O Diário de Anne Frank - Anne Frank
>> sexta-feira, 28 de outubro de 2022
FRANK, Anne. O diário de Anne Frank. 94ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2022. 416p. Título original: The Diary of a Young Girl.
"O mundo vai continuar girando sem mim, e não posso fazer nada para mudar os acontecimentos. Vou deixar que as coisas sigam o seu rumo e me concentrar no estudo e na esperança de que tudo acabe bem." p.228
O diário de Anne Frank foi um daqueles livros que eu amei na adolescência, reli algumas vezes e carreguei para a vida. É impossível não se emocionar com essa história, infelizmente tão real. Este ano tive a oportunidade de conhecer a Casa Anne Frank em Amsterdã, onde até hoje existe o esconderijo original da família Frank e dos outros judeus que passaram dois anos escondidos ali. Durante essa experiência eu estava relendo o livro e hoje conto para vocês um pouco desta história.
Anne Frank tinha apenas 13 anos quando começou a escrever seu diário. Ela tinha grandes sonhos para uma menina tão nova. Sonhava em escrever, em ser jornalista, em ter suas palavras lidas por muitas pessoas. Ela sonhava em nunca ser esquecida. Aquela criança inteligente, iluminada e tão cheia de questionamentos, sonhos e planos teve sua vida moldada em apenas uma característica: ser judia. Ser judia em plena Segunda Guerra Mundial, quando Hitler invadiu a Holanda.
Anne ganhou o diário como um dos seus muitos presentes de aniversário. Em 1942 ela era uma criança privilegiada e protegida, que não fazia ideia do que vinha a seguir. Ela precisou mudar de escola, os judeus já sofriam várias restrições, mas como a família tinha boas condições, ela acreditava que tudo acabaria logo. E reclamava de ter que andar longas distâncias a pé ou de bicicleta (nessa época os judeus não podiam mais pegar ônibus) ou de não poder ir ao cinema (os judeus foram proibidos de frequentar locais públicos de entretenimento). Até que em julho de 1942, tudo mudou. Sua irmã mais velha, Margot, recebeu uma notificação da SS para se apresentar, eles precisavam fugir, e rápido.
O pai trabalhava em um escritório com bons amigos e há algum tempo se preparava para este momento. No alto do prédio, atrás de um armário falso, eles construíram um apartamento secreto completo. Mobiliaram, armazenaram alimentos, tentaram se antecipar. E quando o dia chegou. Anne, Margot, seu pai, Otto Frank e sua mãe, Edith foram escondidos para lá. Outra família se junto a eles, Hermann e Auguste Van Pels e o filho adolescente do casal, Peter (no livro são chamados de Hermann e Petronella Van Dann, Peter Van Danm) Fritz Pfeffer (Albert Dussel no livro), um dentista, se juntou a eles posteriormente e completou o grupo de oito pessoas.
Eram oito pessoas presas em um apartamento minúsculo, eles dividiam tudo. Quartos pequenos, o local para tomar banho, a comida e as tarefas domésticas. No começo tentavam se ocupar, mente e corpo. Faziam exercícios, os adolescentes estudavam, faziam cursos por correspondência, comemoravam aniversários, faziam tudo para parecer um dia "normal". Ao mesmo tempo ficavam em silêncio durante todo o dia (quando tinha gente trabalhando no escritório e no galpão ao lado), não podiam abrir janelas, ou acender luzes à noite, etc. Os amigos do escritório se revezavam para tornar aquilo possível. Levavam comida, trocavam dinheiro por vales, visitavam a família e levavam tudo o que pudessem como livros, cursos por correspondência, etc.
"O papel tem mais paciência do que as pessoas". Anne logo se tornou, ou acreditava ser, a mais difícil de se conviver. Ela estava no início da adolescência e com isso, todos os dramas e emoções de uma moça nessa idade. Em seu diário ela desabafa sobre tudo, reclama muito da mãe, tem brigas com a irmã. Fala que nunca consegue ficar calada e todos brigam com ela. Até que tempos depois, Anne vê em Peter um amigo, e talvez, seu primeiro amor.
A família ficou escondida por mais de 2 anos, até que em agosto de 1944 Anne escreve pela última vez no diário. A polícia nazista invade o esconderijo, todos são levados, o diário fica para trás. E posteriormente, se torna um dos relatos mais tristes e emocionantes do sofrimento dos judeus durante a guerra.
"Não quero que minha vida tenha passado em vão, como a da maioria das pessoas. Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim!" p.306
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Na sinopse, na primeira página... em todo lugar já conta o final dessa história real e trágica. Mas mesmo sabendo o que vai acontecer, o futuro de cada uma daquelas oito pessoas, o leitor torce para elas do início ao fim. E se emociona, muito, o tempo todo. Cada frase de Anne, tão ingênua e tão cheia de esperanças, é de partir o coração. E eu reli esse livro como se fosse a primeira vez, e amei, mais uma vez.
Anne Frank é uma leitura necessária. Suas passagens tão tristes quando pensamos no "depois" são também muito cheias de esperança e de vida. Anne Frank sonhava com o depois da guerra, com sua volta ao mundo "normal". Sonhava em ser jornalista e que suas palavras vivessem para sempre. Ela queria tocar o coração das pessoas. É incrível que mesmo ela não estando viva para ver, o seu livro fez mais do que ela jamais sonhou. Seu livro lançado originalmente em 1947 foi lido por milhões de pessoas, foi lançado e relançado em inúmeros países, várias vezes. Os lucros de sua obra vão para a Anne Frank Founds, a instituição criada por seu pai, que junto com a Casa Anne Frank tem seus lucros direcionados para os direitos da infância, a maior parte das doações vai para a UNICEF. Anne salva vidas diariamente, emociona pessoas diariamente. E eu estou mais uma vez em prantos escrevendo esse texto, depois de chorar horrores lendo e mais ainda na visita à Casa Anne Frank.
Na Casa Anne Frank é proibido tirar fotos, então só tenho um registro do lado de fora do local. Mas é impossível não ficar tocado. Você sabe as escadas do escritório, para pela falsa estante e entra no esconderijo, sobe mais escadas. E vai em cada cômodo, alguns ainda mobiliados. Enquanto isso, um áudio narra a história da família e recita algumas passagens desse livro. Ao final de tudo, temos o depoimento do único sobrevivente, pai de Anne, e do que aconteceu com eles e com os amigos que os ajudaram. É algo pesado, triste, indescritível.
Falando agora do diário em si, se você tira tudo o que envolve aquela história, são apenas pensamentos de uma menina no início da adolescência. Tem partes chatas, repetitivas, Anne sendo birrenta e teimosa. Passagens que me davam preguiça do tanto que ela só reclamava de todos. Outras engraçadas, pensamentos profundos, até bem precoces que para alguém tão jovem. É um diário que fala do dia a dia em um esconderijo, com seus altos e baixos. E no fim, mais uma vez, eu queria mudar o final...
Esse é um livro que todo mundo deve ler! Eu comprei essa edição nova porque não resisti a esta capa linda, acolchoada, com fotografias e o texto integral de Anne (alguns trechos editados por ela mesmo revisando o início algum tempo depois). Várias edições tem o texto condensado, uma versão resumida e mais "romantizada". Aqui é o original completo, traduzido do texto original de Anne.
Espero que vocês leiam, e que toque o coração de vocês também.
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