. Em poucas páginas eu já sentia tanto amor e carinho por Harry e sua difícil vida, já completamente encantada pelas possibilidades do mundo mágico e os mistérios que ele traz.
 
Mas o que mais me surpreendeu foi a linguagem usada. Para um livro infanto juvenil, foram escolhidas palavras robustas e difíceis, que tecem uma narrativa fluida e bela, sem cair na condescendência de facilitar a linguagem para atingir o público-alvo. Me parece que a estratégia de escrita escolhida foi a de “venha aprender um novo mundo, um novo personagem e novas palavras”. A escolha por sair do lugar comum e desafiar o leitor é ousada e eu tenho que parabenizar. Não lembrava dessa característica e fiquei muito impressionada e feliz por ter tomado essa decisão.
 
Antes não pensava nesse livro como um dos melhores da série. Todos temos nossos favoritos pessoais e quase nunca é “A Pedra Filosofal”. Hoje digo que isso é injusto, pois esse livro tem a hercúlea tarefa de introduzir personagens e um novo mundo que seguirá por outros seis livros, e o faz de um jeito único, diferente, fantasioso e especial. É o início ideal e primoroso para uma saga mágica em todos os sentidos da palavra.
 
E agora, para mim, é ainda mais perfeito. Simplesmente perfeito. Em 2001 e em 2023.
 
Até a próxima!
 
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Série Harry Potter:
  1. Harry Potter e a Pedra Filosofal (30/06/1997)
  2. Harry Potter e a Câmara Secreta (02/07/1998)
  3. Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (08/07/1999)
  4. Harry Potter e o Cálice de Fogo (08/07/2000)
  5. Harry Potter e a Ordem da Fênix (21/06/2003)
  6. Harry Potter e o Enigma do Príncipe (16/07/2005)
  7. Harry Potter e as Relíquias da Morte (21/07/2007).

Avaliação (1 a 5):

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