O post de hoje é um sonho
antigo, algo que há alguns anos venho lutando para conquistar e que hoje
finalmente consigo compartilhar com vocês, após ter certeza de que isso era
real e algo que posso aproveitar e curtir. E, claro, como já faz parte de quem
eu sou e quem quero ser, algo para escrever sobre e compartilhar com vocês.
O sonho de bater as asas por
outros países é antigo, e algo que venho correndo atrás faz tempo. Ao longo da
minha vida tive algumas oportunidades de viajar, seja turismo, estudo ou
trabalho, mas nunca algo permanente. Não estou reclamando – tenho completa
noção do meu privilégio e da minha sorte. Mas mesmo assim, todas as experiências
eram muito curtas para a vivência imersiva que a minha alma sagitariana curiosa
ansiava. E agora, lá para os meios dos meus 30 anos, na idade que algumas
pessoas decidem formar raízes e acalmar, eu resolvi finalmente arriscar e
ousar, e quem sabe começar tudo do zero. E foi uma caminhada longa... Acho que começou quando eu tinha
aproximadamente 6 anos de idade. Mineira de Belo Horizonte, era aluna do finado
Izabela Hendrix, ali no miolo do Lourdes. Sempre muito criativa, peculiar,
exagerada e sonhadora, um dia simplesmente coloquei na minha cabeça que estava
de mudança para a Inglaterra. A razão ao certo ninguém jamais saberá. Pode ser
influência do meu pai, que algumas décadas antes visitara o país. Pode também
ser devido a um consumo nada moderado de Mary Poppins, ou ao fantástico “Matilda”
de Roald Dahl (o livro, o filme veio alguns anos antes, uma adaptação que
sempre adorei e tenho no coração). Veja bem, isso era ainda no início da década
de 1990 (eis que uma Millennial vos escreve), então não estou falando da influência
de Spice Girls e Harry Potter. Fato é que a cultura britânica sempre vem forte
para nós, e me pegou de um jeito. Jeito o suficiente para decidir que eu ia me
mudar e precisava avisar a diretoria da escola. Assustada, a diretora chamou meus
pais e exigiu explicações da mudança repentina e sem aviso, assim do nada no
meio do ano escolar. Foi a primeira de muitas (muitas) vezes que a coitada da
minha mãe precisou explicar para o público externo a cabeça peculiar de sua
filha. Uma cabeça criativa, curiosa, mas muito determinada. Eu não me esqueço
disso e jamais esquecerei. E hoje, quase 30 anos depois, o sonho daquela pequena
Alice, talvez em uma das suas primeiras grandes viagens e divagações foi conquistado. Escrevo esse texto hoje
diretamente de Edimburgo, a capital da Escócia, onde oficialmente sou aluna de
mestrado da prestigiadíssima Universidade de Edimburgo, uma instituição que
aqui está desde 1583, filiada à 19 prêmios Nobel, a casa da ovelha Dolly, e uma
das maiores universidades de Direito do mundo, referência absoluta na minha
área de estudo. Escrevo isso olhando à direita a vista da minha janela, que pega
o topo do Arthur’s Seat, uma colina de origem vulcânica que abraça essa cidade
medieval, a segunda mais visitada em todo o Reino Unido. Alguns metros ao sul
está o Palácio de Holyrood, onde há apenas alguns dias, o caixão da Rainha Elizabeth
II chegava após falecer na residência real de Balmoral, um pouco ao norte da
cidade. Poucos minutos na direção contrária, encontro museus em homenagens a
escritores e pensadores que apenas li sobre. E como li. Até agora, ler era a minha
saída quando me encontrava em uma claustrofobia mental. Quando as circunstâncias
da vida me impediam de respirar outros ares. E sempre que consegui, eu alcei
voo, sempre ligando a alguma experiência como leitora e deixando a viagem ainda
mais marcada na minha memória. Por exemplo, temos as resenhas de Hamlet,
Dracula, Tess Dos U’bervilles, Jane Eyre e Os Vestígios do Dia para mostrar
como o ler + viajar é importante para mim (clique no título do livro para ler a
resenha e conhecer um pouco mais sobre a Inglaterra e seus autores). E agora, eu
posso voltar a ser uma leitora viajante, explorando outro cantinho da Grã
Bretanha: a Escócia! E tenho tudo a agradecer ao programa de bolsas Chevening,
do governo britânico. Descobri a bolsa Chevening em
2019, em uma feira universitária em São Paulo. Na época, tinha acabado de
retornar de uma temporada de 4 meses na Inglaterra (a que escrevo sobre nas
resenhas listadas acima) e estava ansiosa para ter uma experiência mais
permanente. Além disso, o momento profissional justificava uma volta à academia,
para atualizar os estudos e preparar para as mudanças de um mercado
extremamente dinâmico. A princípio, pensei que eu jamais conseguiria a bolsa. Eram
muitos problemas, na minha mente: era muito velha, seria muito desgastante,
seria custoso e eu provavelmente receberia um não. Veja, o medo da reprovação
já me barrou algumas vezes, e me barrou ao fazer pensar que eu jamais seria
capaz de conseguir uma bolsa prestigiosa promovida pelo governo britânico. Mas
na pandemia, isso mudou. Acho que foi o medo geral e
todas as incertezas, aliado ao fato de ficar trancada em casa. Eu sou uma
pessoa muito caseira e na maior parte do tempo estou entre 4 paredes, mas a pandemia
me fez ver que eu estava desperdiçando meu tempo ao não dar vazão ao meu
potencial e superar medos. Então resolvi me inscrever para o Chevening em outubro
de 2020. As inscrições terminariam em 2 semanas, e eu dei o meu melhor. Suei,
ralei, preparei 110% do que conseguia entregar. E não foi suficiente. Não fui
chamada para a entrevista. Mas agora estava picada pelo mosquitinho da
determinação e nada ia me parar. O Chevening nos dá essa oportunidade: um
programa sem limite de idade, sem especificação de área de formação, universal,
que permite quantas tentativas a que o candidato queira se submeter. E eu me
submeteria até conseguir. Em 2021, respirei fundo e
entreguei mais do que achei ser capaz. Repensei a candidatura, pedi opinião de
bolsistas passados, coloquei a cara a tapa e arrisquei. Deu certo, quando fui
aprovada para a entrevista. Depois disso, mais uma etapa de preparação
incansável, depois uma espera interminável. Até que no dia 28 de junho de 2022
recebi o email que sonhava desde outubro de 2020, aquele que começa com a frase
“we are delighted to inform you”. A bolsa era minha e de outras 46 pessoas
brasileiras incríveis, que hoje são a minha família brasileira, espalhada por
todo o Reino Unido. Eu escolhi vir para Edimburgo, a melhor universidade para a
minha propensão de estudos e de carreira. Mas tenho uma rede de apoio por toda
essa nação! Eu tenho muito a agradecer e a
certeza de muito trabalho árduo envolvido. Mas esse post é para celebrar a
Alice de 6 anos de idade, na sua primeira viagem imaginária. É para celebrar o
fato daquela Alice ter encontrado a escrita para dar vazão à imaginação, e hoje
ter os livros para se distrair e algo a mais para amar. Um vento fresco quando
as coisas ficarem muito apertadas, um guia para futuras viagens, um caso de
amor que só ganha força e cumplicidade com o passar do tempo. Por essa razão, vou aparecer menos por aqui. Agora sou
estudante de mestrado, 10 anos após ter saído do mundo acadêmico e tenho que me dedicar e fazer jus ao prêmio que recebi. Mas não vou sumir. Preciso continuar dando
vazão aos meus pensamentos, às minhas leituras. É uma questão de honra (e de
saúde mental) não perder essa faceta da minha vida. Definitivamente lerei menos, mas sempre que possível
terei um livro ao meu lado, e viagens para compartilhar. Estou especialmente
empolgada para conhecer autores escoceses ou continuar a ler alguns celebrados,
como Arthur Conan Doyle, cuja coleção Sherlock Holmes eu já comecei a resenhar
e espero terminar no meu tempo aqui, em sua cidade natal (Leia as resenhas disponíveis
clicando AQUI). Sempre que possível, voltarei aqui nessa coluna, a minha “Viagens
da Alice”, dessa vez com uma viagem literal. Espero conseguir compartilhar tudo
isso com vocês. Vamos? #mycheveninghjourney
Blog literário criado exclusivamente para divulgação e incentivo à leitura por meio das resenhas dos livros lidos por mim, Fernanda, e pelas duas outras colunistas, Alice e Evelyn. O blog não tem nenhuma relação com o projeto de leitura intitulado "Viagem Literária".
"Livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Livros só mudam as pessoas ." (Mario Quintana)